
Em meio ao culto de domingo, o pastor João de Jesus de Oliveira, de 63 anos, recebeu a notícia. A filha dele, Ana Paula de Oliveira, de 30 anos, havia sido atingida por um raio e morreu após um passeio de tirolesa. “É muito triste. Um pedaço de mim que foi embora”, lamentou Oliveira. Abalado, ele não teve forças para continuar os afazeres.
“Parei tudo, mandei parar o culto. Quando fiquei sabendo, vim direto para casa. A família está arrasada”, contou. A tragédia com a moradora de Betim, ocorreu no último dia 28, em São Tomé das Letras, no Sul de Minas.
Para o marido de Ana, Helbert Daniel, a morte poderia ter sido evitada. “O raio caiu na parte de cima da tirolesa, onde eu estava. Uma sobrinha nossa, que já havia descido, viu o momento em que a descarga elétrica atingiu ela e um funcionário do local, que tentava retirar o equipamento. Nele, que estava calçado, o impacto foi mais leve. Ela, descalça, sofreu a descarga. Um tapete no local onde a tirolesa termina poderia ter evitado essa tragédia”, relatou.
A família avalia tomar providências judiciais. “Nesta semana vamos atrás disso. A gente precisa de respostas”, afirmou o pastor. O velório e o sepultamento de Ana Paula ocorreram no Cemitério Parque das Saudades, no bairro Citrolândia, em Betim. O enterro reuniu familiares, amigos e moradores da região. “Tinha muita gente. Ela era muito querida, e eu também sou muito conhecido aqui”, contou o pai.
Mesmo cercado pelo apoio de amigos e conhecidos, João diz que o luto ainda é difícil de suportar. “Estou tentando me recuperar, mas não posso lembrar muito, porque eu choro. Só Deus para dar força”, afirmou. A esposa dele, segundo o relato, também está muito abalada, mas se recuperando “aos pouquinhos”.
O advogado Gilberto Benedito, que representa a Tirolesa Pôr do Sol, informou que o Corpo de Bombeiros fará uma vistoria no estabelecimento nesta quarta-feira (31/12). Em nota anterior, divulgada nessa segunda-feira ( 29/12), a empresa havia informado que, no momento do ocorrido, o passeio já havia sido concluído. “Ana Paula havia realizado o passeio, chegado ao final do percurso em segurança e já não se encontrava conectada aos equipamentos”.
A empresa afirmou que possui registros em vídeo que mostram a participante “concluindo a atividade normalmente e chegando ao fim do trajeto sem intercorrências”. De acordo com a nota, as imagens indicam que o tempo estava aberto no momento da descida.
A Tirolesa Pôr do Sol declarou ainda que não havia incidência de chuva ou raios no local até então e que o episódio registrado teria sido o primeiro raio de maior intensidade percebido de forma ampla na cidade. A empresa disse que não houve falha técnica, acidente ou intercorrência durante a atividade e que a estrutura e os equipamentos permanecem íntegros e dentro dos padrões de segurança.
Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que o Pelotão de Três Corações, unidade responsável pelo atendimento em São Tomé das Letras, fez uma vistoria no local em 2020, quando a tirolesa iniciou o funcionamento e, na ocasião, não foram encontradas irregularidades
O Corpo de Bombeiros destacou ainda que o proprietário possui Responsabilidade Técnica (RT) de toda a estrutura. Segundo a corporação, esse tipo de empreendimento não se enquadra no Serviço de Segurança Contra Incêndio e Pânico (SSCIP), por não se tratar de edificação nem de espaço destinado à recepção de público.
A reportagem de O TEMPO demandou posicionamento da prefeitura da cidade e, até o fechamento desta edição, não havia obtido retorno.