POLÊMICA

Novas regras para tirar a CNH dividem opiniões

Donos de autoescolas de Betim já apontam prejuízos e queda no número de alunos

Por Iêva Tatiana

Publicado em 24 de outubro de 2025 | 09:00

 
 
Waldirene de Faria acumula 35 anos de experiência e teme rumos que setor pode tomar Waldirene de Faria acumula 35 anos de experiência e teme rumos que setor pode tomar Foto: Brandon Santos

As novas regras para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) propostas pelo governo federal estão impactando as autoescolas da cidade. Embora as mudanças ainda estejam em processo de consulta pública, o movimento de alunos vem caindo expressivamente nas últimas semanas, segundo proprietários de centros de formação. Isso porque uma das proposições do Ministério dos Transportes é acabar com a obrigatoriedade de aulas nesses estabelecimentos, a fim de reduzir os custos do processo.

Dono de uma autoescola no bairro Espírito Santo, Leandro de Souza rebate essa alegação. “Não é o valor da aula que encarece, é a carga tributária. Quase 60% dos custos vêm dos impostos, mas em nenhum momento o Estado se manifestou falando que vai reduzi-los. Querem colocar os geradores de empregos e pagadores de impostos como culpados”, afirma, ressaltando que um aluno gasta, em média, de R$ 1.850 a R$ 2.000 para tirar carteira em Betim. 

Com 35 anos de atuação na área, Waldirene de Faria, proprietária de um centro de formação de condutores no Centro, levanta outra questão: se as novas regras forem aprovadas, será permitido fazer aulas de direção em veículo próprio, como antigamente. “Já trabalhei em uma época em que era assim, mas o trânsito era outro. Hoje, como um instrutor vai dar aula sem o duplo comando [freio e embreagem do lado do passageiro]?”, indaga Waldirene. “Querem agradar o povo por causa das eleições, mas de que adianta fazer isso e morrer gente na rua?”, emenda.

Charley de Souza, proprietário de três autoescolas no município, também considera as propostas apresentadas pelo governo federal uma estratégia de “campanha eleitoreira populista” para angariar votos em 2026. Contudo, o efeito do que vem sendo especulado já é sentido nos negócios, que enfrentam uma queda de aproximadamente 70% na arrecadação. “As pessoas se atentam à redução de custos, mas não procuram saber direito. O ministro [dos Transportes, Renan Filho] fala em uma possível queda de até 80% no preço da CNH. Se o custo médio em Betim é de R$ 2.000, iria para R$ 400, valor que não paga nem o exame médico”, pontua Souza, criticando o alarde criado pelo governo federal em torno da pauta.

Outra perspectiva

Na avaliação do doutor e professor dos cursos de engenharias mecânica, civil, de produção e elétrica da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh), Rodrigo Romero, a ideia de simplificar e baratear os procedimentos para obtenção da carteira de motorista é positiva, já que pode “ampliar o acesso à habilitação, especialmente em regiões de menor poder aquisitivo”. “Por outro lado, é necessário cuidado para que essa simplificação não comprometa a qualidade da formação e o preparo técnico e psicológico dos futuros motoristas. A formação prática e teórica é essencial para reduzir acidentes e promover uma condução responsável”, acrescenta Romero.

Para o especialista, o grande desafio para que as mudanças vigorem de fato será equilibrar a desburocratização com a manutenção da qualidade e da segurança viária. “Acredito que parte das propostas possa ser implementada, mas com ajustes e revisões conforme o diálogo com especialistas e instituições ligadas à segurança no trânsito”, conclui.

O que a população pensa a respeito

“Para os jovens, vai facilitar muito. Temos infinitos recursos para aprender e não ficarmos tão dependentes da autoescola para conseguir tirar a carteira de habilitação.”

Kaylane Eva
Designer de sobrancelhas

“Não concordo com essa história de tirar do aluno a oportunidade de aprender a dirigir numa autoescola. Mas também discordo da forma como são feitos os exames de rua hoje.”

Amilson Moreira
Guarda patrimonial

“Como consumidor, acho positivo, desde que haja uma regulamentação para olhar também para os problemas que possam acontecer [sem a exigência de autoescola].”

Lucas de Abreu
Autônomo

“Em alguns casos, vai ser uma coisa boa porque parece que existe uma máfia das autoescolas. Você paga, paga, paga e fica só repetindo as aulas e sendo reprovado”.

Patrícia dos Reis
Bancária