MEMÓRIA DE RESISTÊNCIA

Colônia Santa Isabel celebra 94 anos com programação cultural

Comemoração terá shows musicais, Festival de Pastel, exposição, partida de futebol, entre outros

Por O TEMPO

Publicado em 15 de dezembro de 2025 | 10:49

 
 
Portal da Colônia Santa Isabel foi construído na década de 1920 Portal da Colônia Santa Isabel foi construído na década de 1920 Foto: O TEMPO/Arquivo

 A Colônia Santa Isabel, em Betim, completa 94 anos no próximo dia 24 de dezembro e vai celebrar a data com uma programação especial entre esta quinta-feira (18/12) e domingo (21/12), reunindo atividades culturais, religiosas, esportivas e de memória. 

As comemorações iniciam na quinta-feira, às 14h, com o Café da Memória na Unidade Assistencial Gustavo Capanema. O encontro, voltado a trabalhadores e moradores da região, busca promover o diálogo entre gerações e reforçar o vínculo afetivo com a história da Colônia.

Na sexta-feira (19/12), a programação ganha tom cultural e simbólico. Às 17h, tem início o Festival de Pastel, no Parque Ecológico Paraopeba Vivo Nelson Flores. Mais tarde, às 19h, o Centro de Memória da Hanseníase Luiz Verganin recebe a abertura da exposição Frei Chico, em homenagem ao holandês Frei Francisco Van Der Poel, personagem fundamental para o desenvolvimento da Colônia, seguida do tradicional lucernário. A noite termina com o show da banda Velotrol, às 20h30, no parque.

O sábado (20/12) será marcado por integração e lazer. Das 9h às 16h, acontece a gincana comunitária e, das 10h às 23h, o Festival de Pastel segue movimentando o parque. A trilha sonora do dia fica por conta de Beto Rock’n Blues, ao meio-dia, Legião II Cover, às 17h, e Caramelo’s Blues, às 20h, garantindo música e celebração ao longo do dia.

As homenagens chegam ao ponto alto no domingo (21/12). Às 8h, será celebrada uma missa em ação de graças pelos 94 anos da Colônia, na Paróquia Santa Isabel. Em seguida, às 9h, o Estádio Reuminas recebe a partida entre Gigante União Esporte e Renascença Esporte Clube. No mesmo horário, a Banda Nossa Senhora do Carmo realiza um cortejo pelas ruas da comunidade até o Parque Ecológico Paraopeba Vivo Nelson Flores, onde a gincana segue até o meio-dia.

À tarde, a programação continua com a apresentação da Orquestra Filarmônica do Instituto Ramacrisna, às 14h, na Unidade Assistencial Gustavo Capanema. No parque, o público poderá conferir, a partir das 14h, o show de Juju Pauline, seguido por apresentação de capoeira com o Grupo Resistência Capoeira, às 16h, Bloco Cueca do Avesso, às 17h, Márcia Brandão e Banda, às 18h, e, encerrando as comemorações, a Banda Chevette Hatch, às 20h.

Um território marcado pela memória e pela resistência

Criada no início do século 20, a Colônia Santa Isabel surgiu como parte da política de isolamento compulsório adotada pelo Estado para o controle da hanseníase. À época, inspetores de saúde identificavam pessoas com suspeita da doença e as encaminhavam para colônias, afastando-as do convívio social. A promessa era de cuidado e proteção, simbolizada pela frase em latim gravada no portal da Colônia: “Hic manebimus optime” — “Aqui ficaremos bem”.

Até a década de 1950, formou-se nas colônias um modo de vida próprio, marcado pela exclusão, mas também pela criação de uma estrutura social autossuficiente. Privados da liberdade, os internos passaram a reconstruir suas relações, identidades e formas de convivência, longe da família e da sociedade de origem.

Na Colônia Santa Isabel, a arte, o esporte e a cultura tiveram papel central nesse processo. Espaços como o Pavilhão Juiz de Fora, também conhecido como Cine Teatro Glória, abrigavam cinema, bailes, apresentações musicais e até escolas de samba. O esporte também se consolidou, com a formação de times de futebol e basquete, masculinos e femininos.

A religiosidade foi outro elemento marcante. Inicialmente predominou o catolicismo, com a atuação das irmãs do Monte Calvário e dos frades franciscanos. Com o tempo, outras expressões religiosas, como o protestantismo e o espiritismo kardecista, também passaram a integrar o cotidiano da Colônia, sendo vistas como importantes formas de apoio e acolhimento.

A internação compulsória deixou de ser obrigatória apenas em 1962, após avanços científicos comprovarem que a hanseníase não era tão contagiosa quanto se acreditava. Em 1981, a Organização Mundial da Saúde passou a recomendar a poliquimioterapia, e, no fim da década de 1980, os pacientes das colônias brasileiras receberam alta, com a abertura definitiva dos portões da Colônia Santa Isabel.

Desde 1995, o tratamento da hanseníase é oferecido gratuitamente pelo SUS. No mesmo ano, o Brasil substituiu oficialmente o termo “lepra” por “hanseníase”, em um esforço para combater o estigma histórico associado à doença. Hoje, a Colônia Santa Isabel permanece como símbolo de memória, resistência e reconstrução de vidas em Betim.