OUTUBRO ROSA

Câncer de mama em pets: diagnóstico precoce salva vidas

Estima-se que cerca de 45% das cadelas e 30% das gatas sejam afetadas por tumores mamários, diz estudo

Por Lisley Alvarenga

Publicado em 12 de outubro de 2025 | 09:00

 
 
Segundo Adriana, Jujuba teve que retirar as mamas após ser diagnosticada com câncer Segundo Adriana, Jujuba teve que retirar as mamas após ser diagnosticada com câncer Foto: Brandon Santos

Era um dia comum na vida de Jujuba, uma shih tzu de 11 anos, quando sua tutora, Adriana Silva Rodrigues, fez uma descoberta que mudaria a rotina da pequena cadelinha. Ao fazer carinho em sua barriga, Adriana sentiu, pela primeira vez, uns carocinhos nas mamas da amiga de quatro patas. A princípio, os nódulos eram pequenos, quase imperceptíveis, e a tutora pensou que poderiam ser sequelas de uma briga que ela teve com outro cãozinho de rua. “Naquela hora, não imaginei que fosse câncer. Eu sabia que animais podiam ter esse tipo de problema, mas não pensei que aconteceria com a Jujuba”, conta.

Dias depois, durante um banho no pet shop, a equipe do estabelecimento percebeu a anormalidade e, após exames realizados, foi confirmado: Jujuba estava com câncer de mama. “Retiramos toda a mama do lado esquerdo e, depois, descobrimos que do outro lado também havia sinais, mas mais avançados. Optei por não fazer quimioterapia por receio de que ela ficasse muito debilitada com o tratamento”, explica Adriana.

Embora a cadela continue a fazer acompanhamento, a tutora também tomou uma decisão importante: castrou Jujuba. “Depois que soube que o uso de injeções anticoncepcionais pode potencializar o câncer, achei que a castração seria uma forma de proteger a saúde dela no futuro”, salienta Adriana.

O caso de Jujuba não é isolado. O câncer de mama também atinge milhares de cães e gatos, e muitas vezes, o diagnóstico é feito apenas quando a doença já se encontra em estágio avançado. De acordo com estudos do Conselho Federal de Medicina Veterinária, estima-se que cerca de 45% das cadelas e 30% das gatas sejam afetadas por tumores mamários, um dos tipos de câncer mais comuns entre os animais de pequeno porte.

Pesquisas do Laboratório de Patologia Comparada da UFMG indicam que 80% desses tumores são malignos, e que, em casos mais graves, 17% das cadelas diagnosticadas já chegam em estadiamento avançado da doença, podendo falecer em até sete meses após o diagnóstico.

Segundo o professor Geovanni Dantas Cassali,  pesquisador na área de patologia mamária na UFMG, câncer de mama é uma realidade na medicina veterinária, e sua detecção precoce é crucial. “Em cadelas, é a neoplasia mais comum, enquanto nas gatas é a segunda mais frequente”, frisa.

A castração precoce é uma das principais formas de prevenção para o câncer de mama, afirma a professora Luciana Myrrha, oncologista veterinária da PUC Minas. Segundo a especialista, quando realizado antes do terceiro cio nas cadelas ou antes de um ano de idade nas gatas, o procedimento pode reduzir drasticamente o risco de desenvolvimento de tumores mamários. “A castração remove a principal fonte hormonal que favorece o crescimento desses tumores, tornando-se uma medida preventiva quando realizada na época correta”, explica.

Há mais de duas décadas dedicada à causa animal, Rosângela Rocco cuida com muito amor de sete gatos e quatro cachorros que vivem com ela e o marido, além de outros cinco felinos. A protetora defende que a prevenção começa na atenção e no toque e lembra que o uso de injeções para evitar o cio pode causar sérios riscos, reforçando que o caminho mais seguro é a castração. “Chegou aqui em casa ou vi na rua abandonado, já levo para castrar. Essa é a principal e primeira medida de prevenção”, diz.

A decisão de castrar o animal deve ser avaliada com o veterinário, levando em consideração idade, raça e saúde do pet. Conforme a veterinária Clara Almeida, da clínica Petland, no bairro Bom Retiro, em Betim, embora não exista uma predisposição racial amplamente estabelecida para o câncer de mama, algumas raças, como o poodle, tendem a apresentar maior incidência de tumores mamários.

“Além disso, animais com mais de 10 anos representam a maior parte dos casos observados na clínica veterinária. Um ponto importante é que o diagnóstico tardio da doença está frequentemente associado ao desenvolvimento de tumores malignos, reforçando a importaância do acompanhamento regular e da detecção precoce”, ressalta a especialista em clínica e cirurgi. 

Hormônios e medicamentos

A utilização de hormônios, como os progestágenos (presentes em anticoncepcionais e vacinas anti-cio), também é um fator de risco para o desenvolvimento de câncer mamário em animais, afirmam os especialistas. “Esses medicamentos podem estimular o crescimento de tumores, e seu uso contínuo aumenta consideravelmente a probabilidade de desenvolvimento da doença”, salienta o professor Geovanni Dantas Cassali. Ele ressalta que muitos tutores não têm conhecimento sobre os riscos desses medicamentos, o que faz com que muitos animais sejam expostos sem a devida orientação.

Adriana, por exemplo, só soube sobre a relação entre o uso dessas substâncias e o câncer mamário após o diagnóstico de Jujuba. “Eu dava a injeção para evitar o cio, sem saber que isso poderia aumentar o risco da doença. Agora, com a castração, sinto que tomei uma medida para proteger a saúde dela no futuro”, diz.

Detectar a doença

A principal forma de detecção do câncer de mama em cães e gatos é a palpação regular das mamas. “Sempre que possível, os tutores devem fazer esse exame, especialmente se o animal tem mais de 5 anos, que é a faixa etária em que o risco de desenvolvimento de tumores aumenta. Se houver qualquer alteração, como nódulos ou caroços, é importante procurar o veterinário imediatamente”, alerta a professora Luciana Myrrha.

O diagnóstico inicial é feito pelo exame físico, mas exames de imagem, como ultrassom, radiografia e tomografia, podem ser necessários para avaliar a extensão do tumor e verificar a presença de metástases. Já a biópsia é essencial para determinar se o câncer é benigno ou maligno, o que ajuda a definir o tratamento adequado.

Cuidados

O tratamento do câncer de mama em animais geralmente começa com a remoção cirúrgica do tumor. “Quando o tumor é detectado em estágio inicial, a cirurgia pode ser curativa, especialmente para lesões benignas. Nos casos malignos, a cirurgia é importante para controlar a doença, mas o acompanhamento constante é fundamental”, frisa o professor Cassali.

A quimioterapia pode ser indicada em casos de tumores mais agressivos ou avançados, mas, conforme a professora Myrrha, a maioria dos animais tolera bem o tratamento cirúrgico, com efeitos colaterais mais graves sendo raros. “Nos casos em que a quimioterapia é necessária, os efeitos colaterais podem incluir vômito, diarreia e uma queda na imunidade, mas, com monitoramento adequado, os animais conseguem se recuperar bem”, finaliza.