
O destino de cerca de 90 cães abrigados ganhou um reforço para chegar ao desfecho mais esperado: a adoção. Um projeto-piloto desenvolvido por uma aluna do curso de medicina veterinária da UNA está sensibilizando moradores de Betim a adotarem animais que sobreviveram à cinomose, uma doença grave que pode deixar sequelas permanentes. Formada em comunicação social e agora estagiária na Secretaria Adjunta de Proteção Animal (Sepa), Ariane Braga decidiu aplicar seus conhecimentos em marketing para divulgar as histórias dos bichinhos que conseguiram vencer a enfermidade, mas não o preconceito nem a rejeição.
A acadêmica encontrou uma aliada com a mesma disposição, a veterinária Samilla Santos, mestranda em medicina de abrigo, e, juntas, criaram o “Invisíveis, Não Mais”, lançado no início do mês.
A ação é simples, mas com um potencial imensurável: chaveiros com fotos de cães curados da cinomose são estrategicamente “esquecidos” em locais movimentados da cidade. No verso, um QR Code leva à página do projeto no Instagram (@invisiveis_naomais), onde o visitante pode conhecer um pouco mais da trajetória de superação de cada bichinho. “O tratamento da doença é demorado, e os animais acabam ficando muito tempo no abrigo. Já mais velhos e debilitados, vão para segundo plano na fila da adoção. A proposta do projeto é justamente conseguirmos ao menos um lar temporário para eles, se não a adoção definitiva”, explica Ariane.
A servidora pública Gabriela Ferreira foi tocada pela iniciativa e não resistiu à fotinho da Pipoca, agora rebatizada de Betina. “Conheci o projeto pelo Instagram e entendi que são cachorros com mais dificuldade de serem adotados porque muitas pessoas não estão dispostas a ficar com eles”, ressalta Gabriela.
Apesar do pouco tempo de convivência – a cadelinha, de cerca de 1 ano e meio, foi adotada na semana passada –, tutora e pet estão superentrosadas. “No primeiro dia, ela já ficou muito à vontade. É um grude. A Betina mudou tudo na nossa casa: trouxe alegria, amor e agitação”, diverte-se.
Diante do resultado positivo, o objetivo de Ariane e Samilla é fazer com o que a metodologia que está sendo experimentada possa ser replicada em outros abrigos da região.
A cinomose é uma doença viral grave, altamente contagiosa e com alto índice de letalidade. Não se trata de uma zoonose; portanto, não é transmitida do animal para o ser humano. Já a transmissão entre os cães ocorre por meio do contato direto com secreções nasais e oculares, urina e fezes e objetos contaminados, além das vias aéreas. Entre os sintomas estão remela em grande quantidade, secreção nasal, apatia e perda de apetite, febre e tosse.
“É uma doença muito debilitante. Acho que não existe uma mais cruel do que ela no Brasil. Porém, é totalmente evitável porque existe vacina”, sublinha a veterinária Samilla Santos, coautora do projeto “Invisíveis, Não Mais”.
Nesta semana, o projeto teve um resultado surpreendente: um dos animais mais antigos do setor de cinomose, Abner, foi reconhecido pelos tutores. Na terça (28/10), eles se reencontraram, após um hiato de quase cinco anos. “Agora, quero cuidar desse garotão e aproveitar cada dia com ele. Espero viver só coisas boas”, disse o eletricista automotivo Edilson Silva.