IMPACTO

Crise do metanol derruba venda de destilados e drinques em bares de Betim

Queda no consumo da bebida chega a 40% em alguns estabelecimentos pesquisados

Por Lisley Alvarenga

Publicado em 31 de outubro de 2025 | 09:38

 
 
Donos de bares dizem que, após a crise do metanol, hábito de consumo de bebidas de alguns clientes mudou Donos de bares dizem que, após a crise do metanol, hábito de consumo de bebidas de alguns clientes mudou Foto: Brandon Santos

A recente crise do metanol, iniciada há um mês, quando os primeiros relatos de sintomas em pacientes e mortes de pessoas começaram a vir à tona no país, deixou marcas no setor de bares, restaurantes e distribuidoras de bebidas em Betim. Apesar de não haver casos confirmados de intoxicação no município e em Minas, comerciantes relatam queda de até 40% no consumo de drinques e destilados em seus estabelecimentos. O apontamento é o mesmo do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares, que relatou queda de 42% nas vendas dessas bebidas em BH e região metropolitana.

Proprietário do Marreta Gastrô Bar, na Rua do Rosário, Felipe Marreta lembra que o impacto da crise do metanol veio em ondas. “Na semana que estourou a crise não teve queda de venda. Mas na segunda e terceira semana, percebi uma queda de 30% a 40% na venda de drinques”, conta.

O empresário explica que, embora tenha divulgado um informativo mostrando que todas as bebidas do seu estabelecimento são compradas de distribuidoras nacionais, com nota fiscal, o movimento demorou a voltar a se estabilizar. “Hoje a situação se normalizou, mas tive uma queda de 30% a 40% no faturamento nesse último mês”, afirma.

Segundo Marreta, os drinques são o carro-chefe da casa, o que explica o impacto mais forte. Ele comparou a situação à crise da cervejaria Backer, em 2020. “Na época, eu vendia 50% de artesanais e 50% de grandes distribuidoras. Quando saiu o escândalo, zerei a venda de artesanais. Dessa vez, não fiquei desesperado, pois sabia que a crise ia passar”, relatou.

No 5º Paladar, administrado por Dillieny Gonçalves Silva, o cenário foi parecido. No último mês, o bar e restaurante teve queda de 20% no faturamento mensal e 30% na venda de drinques. “A venda de cerveja até melhorou um pouco, mas os drinques caíram bem. A gente compra de revendedor credenciado, a Adega BH, que é uma das maiores da região metropolitana. Assim que divulgamos um informativo aos clientes, a venda começou a se recuperar”, explica.

Mesmo assim, Dillieny diz que o consumo ainda não voltou totalmente ao normal. “Alguns clientes ainda têm receio de tomar drinque, mas está voltando aos poucos. Essa crise atingiu mais São Paulo do que Minas Gerais, e principalmente estabelecimentos que não compram com nota fiscal. Passou rápido, mas ficou a lição: é importante consumir em locais de confiança”, salientou a empresária.

Na outra ponta do setor, Marlon Duarte, dono da Duarte Distribuidora, no bairro Angola, e sócio da Hope Pub, também sentiu o baque. “Na Hope, caiu 30% na venda de drinques, e na distribuidora, 15% nos produtos destilados. O movimento em si não caiu, mas as pessoas mudaram o hábito de consumo. Muitos deixaram de tomar drinques e passaram a pedir vinho e cerveja”, relatou.

Marlon garante que sempre manteve rigor no controle de procedência: “Na distribuidora, não compro de fornecedor desconhecido. Tudo tem nota fiscal e vem de fornecedores antigos. Não mudamos nada durante a crise. E na Hope, fazemos o descarte das garrafas com uma empresa de reciclagem para evitar o reaproveitamento das embalagens.”

Polícia ainda não concluiu as apurações

A crise do metanol completou um mês sem uma conclusão da polícia sobre o que, afinal, está por trás da adulteração de bebidas alcoólicas com a substância. Enquanto isso, o número de mortes por intoxicação continua a subir. Na semana passada, foram mais cinco: duas em Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo, duas no Paraná – em Curitiba e Almirante Tamandaré – e outra em Salgueiro (PE).

Dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que, ao todo no Brasil são 15 mortes, sendo nove em São Paulo, três em Pernambuco e três no Paraná. Até o momento, 58 casos foram confirmados e outros 50 estão em investigação. O Estado de São Paulo continua com o maior número de notificações, com 44 casos confirmados e 14 em investigação.

Com Gustavo Zeitel/Folhapress