Mesmo com muitos mitos, verdades e inseguranças, o número de mulheres que se tornam mães depois dos 40 anos vem crescendo. Segundo o Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos do Ministério da Saúde, o Brasil atingiu a marca de 106.534 nascimentos de filhos de mães com 40 anos ou mais em 2022, quase o dobro (78,05%) em comparação com o início do século (59.833 em 2001).
Minas Gerais segue a tendência do país. Em 2022, houve 10.980 partos de mães com 40 anos ou mais, enquanto em 2001 foram 6.133, um salto de 79,03%. O crescimento ocorre na contramão das demais faixas etárias, em que tem diminuído o número de nascimentos – a maior queda de 2001 para 2022 foi entre garotas de 14 a 19 anos (-56,77%), seguida pelo grupo de 20 a 24 anos (-36,62%).
Os números de Betim também mostram que o aumento de mulheres que foram mães na faixa dos 40 foi de 198% entre 2001 e 2022, de acordo com o Ministério da Saúde.
“Há uma mudança cultural da sociedade. Antigamente, era natural sair da escola ou faculdade e já constituir família. As mulheres idealizavam o perfil do marido e a maternidade. Hoje em dia ninguém faz isso. A mulher tem objetivos em relação a ela mesma: ‘Eu vou me formar, morar em outro lugar, estudar outra língua’. A mulher tem uma vida para cumprir, independentemente de ser mãe”, explicou Rita Amaral, médica ginecologista especialista em gravidez de risco.
A servidora pública Daniela Amoglia, hoje com 47 anos, entra nessa estatística. Ela engravidou de Maria Elisa, hoje com 5, aos 41 e teve a menina com 42. “Eu estava tentando havia mais de um ano, mas não estava conseguindo. Como eu já havia passado dos 40, decidi procurar uma clínica para iniciar o tratamento pra engravidar”, lembra. Porém, para a surpresa de Daniela, a gravidez veio de forma espontânea – e a descoberta ocorreu na manhã do mesmo dia em que ela faria a consulta, marcada para a tarde.
“Resolvi fazer um teste de gravidez, e deu positivo. Liguei e cancelei a consulta. Brinquei que a equipe era tão boa que a gente conseguia engravidar só de marcar com o médico”, lembra ela.
A notícia veio acompanhada de medo e insegurança por se tratar de uma gravidez de risco. Apesar do receio, a gestação foi tranquila, sem intercorrências. “A Maria Elisa nasceu de parto normal, algo que eu, mesmo sendo da área da saúde, ainda tinha muito tabu por conta da minha idade. Mas meu médico me encorajou e foi tudo realmente muito tranquilo”, pontua.
A pequena completou meia década no dia 3 de março. Hoje, ela é o centro da vida de Daniela. “Tudo que faço é pensando no bem-estar. Ela é tudo para mim”, finaliza.
Segundo a ginecologista Ines Cavallo, conforme a idade da mulher vai avançando, os óvulos também vão, consequentemente, perdendo qualidade para a fecundação. Isso faz com que as chances de engravidar diminuam, além de aumentar o risco de a criança nascer com algum tipo de problema.
Para a servidora pública Daniela Amoglia, a principal vantagem de ser mãe após os 40 é ter mais sabedoria, experiência e conhecimento de vida, que podem, e devem, ser usados na criação da criança. “Claro que o pique não é o mesmo de quando a gente tem 30, por exemplo. Mas a maturidade nos auxilia nesse processo desafiador que é criar um filho e é um fator positivo que temos a nosso favor”, diz.
Para ela, as mulheres nessa faixa etária devem se tranquilizar quando o assunto é maternidade. “Hoje temos a medicina a nossa favor, e é um fator que tranquiliza. As coisas fluem da melhor forma e sempre nos surpreendem”, afirma.
O avanço da medicina e a capacitação de profissionais são aliados da gravidez tardia. “Hoje, a gente tem acompanhamentos muito rigorosos no pré-natal, com medicações e ultrassons que permitem um acompanhamento melhor da gravidez, além das técnicas de reprodução assistida”, relatou a médica Ines Katerina Cavallo, membro da diretoria da Associação de Ginecologistas e Obstetras do Estado de Minas Gerais.
Ela explica, entretanto, que ter 40 anos ou mais já configura “gravidez de risco” pelo simples fato da idade, já que tanto a mãe quanto o bebê ficam mais propensos a complicações. Por isso, Ines destaca que ter hábitos saudáveis é fundamental para auxiliar na gestação.
É comum ouvir que mulheres com mais de 40 anos não podem ter filhos. Porém, tal afirmativa é um mito, como salienta a ginecologista Rita Amaral. “Biologicamente, é possível. A gente só orienta a procurar um médico cerca de três meses antes de tentar engravidar, para ter um acompanhamento e criar melhores condições”, orienta a médica.
Por Jonatas Pacheco e Sara Lira