ESPERANÇA

Moradora do Imbiruçu, em Betim, se recupera após receber transplante de pulmão

Eliene Mota, de 38 anos, foi a primeira paciente a receber o órgão em Minas depois de mais de uma década; ela aguardou na fila por quatro meses

Por Brunna da Matta Amorim

Publicado em 30 de outubro de 2025 | 21:04

 
 
Cida comemora que a irmã Eliene agora tem dois aniversários para comemorar: a data de nascimento e o dia do transplante de pulmão Cida comemora que a irmã Eliene agora tem dois aniversários para comemorar: a data de nascimento e o dia do transplante de pulmão Foto: Arquivo Pessoal

A ligação recebida no dia 23 de outubro (quinta) marcou para sempre a vida da moradora do Imbiruçu, em Betim, Eliene Mota, de 38 anos, e de sua família. Isso porque a betinense aguardava há quatro meses por um pulmão na fila nacional de transplante de órgãos. Mas a notícia tão esperada chegou. “Esse pulmão foi Deus quem mandou”, afirma Maria Aparecida Ferreira, conhecida por Cida, irmã de Eliene. “O médico entrou em contato com minha irmã e pediu pra ela se preparar, porque o pulmão ia chegar”, relembra Cida.

A emoção tomou conta da família. “Ficamos sem acreditar. A minha irmã não acreditava em nada, e a ficha só caiu quando o médico falou: ‘Estou indo buscar seu pulmão’, contou Cida. “Ela agora tem dois aniversários para comemorar”, celebra a irmã, fazendo referência à data de nascimento e ao dia do transplante de Eliene.

A moradora de Betim foi a primeira a receber transplante pulmonar em Minas após 11 anos com o serviço suspenso no estado. Agora, Eliene se recupera no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital das Clínicas da UFMG, na área hospitalar de Belo Horizonte.

O médico Daniel Bonomi, coordenador do serviço de cirurgia torácica do Hospital das Clínicas da UFMG, está acompanhando de perto a recuperação de Eliene. “Ela já acordou do coma induzido e está evoluindo muito bem para um caso igual ao dela. A pressão está sendo mantida, e iniciamos os antibióticos mais fortes para termos certeza que vai dar tudo certo. A expectativa é que Eliene tenha uma boa qualidade de vida, possibilitando a realização de atividades habituais de uma pessoa sem problema respiratório”, conclui o médico.

Histórico

A irmã de Eliene detalha como foi a descoberta da doença pulmonar rara — a linfangioleiomiomatose (LAM). “Ela já vinha apresentando sintomas durante meses, mas, como não tínhamos plano de saúde, ela foi aguentando até conseguir um pela empresa onde trabalhava há pouco tempo”, relata Cida Ferreira.

Tudo começou no início de 2025, quando Eliene sentia cansaço e ficava ofegante com pouco esforço. “Minha irmã chegou a ir à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde fizeram exame e deu uma mancha no pulmão. A médica disse que era normal, orientou a procurar um pneumologista e a mandou para casa”, conta a irmã.

Quando Eliene conseguiu um plano de saúde, procurou um novo médico e realizou diversos exames, que indicavam enfisema pulmonar. Em maio, quando passou muito mal após uma gripe virar pneumonia, a moradora de Betim entrou no hospital particular direto para o CTI, onde ficou 15 dias internada.

Os médicos, desacreditando do enfisema, já que a paciente nunca fumou ou bebeu, diagnosticaram Eliene com LAM. “Quando recebemos a notícia, ficamos sem chão. Minha irmã precisou passar por psicóloga, porque não estava acreditando”, relembra Cida.

A partir desse momento, Eliene utilizava oxigênio durante o tempo todo. Após passar por especialistas, exames e fila de espera, a moradora de Betim deu entrada no Hospital das Clínicas da UFMG.

Na unidade de saúde, ela passou por mais exames e procedimentos, até que Eliene entrou para a lista de transplante e aguardou na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) por quatro meses.

Transplante

O cirurgião Daniel Bonomi esteve à frente do transplante da Eliene e celebra o retorno do procedimento a Minas Gerais. Junto a ele, esteve presente José de Jesus Camargo, um dos primeiros médicos da América Latina a realizar um transplante, feito no Brasil em 1989.

Quanto aos próximos passos, Bonomi detalha: “Agora precisamos dos cuidados em relação a possíveis infecções e com hidratação. Esses são cuidados básicos de uma grande cirurgia, como a que Eliene recebeu”. Após acordar da sedação, a moradora de Betim ficará internada por mais algumas semanas, em observação, até poder ir para casa.

Família reforça a importância da doação de órgãos

A sorte de Eliene mudou quando a família do doador deu o “sim” que autorizou a transferência do órgão do Hospital Risoleta Tolentino Neves, em Venda Nova, para o Hospital das Clínicas da UFMG. O doador também possibilitou o transplante de outros órgãos.

Cida agradece à família do doador pelo pulmão que salvou a vida de sua irmã. “Gratidão demais. Assim que Eliene se recuperar, ela vai procurar a família, e eu quero estar junto com ela para agradecer muito”, afirma a irmã de Eliene.

Maria Aparecida Ferreira revela que já conversou com sua família e todos querem ser doadores de órgãos. “A quantidade de vidas que um doador salva, é muito grande. Tem pessoas que vêm a óbito com os órgãos quase todos bons, e há bastante gente precisando”, afirma a irmã da recém-transplantada.

O cirurgião torácico Daniel Bonomi também destaca a importância da conscientização para a doação de órgãos. “Eu sei que é um ato muito nobre, em um momento muito difícil de perda, mas essa decisão pode salvar a vida de várias pessoas”.

Sistema Nacional de Transplantes

22.891* pessoas receberam um órgão transplantado no ano de 2025 no Brasil

81.386* pessoas compões a lista de espera por transplante de órgão no Brasil

1.678* pessoas receberam um órgão transplantado no ano de 2025 em Minas Gerais

8.932* pessoas compões a lista de espera por transplante de órgão em Minas Gerais

*dados atualizados em 30 de outubro de 2025

Captação múltipla

Na última quarta-feira (29), o Hospital Público Regional de Betim (HPRB) realizou uma importante captação de múltiplos órgãos. Foram coletados coração, fígado, rins e córneas de um paciente doador de 38 anos.