Há cerca de um mês, quando uma nova escola passou a operar no bairro Arquipélago Verde, na região Central de Betim, as reclamações sobre o trânsito intenso na região nos horários de entrada e de saída dos alunos cresceram – isso porque no bairro já existe outra escola funcionando há muitos anos, e o tráfego de veículos nas poucas ruas do bairro já era alvo de reclamações por parte dos moradores.
Mas a chegada de 670 alunos do Sesi Betim, somados aos 1.200 já atendidos pelo Educare, sobrecarregou muito o tráfego do bairro, que é historicamente pequeno e conta com um único acesso. Além disso, o bairro recebeu, nos últimos anos, um condomínio residencial, um asilo, uma transportadora e, mais recentemente, um condomínio logístico – ainda em construção.
Somam-se ao crescimento do bairro o desrespeito de motoristas, que param em fila dupla (para pegar os filhos em frente à escola) ou sobre as rotatórias que existem no bairro (para esperá-los no carro). É do que mais reclama uma pessoa que trabalha no Arquipélago Verde e pediu para não ser identificada.
“Os motoristas param em fila dupla e também em cima da rotatória, dificultando ainda mais o trânsito. Agora, começaram a colocar cones pretos e amarelos na rua, não sei com qual intuito, e as vans escolares, para saírem deles, invadem a faixa da contramão. Aí, quem está na mão correta tem que parar e ficar esperando a fila de carros da outra mão passar para prosseguir”, conta. Ela diz que, para evitar enfrentar o problema todos os dias e conseguir chegar no horário ao trabalho, tem saído meia hora mais cedo de casa.
Outros moradores apontaram uma preocupação em relação ao asilo. “Se um dos idosos precisa de um atendimento emergencial do Samu exatamente no horário da saída dos alunos? Eles têm a saúde frágil, e a demora em um socorro pode ser fatal”, diz um morador que também pediu para não ser identificado. “Eu moro no Arquipélago Verde há cerca de dez anos e nunca peguei trânsito parado na avenida Brasil, que dá acesso ao bairro, e essa cena tem sido constante após a chegada do Sesi”, disse outra moradora.
Procurada, a prefeitura anunciou dois projetos de mobilidade para melhorar o trânsito da região. O intuito, segundo o Executivo municipal, é oferecer uma alternativa que dê vazão a esse expressivo número de veículos que provoca grande retenção, comprometendo a locomoção de moradores, pais de alunos e funcionários.
O primeiro, que já está em discussão com o Sesi Betim, segundo a prefeitura, propõe, primeiramente, eliminar a rotatória que fica na avenida Brasil com as ruas Gemini (acesso ao Cidade Verde) e Capri (Arquipélago Verde) e, no lugar, instalar um semáforo. A proposta visa ainda abrir uma alça de acesso ao Arquipélago Verde para quem vem do sentido Bandeirinhas, de modo que esse condutor acesse diretamente o bairro sem precisar passar pela rotatória (local que, futuramente, receberá semáforos).
Já o segundo projeto, que será elaborado pela Secretaria de Ordenamento Territorial e Habitação (Sorteh), prevê a criação de um binário (uma via de entrada e uma de saída), com a abertura de uma nova rua ligando a rotatória da rua Capri, já dentro do bairro Arquipélago Verde, à rua Padre Osório, que dá acesso ao bairro Jardim Petrópolis. Essa nova via, de acordo com a administração municipal, terá cerca de 100 m de extensão, e a obra envolverá terraplanagem, drenagem pluvial e a construção de uma ponte sobre o córrego existente na área. A medida tornará mão única a entrada atual do bairro, pela rua Capri, enquanto a nova via será a saída do bairro. As intervenções serão realizadas pela Empresa de Construções, Obras, Serviços, Projetos, Transportes e Trânsito (Ecos), órgão municipal.
A prefeitura informou que, de forma imediata, intensificou a presença de agentes de trânsito nos períodos mais críticos — entre 6h30 e 7h30 e entre 12h30 e 13h30 —, reforçando a sinalização e promovendo ações educativas e corretivas.
“A diretoria de Transportes e Trânsito da Ecos também ampliou a fiscalização para coibir irregularidades como o estacionamento em fila dupla”, diz o texto da prefeitura.
O prefeito Heron Guimarães informou que o município solicitou aos colégios medidas como reestruturação logística e colaboração com pais e responsáveis para o uso racional do espaço urbano.
“Tenho certeza de que esses projetos já vão fazer uma diferença significativa não apenas para os moradores – hoje os mais prejudicados –, mas para as próprias escolas, os pais e os estudantes. São projetos que nos permitirão também futuras intervenções para acompanhar o crescimento da região”, pontuou o gestor.
A prefeitura informou que a região do Arquipélago Verde será beneficiada com a criação da Operação Urbana Consorciada Simplificada (OUC-s), prevista na Lei Municipal nº 7.368/2023, que permitirá a implantação de alterações no sistema viário, a serem executadas após a construção de um condomínio logístico da construtora EPO.
Segundo a prefeitura, o empreendimento abrirá – como última etapa da operação – rotas alternativas para acesso ao bairro, por meio da alça viária da BR–262, ajudando a desafogar o tráfego. O acesso de veículos de grande porte aos empreendimentos industriais e comerciais a serem instalados na área se dará por esse contorno rodoviário, não dentro do bairro.
Para mitigar os impactos provocados no Arquipélago Verde, as unidades de ensino – Educare e Sesi – informaram que adotaram medidas como o escalonamento dos horários de entrada e saída das turmas, com um intervalo de 20 minutos entre as escolas, minimizando o fluxo simultâneo de veículos no bairro.
O Colégio Educare disse ainda que está planejando implantar o sistema Drive Thru, que vai direcionar o embarque e o desembarque dos alunos que usam o transporte escolar para a área de estacionamento interno da unidade.
Em resposta à reportagem, os dois colégios informaram ainda que estão mantendo diálogo com a prefeitura e com a Câmara no sentido de contribuir para a melhoria da mobilidade urbana local.
“Essa parceria tem sido construída com responsabilidade e espírito colaborativo, sempre com foco no bem-estar da comunidade”, disse o Sesi em nota. “Estamos cientes das dificuldades, mas também confiantes de que, com o esforço conjunto, será possível encontrar alternativas que garantam a segurança e a fluidez no tráfego”, declarou o Educare.