PEQUENOS GUERREIROS

Eles já vêm ao mundo com garra para viver; prematuridade traz riscos, mas é possível a recuperação

Centro Materno-Infantil registra queda de partos prematuros

Por Sara Lira

Publicado em 08 de março de 2025 | 08:00

 
 
Garotinha prematura que nasceu no CMI Garotinha prematura que nasceu no CMI Foto: Carolina Miranda

“Ela é um verdadeiro milagre”. Assim a assistente social Priscila Faraco, de 39 anos, resume a vida da filha Olívia, hoje com 1 ano e 10 meses. A pequena nasceu prematura de apenas 27 semanas e enfrentou uma longa batalha até receber alta do hospital. “Olívia foi muito guerreira. Passamos por um susto grande e, apesar da gravidade do caso dela, eu sempre tive certeza de que ela ficaria bem”, comenta.

Assim como Olívia, 495 bebês nasceram prematuros em 2023 no Centro Materno-Infantil de Betim (CMI), índice que representou 10,20% dos nascimentos da unidade naquele ano. Em 2024, o número reduziu para 403 – 8,68% dos bebês nascidos na maternidade no ano passado. A queda registrada é de quase 20% entre um ano e outro. 

A pediatra intensivista e coordenadora médica das UTIs Neonatais do CMI, Fátima Guedes, acredita que a queda pode ter relação com “a melhora na qualidade do atendimento primário (nas Unidades Básicas de Saúde) e na realização do pré-natal”. Segundo ela, as causas do nascimento prematuro são multifatoriais.

Idade gestacional

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é considerado prematuro o bebê que nasce com menos de 37 semanas. Se a criança nasceu entre a 34ª e a 36ª semana e seis dias, ele é considerado prematuro tardio; se veio ao mundo entre a 32ª e a 33ª semana e seis dias, é prematuro moderado; muito prematuros são aqueles que nasceram entre 28 e 31 semanas e seis dias; e prematuros extremos são os nascidos abaixo de 28 semanas. Quanto menor a idade gestacional, maiores são os riscos de complicações.

Fátima Guedes detalha os principais fatores de risco para a prematuridade. “A idade da mãe, se ela tem menos de 15 anos ou mais de 35, conta; aquelas que apresentam alguma doença na gestação como sífilis, toxoplasmose, rubéola, zica, dengue, Covid-19, diabetes, entre outras, também têm mais chance de terem um bebê prematuro”, afirma. 

Outras causas são ainda: ruptura prematura de membranas, pré-eclâmpsia (hipertensão na gravidez), insuficiência istmo-cervical (doença que enfraquece o colo uterino), placenta prévia (quando ela cresce na parte inferior do útero), infecções uterinas, síndrome de Hellp (forma grave de pré-eclâmpsia), descolamento prematuro de placenta, má formação uterina e fetal, gestação múltipla e condições genéticas. 

“As implicações para o bebê prematuro são muitas, pois os órgãos dele ainda não estão totalmente formados. Então, ele precisará ficar um tempo na UTI Neonatal para se recuperar”, explica. Mas ela destaca: os pequenos guerreiros podem, sim, sair dessa. “Aqui no CMI temos toda a estrutura para recebê-los e tratá-los, além de uma equipe preparada para essas situações”, diz.

Prevenção

Segundo a médica, a realização do pré-natal é imprescindível para evitar a prematuridade ou identificar problemas previamente. O ideal é que as consultas regulares comecem antes das 12 semanas de gestação. “Se identificarmos alguma doença ou um problema, conseguimos tratar a tempo”, explica. Ela também frisa a importância do planejamento familiar e o controle de natalidade, especialmente na adolescência.

Saiba mais

O Centro Materno-Infantil conta, atualmente, com 50 leitos de UTI neonatal, dos quais 20 são para prematuros intensos, seis pediátricos e 30 para recém-nascidos. A unidade também tem 60 leitos de internação para as mães, quatro blocos cirúrgicos e cinco salas de parto natural.

“É preciso ter muita fé”

A assistente social Priscila Faraco levava uma gestação sem intercorrências no pré-natal, feito regularmente. Porém, quando realizou o ultrassom morfológico com 22 semanas, o médico constatou que o colo do útero estava aberto. Ela chegou a ouvir de um profissional em um hospital particular de Belo Horizonte que, se nascesse naquele período, a filha não sobreviveria. 

“No meu caso, não havia nada a ser feito para fechar o útero. Fiquei em choque. Na época, foi necessário manter o repouso absoluto por um mês. Quando atingi 27 semanas, o tampão (camada gelatinosa que se forma no colo do útero durante a gravidez) saiu. Foi quando decidi procurar o CMI, por ser perto de onde eu morava na época e já ter ouvido falar bem”, conta. 


Assistente social Priscila Faraco e a filha Olívia, de 1 ano e 10 meses. Foto: Sara Lira

Ao chegar ao hospital, ela ainda ficou internada por mais alguns dias, até que a bolsa se rompeu e foi necessário realizar uma cesárea de emergência. “Minha filha foi direto para a UTI e ficou 82 dias internada. Nesse período, teve infecção e meningite, entre outras complicações. Em todo o tempo, fomos acolhidas com muito carinho”, diz. A garotinha precisou fazer algumas terapias nos primeiros meses de vida e vive atualmente saudável e sem sequelas. 

“Para os pais que enfrentam a luta de ter um bebê prematuro, eu diria para terem muita fé, pois é fundamental, e também para confiarem na equipe médica. Serão tempos difíceis, mas é importante acreditar que tudo vai dar certo”, conclui. 

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