Quando o assunto é atividade física, vale aquela máxima: “antes tarde do que nunca”. No entanto, não basta começar, é necessário tomar alguns cuidados para evitar que a busca pela saúde acabe se transformando em um problema. Segundo a cardiologista Fernanda Barcelos, do Hospital Mater Dei Betim-Contagem, a recomendação é válida tanto para adultos quanto para jovens. “A atividade física não é vilã, ela tem inúmeros benefícios, mas a pessoa que vai começar uma prática moderada a intensa deve fazer uma avaliação antes de se expor a algum risco”, ressalta a médica.
A orientação da profissional pode ajudar a evitar episódios como o do último dia 7, quando um homem de 59 anos morreu após sofrer uma parada cardiorrespiratória enquanto se exercitava na esteira de uma academia da cidade. De acordo com relatos passados à equipe do Samu, a vítima se sentiu mal e caiu. Informações davam conta de que o homem teria hipertensão e estaria justamente procurando mudar hábitos de vida e cuidar da saúde.
Fernanda explica que 70% das mortes súbitas de pessoas com mais de 35 anos durante a prática de atividade física estão relacionadas ao entupimento de vasos sanguíneos provocado pelo acúmulo de gordura. A hipertensão e o diabetes são fatores de risco, ressalta a cardiologista.
O analista de sistema Juliano Evangelista, de 47 anos, abandonou o sedentarismo exatamente por conta dessas patologias. Há cinco anos, ele descobriu que estava hipertenso e pré-diabético. “Procurei um médico, e ele me indicou a atividade física como tratamento. Eu comecei a correr, perdi 18 kg e mudei de vida. Hoje, também faço pilates e academia com o acompanhamento de um personal trainer”, conta. “Faço exames a cada seis meses com cardiologista e endocrinologista justamente para não correr riscos”, completa o analista de sistema.
A personal trainer Laura Lima pondera que nem todo mundo tem essa consciência, e muitos acabam negligenciando medidas importantes que precisam ser tomadas antes de se exercitarem. “Algumas pessoas não são orientadas e acreditam que só de estarem na academia estão cuidando da saúde, mas, às vezes, elas não estão aptas para seguir um determinado ritmo de atividade”, frisa a profissional de educação física.
Para quem quer começar a se exercitar, a cardiologista Fernanda Barcelos indica uma avaliação médica para verificação de sintomas, histórico de doenças na família e realização de exames básicos, como sangue e eletrocardiograma. “Eles já dão um panorama importante e podem evitar um desfecho negativo como o do paciente que faleceu na academia”, pontua.
Personal trainer há mais de uma década, Natacha Mendes reforça essas orientações. “Uma avaliação física detalhada permite a identificação de desvios posturais, condição cardiorrespiratória, doenças preexistentes e condição geral da saúde do indivíduo. Iniciar um treinamento sem as informações básicas e uma avaliação física feita por profissionais capacitados é uma irresponsabilidade sem tamanho”, alerta.
A administradora de empresa Andréia Dornas, de 43 anos, é aluna de Natacha e não abre mão de ser acompanhada de perto nas suas atividades físicas, embora frequente academias desde a adolescência. “A maioria dos estabelecimentos não pede nem um atestado médico pra você entrar. A presença de um educador físico é responsabilidade das academias, mas elas não estão preparadas para disponibilizar profissionais com mais rigor”, observa Andréia.
Proprietário, professor e personal trainer da academia onde um aluno faleceu no início do mês, Igor Trindade contou que o homem era hipertenso, mas fazia acompanhamento médico e tomava medicação, além de ter passado por uma avaliação física no local, como de praxe, segundo Trindade. “Quando um aluno se matricula aqui, agendamos uma avaliação com o fisioterapeuta, que faz toda uma anamnese, afere a pressão arterial e a frequência cardíaca. Nos casos em que há alguma coisa fora do normal, nós também pedimos um atestado médico”, explica.
O proprietário conta que estava na academia no momento em que o homem passou mal e ouviu um barulho típico de pessoa caindo da esteira - o que, segundo ele, não é incomum. Trindade correu para ver o que tinha acontecido. “Geralmente, nos casos de queda acidental, a gente logo se depara com a pessoa se levantando, constrangida. Mas ele estava desacordado e convulsionando. Minha primeira atitude foi virá-lo, por conta da convulsão. Uma aluna da academia que é cardiologista e um estudante de medicina logo chegaram e deram início aos primeiros socorros, e eu acionei o Samu”, relembra.
Apesar dos esforços e das orientações passadas pelo atendente do Samu por telefone, o homem não resistiu, e a equipe médica que atendeu a ocorrência constatou o óbito ainda no local.
“Nós sabíamos que ele era hipertenso. Isso foi verificado na avaliação física que fizemos com ele. A musculação e os exercícios aeróbicos não são proibidos nesses casos - pelo contrário -, desde que a pressão esteja controlada. E ele usava medicamentos para isso”, ressalta Trindade.
O professor e personal trainer diz ainda que todos ficaram abalados com o episódio e, em respeito à família do aluno e aos que presenciaram o ocorrido, a administração da academia optou por manter as portas fechadas durante dois dias.