RECUPERAÇÃO

Narcóticos Anônimos ajuda a restabelecer vidas de dependentes químicos

Em Betim, são oito salas de reuniões acolhendo, por dia, de forma gratuita e sigilosa, os adictos em recuperação; saiba mais

Por Lisley Alvarenga


Publicado em 04 de outubro de 2024 | 13:32
 
 
No Brasil, a Rede SUS registrou, somente em 2021, 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool

O primeiro contato de Anderson* com as drogas foi aos 12 anos. Com dificuldades para interagir com outras pessoas, ele encontrou no uso dos entorpecentes uma maneira de ser “aceito” na sociedade. No começo, consumia álcool e fumava maconha de forma esporádica. No entanto, com o passar do tempo, esse uso foi progredindo, e ele também aumentou a variedade de substâncias tanto lícitas quanto ilícitas. Quando menos percebeu, Anderson “estava vivendo pra usar drogas”. “Busquei diversos profissionais e clínicas de reabilitação e também várias religiões. Iniciei uma jornada para tentar não sofrer, mas, na verdade, eu não queria parar de usar”, recorda-se. 

O pontapé para uma transformação efetiva dentro da triste realidade que Anderson viveu na época, o que gerou na vida dele apenas degradação, humilhação e sofrimento, ocorreu quando ele conheceu o Narcóticos Anônimos. “No grupo, descobri que eu era portador de adição (hábito compulsivo de consumir drogas, alucinógenos, substâncias de ação psíquica etc.). Para poder me recuperar de vez, entendi que precisava me abster de todas as substâncias que alteram meu ânimo, minha mente e meu humor. No Narcóticos, por meio da ajuda dos companheiros que participam do grupo, conheci pessoas que passaram o mesmo que eu, mas que estavam se recuperando, que estavam limpas e que tinham suas vidas restabelecidas”, revelou. 

Assim como Anderson, milhares de dependentes químicos encontraram nas reuniões promovidas diariamente pelos grupos do Narcóticos Anônimos espalhados pelo mundo um auxílio para superar os transtornos resultantes do uso de drogas. Em Betim, são oito salas de reuniões acolhendo, por dia, de forma gratuita e sigilosa, os adictos em recuperação.

Secretário do subcomitê de relações públicas do Narcóticos Anônimos em Betim, Paulo* frisa que todas as pessoas que têm ou que pensam ter problemas com drogas são bem-vindas ao grupo de acolhimento, podendo parar a qualquer momento e também retornar quando quiserem.

“O único requisito para ser membro é ter o desejo de parar de usar. Não somos filiados a nenhuma outra organização, grupo político, religioso ou policial. Não temos matrícula nem taxas e, em nenhum momento, estamos sob vigilância. Não estamos interessados no que ou no quanto a pessoa usou, quais eram seus contatos, o que fez no passado. Só nos interessa o que quer fazer a respeito do seu problema e como podemos ajudá-la”, salienta Paulo ao convidar os dependentes químicos de Betim a participarem das reuniões. 

O uso abusivo e a dependência de substâncias químicas é um problema global. No Brasil, em 2021, o SUS registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool. O número mostra um aumento de 12% em relação a 2020, com 356 mil registros. 

Rede SUS municipal também tem acolhimento aos dependentes químicos

O SUS Betim também oferece, por meio da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), acolhimento e cuidado para as pessoas em vivência de um sofrimento mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso prejudicial de craque, álcool e outras drogas. O atendimento é realizado de forma gratuita e contínua, considerando a singularidade de cada pessoa. A Raps Betim é composta pelas Unidades Básicas de Saúde, pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), pelos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams), pelas UPAs, pelo Hospital Regional, pelo Samu e pelo centro de convivência.

Os equipamentos da Raps com clínicas voltadas especialmente para o acolhimento de usuários de substâncias psicoativas são: o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (Caps AD), para os adultos, e o Centro de Referência em Saúde Mental Infantil (Cersami), para crianças e adolescentes. “A partir da complexidade do relato do usuário, é construído um plano de cuidados para a pessoa, que pode contemplar as unidades da Raps, bem como outros serviços do município, como as equipes dos Cras e dos Creas, entre outros”, explica a gerente da Divisão da Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Carolina Guimarães de Castro.

*Nomes fictícios para preservar as fontes.