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OPINIÃO

As oportunidades verdes

Brasil, deitado em berço esplêndido, fica numa indiferença perturbadora

Por Vittorio Medioli

Publicado em 28 de abril de 2024 | 09:27

 
 
Vegetação da Floresta Amazônica Vegetação da Floresta Amazônica Foto: Freepik/Reprodução
Vittorio Medioli
Colunista de Opinião
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Vittorio Medioli Vittorio Medioli
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Enquanto os governos de países mais ou menos desenvolvidos correm atrás de energias renováveis, o Brasil, deitado em berço esplêndido, fica numa indiferença perturbadora. Ainda não se ligou. 

Perde-se nisso a oportunidade, ao alcance do nosso país, de vender ao mundo um Brasil pujante, exemplar, moderno, maduro, participativo, excelente.

Aqui, infelizmente, o “poder” constituído é um tanto atrasado, pequeno e indiferente à tragédia mundial, à obrigação de preservação do planeta e ao papel que a natureza lhe atribui.

Perdem-se oportunidades de progresso, de expansão virtuosa da economia, de desenvolvimento, de empregos, de atração de positividades e créditos para cobrar dos demais países as realizações que a eles já se tornaram árduas ou simplesmente impossíveis. 

Usa-se a ladainha de que os outros países não preservaram, de que ocuparam predatoriamente seu território, enquanto aqui se desmata e se queima a Amazônia, abandonando uma “Europa” de terras degradadas e próprias para a agricultura.

Ainda bem que existe uma parte da humanidade que assume espontaneamente as atribuições das quais se abdicou o poder público incompetente. Implanta usinas de energia eólica não por uma razão de filantropia, mas pelas vantagens econômicas que se vislumbram na economia verde de longo prazo. Assim, as coisas avançam com o formato “colcha de retalhos”, não com um plano nacional consciente e apresentável. Não como a iniciativa de uma nação consciente, evoluída e generosa.

O governo brasileiro inventou ministérios para “tudo”, até assuntos desfocados e incoerentes com as prioridades do momento. Elevam-se umas finalidades secundárias de justiça e desenvolvimento social ao vértice de prioridade ministerial, que se confunde mais com moeda para pagar aliados “desempregados”.

A limitação das emissões poluentes, a preservação da biodiversidade, o uso racional dos recursos minerais e das águas, a economia circular, o reciclável, enfim, os cuidados fundamentais que atendem à sustentabilidade do planeta, são ignorados. A preservação de um clima favorável à qualidade de vida das espécies, acima de tudo a humana – a grande preocupação dos nossos tempos –, fica apenas nos discursos escritos por assessores ou no boné que acena ao que abaixo dele não existe.

Alguém lembra o nome de um político de primeira linha que possa expressar com conhecimento e termos apropriados uma defesa do planeta? Quando o fazem, é de maneira inapropriada. 

Podem enganar muitos, mas não quem desenvolveu uma consciência que o fez adentrar seriamente nos processos de sustentabilidade, como é dever de quem assumiu o vértice das decisões.

As atrocidades que passam pela negação já estão fora da moda. Exige-se agora o apontamento de vias corretas para preservar, sem impedir o desenvolvimento e a saciedade da fome e dos desejos da humanidade.  

Infelizmente, a ignorância e as atrocidades interesseiras geram apenas conflitos que uma competente, moderada e madura visão do problema poderia superar. 

A humanidade brasileira chegará um dia a reconhecer quanto tempo e quantas coisas boas perdeu.