SUS

Mulher de Betim é primeira paciente a receber transplante pulmonar em Minas Gerais após 11 anos

Eliene Mota, de 38 anos, aguardava na fila de transplante de órgãos há quatro meses

Por Isabela Abalen


Publicado em 28 de outubro de 2025 | 17:01
 
 
Eliene se recupera no Centro de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da UFMG

A moradora de Betim Eliene Mota, de 38 anos, foi a primeira paciente a receber transplante pulmonar em Minas Gerais após 11 anos com o serviço suspenso no estado. O procedimento foi realizado na última sexta-feira (24/10) e Eliene se recupera no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital das Clínicas da UFMG.

Eliene aguardava na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) há quatro meses, diagnosticada com uma doença pulmonar rara — a linfangioleiomiomatose (LAM) — e sofrendo para respirar. A sorte dela mudou quando a família do doador, um jovem torcedor do Atlético, deu o "sim" que autorizou a transferência do órgão do Hospital Risoleta Tolentino Neves, em Venda Nova, para o Hospital das Clínicas da UFMG, na área hospitalar de Belo Horizonte.

A retomada dos transplantes de pulmão no HC-UFMG, administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), foi oficializada em setembro, após cerca de um ano de preparação, que incluiu qualificação da equipe, compra de equipamentos e incentivo por políticas públicas. Durante a suspensão do serviço, mineiros que aguardavam pelo órgão foram encaminhados a outros estados pelo programa Tratamento Fora de Domicílio (TFD) do SUS. Além desta paciente transplantada na última sexta, ao menos cinco outros aguardam na fila de espera pelo órgão no estado.

1º transplante de pulmão após 11 anos: o caminho do órgão 

O transplante de pulmão é considerado de alta complexidade e mobilizou uma equipe multiprofissional do HC-UFMG, formada por cerca de 20 profissionais atuando diretamente no procedimento, incluindo médicos das especialidades de cirurgia torácica, pneumologia e anestesiologia, instrumentadores e profissionais de enfermagem.

Desde a captação do órgão no Hospital Risoleta até a implantação do pulmão na paciente no HC-UFMG, foram cerca de 11 horas, com a participação do MG Transplantes no transporte seguro do órgão entre os hospitais. A paciente transplantada segue em recuperação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Segundo o cirurgião torácico Daniel Bonomi, do HC-UFMG/Ebserh, os equipamentos de ponta utilizados atestam a qualidade do transplante: “A equipe se sente segura por contar com uma excelente estrutura e com equipamentos como a ECMO [Oxigenação por Membrana Extracorpórea], o Cell Saver e o sistema de broncoscopia. Tudo isso contribui muito nas cirurgias de grande porte, especialmente no transplante pulmonar, o que, em última análise, se reflete em melhores resultados.”

Doador foi homenageado em 'Corredor da honra'

O pulmão que vai mudar a vida da paciente foi captado no Hospital Risoleta Tolentino Neves, em Venda Nova. O jovem torcedor do Atlético, responsável pela doação, também possibilitou o transplante de outros órgãos e, ao ser transferido para o bloco cirúrgico, foi celebrado em um "Corredor de Honra": equipes da assistência do hospital o aplaudiram em agradecimento a ele e à família, que, mesmo em luto, optou por esse ato de altruísmo.

Em 2025, o Hospital Risoleta Tolentino Neves já registrou a captação de múltiplos órgãos de sete pacientes. A articulação é feita pela Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) em parceria com o MG Transplantes.

"O Risoleta Neves vem aperfeiçoando cada vez mais os processos que envolvem a sensibilização das famílias, a capacitação das equipes e a organização dos fluxos e rotinas internas, para assegurar a captação de órgãos e tecidos e participar efetivamente desse movimento mundial que salva vidas", afirmou Mônica Costa, diretora técnico-assistencial do hospital.

Retomada

De 1998 e 2014, foram realizados 24 transplantes de pulmão no estado, 21 deles no Hospital das Clínicas. Após a interrupção, pacientes mineiros que necessitavam do procedimento passaram a ser cadastrados em listas de espera no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Desde setembro deste ano, o HC-UFMG voltou a se juntar aos centros transplantadores desse órgão no país.