EFEITO CONTRÁRIO

Cuidados com a saúde podem ser nocivos sem orientação

Morte de aluno se exercitando em academia chama atenção para importância do acompanhamento de profissionais 

Por Iêva Tatiana

Publicado em 31 de maio de 2025 | 09:00

 
 
Prática de atividade física não é sinônimo de saúde se não for individualizada e acompanhada por profissionais Prática de atividade física não é sinônimo de saúde se não for individualizada e acompanhada por profissionais Foto: Freepik/Reprodução

Quando o assunto é atividade física, vale aquela máxima: “antes tarde do que nunca”. No entanto, não basta começar, é necessário tomar alguns cuidados para evitar que a busca pela saúde acabe se transformando em um problema. Segundo a cardiologista Fernanda Barcelos, do Hospital Mater Dei Betim-Contagem, a recomendação é válida tanto para adultos quanto para jovens. “A atividade física não é vilã, ela tem inúmeros benefícios, mas a pessoa que vai começar uma prática moderada a intensa deve fazer uma avaliação antes de se expor a algum risco”, ressalta a médica.

A orientação da profissional pode ajudar a evitar episódios como o do último dia 7, quando um homem de 59 anos morreu após sofrer uma parada cardiorrespiratória enquanto se exercitava na esteira de uma academia da cidade. De acordo com relatos passados à equipe do Samu, a vítima se sentiu mal e caiu. Informações davam conta de que o homem teria hipertensão e estaria justamente procurando mudar hábitos de vida e cuidar da saúde.

Fernanda explica que 70% das mortes súbitas de pessoas com mais de 35 anos durante a prática de atividade física estão relacionadas ao entupimento de vasos sanguíneos provocado pelo acúmulo de gordura. A hipertensão e o diabetes são fatores de risco, ressalta a cardiologista.

Na medida certa

O analista de sistema Juliano Evangelista, de 47 anos, abandonou o sedentarismo exatamente por conta dessas patologias. Há cinco anos, ele descobriu que estava hipertenso e pré-diabético. “Procurei um médico, e ele me indicou a atividade física como tratamento. Eu comecei a correr, perdi 18 kg e mudei de vida. Hoje, também faço pilates e academia com o acompanhamento de um personal trainer”, conta. “Faço exames a cada seis meses com cardiologista e endocrinologista justamente para não correr riscos”, completa o analista de sistema.

A personal trainer Laura Lima pondera que nem todo mundo tem essa consciência, e muitos acabam negligenciando medidas importantes que precisam ser tomadas antes de se exercitarem. “Algumas pessoas não são orientadas e acreditam que só de estarem na academia estão cuidando da saúde, mas, às vezes, elas não estão aptas para seguir um determinado ritmo de atividade”, frisa a profissional de educação física.

Conduta adequada

Para quem quer começar a se exercitar, a cardiologista Fernanda Barcelos indica uma avaliação médica para verificação de sintomas, histórico de doenças na família e realização de exames básicos, como sangue e eletrocardiograma. “Eles já dão um panorama importante e podem evitar um desfecho negativo como o do paciente que faleceu na academia”, pontua.

Personal trainer há mais de uma década, Natacha Mendes reforça essas orientações. “Uma avaliação física detalhada permite a identificação de desvios posturais, condição cardiorrespiratória, doenças preexistentes e condição geral da saúde do indivíduo. Iniciar um treinamento sem as informações básicas e uma avaliação física feita por profissionais capacitados é uma irresponsabilidade sem tamanho”, alerta.

A administradora de empresa Andréia Dornas, de 43 anos, é aluna de Natacha e não abre mão de ser acompanhada de perto nas suas atividades físicas, embora frequente academias desde a adolescência. “A maioria dos estabelecimentos não pede nem um atestado médico pra você entrar. A presença de um educador físico é responsabilidade das academias, mas elas não estão preparadas para disponibilizar profissionais com mais rigor”, observa Andréia.

Posicionamento

Proprietário, professor e personal trainer da academia onde um aluno faleceu no início do mês, Igor Trindade contou que o homem era hipertenso, mas fazia acompanhamento médico e tomava medicação, além de ter passado por uma avaliação física no local, como de praxe, segundo Trindade. “Quando um aluno se matricula aqui, agendamos uma avaliação com o fisioterapeuta, que faz toda uma anamnese, afere a pressão arterial e a frequência cardíaca. Nos casos em que há alguma coisa fora do normal, nós também pedimos um atestado médico”, explica.

O proprietário conta que estava na academia no momento em que o homem passou mal e ouviu um barulho típico de pessoa caindo da esteira - o que, segundo ele, não é incomum. Trindade correu para ver o que tinha acontecido. “Geralmente, nos casos de queda acidental, a gente logo se depara com a pessoa se levantando, constrangida. Mas ele estava desacordado e convulsionando. Minha primeira atitude foi virá-lo, por conta da convulsão. Uma aluna da academia que é cardiologista e um estudante de medicina logo chegaram e deram início aos primeiros socorros, e eu acionei o Samu”, relembra.

Apesar dos esforços e das orientações passadas pelo atendente do Samu por telefone, o homem não resistiu, e a equipe médica que atendeu a ocorrência constatou o óbito ainda no local. 

“Nós sabíamos que ele era hipertenso. Isso foi verificado na avaliação física que fizemos com ele. A musculação e os exercícios aeróbicos não são proibidos nesses casos - pelo contrário -, desde que a pressão esteja controlada. E ele usava medicamentos para isso”, ressalta Trindade. 

O professor e personal trainer diz ainda que todos ficaram abalados com o episódio e, em respeito à família do aluno e aos que presenciaram o ocorrido, a administração da academia optou por manter as portas fechadas durante dois dias.