De agosto pra cá, Elizabete Colares, do Vila Cristina, já leu 18 livros por meio do projeto Braille Delivery
Foto: Brandon Santos
De agosto pra cá, Elizabete Colares, do Vila Cristina, já leu 18 livros por meio do projeto Braille Delivery
Foto: Brandon Santos
Quando chegam os fins de semana, o casal Elizabete e Luiz tem um hábito milenar que virou parte da rotina: sentar juntos na sala para ler. Sobre o sofá, ficam dois livros em braille. Logo, os dois começam a percorrer as páginas com os dedos, concentrados na leitura. Muitas vezes, eles trocam comentários sobre a história. Em outros momentos, apenas dividem o sossego de quem lê junto: cada um com seu livro, mas ambos na mesma sintonia.
“Agora a gente lê juntos, sentados na sala. Ela com o livro dela, eu com o meu. Depois conversamos sobre o assunto do meu livro ou do dela e permanecemos em paz na nossa leitura”, conta o bibliotecário Luiz Carlos da Silva, de 62 anos. Morador do bairro Vila Cristina, ele é um dos participantes do projeto “Ler para Ver – Braille Delivery”, lançado em agosto pelo governo de Minas.
Ao lado da esposa, a dona de casa Elizabete Colares da Silva, de 50 anos, eles transformaram a sala de casa em um pequeno espaço de leitura e convivência. “É muito gratificante participar desse projeto, porque eu gosto muito de ler. Desde menina, sou apaixonada por livros, e o fato de poder recebê-los em casa facilita demais. O livro em braille é pesado, às vezes tem dez ou 15 volumes, e nem sempre conseguimos alguém para buscar. Agora, com o projeto, é só esperar o toque na porta, e a leitura chega até nós”, conta ela.
O Braille Delivery nasceu por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG) e da Secretaria de Governo de Minas. A proposta é simples, mas transformadora: levar livros em braille e audiolivros gratuitamente até pessoas com deficiência visual ou baixa visão que moram em Belo Horizonte e em cidades da região metropolitana, como Betim, Contagem, Nova Lima e Matozinhos.
De acordo com o coordenador do Setor Braille da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, Glicélio Ramos Silva, a ideia do projeto surgiu da necessidade de superar as dificuldades de locomoção enfrentadas pelos leitores. “O livro em braille é volumoso e pesado, e nem sempre há transporte público adequado. Então pensamos: por que não levar a leitura até eles? Assim nasceu o Braille Delivery”, explica o coordenador.
Os números refletem o sucesso da iniciativa. Em agosto, quando a ideia foi lançada, foram realizadas sete entregas e 11 títulos emprestados. Em setembro, nove entregas e 17 títulos. Já em outubro, o número cresceu ainda mais: 17 entregas e 34 livros emprestados. No total, até o momento, foram 45 entregas e 90 títulos emprestados a leitores de quatro municípios. Somente em Betim, foram 19 obras emprestadas a três moradores. O acervo disponível para o delivery reúne cerca de 1.800 livros em braille e 2.500 audiolivros, com obras de autores como Harper Lee, Dostoiévski, Pablo Neruda, Alexandre Dumas Filho, Leila Ferreira e Clarice Lispector.
A experiência de Elizabete e Luiz comprova o impacto da ação. Desde agosto, eles leram, juntos, 18 livros, entre eles “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas Filho, “Depois de Você”, de Diana Scott, “O Sol é para Todos”, de Harper Lee, e “Hilda Furacão”, de Roberto Drummond. “Eles são muito pontuais, o atendimento é excelente. Entregam direitinho, vêm buscar, renovam os livros. São muito atenciosos”, elogia Elizabete. Luiz Carlos, por sua vez, vê no projeto uma forma de fortalecer o hábito da leitura entre as pessoas com deficiência visual. “O transporte público está cada vez mais difícil. As pessoas moram longe, o deslocamento é cansativo. A ideia de levar o livro até o deficiente visual é algo lógico, porque facilita muito. Quem gosta de ler vai gostar ainda mais”, salienta ele.
De acordo com Gildete Veloso, coordenadora do Núcleo de Extensão da Biblioteca Pública Estadual, o “Braille Delivery” garante mais do que acesso: promove autonomia. “Pessoas cegas ou com baixa visão têm dificuldades que comprometem a formação, o lazer e a inclusão social. Esse trabalho garante autonomia aos leitores e amplia o alcance da política pública de cultura”, destaca a coordenadora.
Para participar do projeto Braille Delivery, o interessado deve se cadastrar enviando cópia do RG, comprovante de residência e, no caso de baixa visão, atestado médico para braille.sub@gmail.com ou pelo WhatsApp (31) 98675-0251.
O empréstimo é de até três livros em braille ou cinco audiolivros por 14 dias, com renovação e devolução também em domicílio. A renovação pode ser feita por igual período, com pedido feito pelo WhatsApp (31) 98675-0251 ou pelo telefone (31) 2128-8248.
As entregas ocorrem de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h, em Belo Horizonte e nas cidades da região metropolitana localizadas a um raio de 70 km da capital.