CENSO

Fé dividida: católicos são 43,3% em Betim, e evangélicos, 38,94%

Pesquisa do IBGE revela perfil religioso da população e tendência de inversão do cenário atual no município

Por Iêva Tatiana
Publicado em 21 de junho de 2025 | 09:00
 
 
Evangélico, Wanderson Braga foi batizado no início deste ano; já Grah Gonçalves segue firme no catolicismo

No mês em que os católicos celebram o Corpus Christi – liturgia que simboliza a presença de Cristo na Eucaristia, lembrando a morte e a ressurreição de Jesus –, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um recorte do Censo Demográfico 2022 que mostra um recuo no número de fiéis do catolicismo no país na comparação com o levantamento anterior, de 2010. Já os evangélicos e os sem religião avançaram no mesmo período.

De acordo com a pesquisa, entre um Censo e outro, o total de pessoas que se declararam católicas caiu de 65,1% para 56,7%, enquanto as evangélicas passaram de 21,6% para 26,9%. Os que afirmaram não ser religiosos correspondiam a 7,9% dos declarantes na penúltima apuração e 9,3% na mais recente.

Em Betim, católicos e evangélicos predominam com números equilibrados: 154.600 (43,33%) e 138.923 (38,94%), respectivamente. A exemplo do que ocorreu no território nacional, o terceiro resultado mais expressivo no município foi o de habitantes sem religião (35.419, o equivalente a 9,93% do total).

Perspectivas

Na avaliação do padre Alan Pereira, da Paróquia Santa Teresa de Calcutá, no bairro Guanabara, têm faltado constância, renúncia e entrega para seguir no catolicismo. “A fé cristã exige compromisso, e muitos hoje preferem uma espiritualidade imediata, sem exigências, sem vínculo com a comunidade, sem responsabilidade com os outros. A Igreja continua sendo mãe e mestra, oferecendo tudo o que sempre ofereceu: a palavra, os sacramentos, a caridade, a verdade. Mas vivemos uma época em que muitas pessoas querem uma fé que não confronte, que não peça mudança de vida. E, quando isso acontece, elas acabam se distanciando. A fé não pode ser só um sentimento, precisa ser uma decisão, um caminho de vida”.

Já o pastor Eduardo César Domingos, da Igreja Batista Nova Canaã, no Centro, atribui o crescimento do número de evangélicos a uma estratégia que vem sendo empregada em todo o mundo: “Vou dar o exemplo da nossa igreja. Criamos uma escola de líderes e capacitamos os fiéis para que eles possam abrir pequenos grupos em suas casas. Cada célula vai convidando novas pessoas, que não são evangélicas, a participar de um momento de estudo da palavra, de louvor, comunhão, brincadeiras e lanche. Enquanto isso, as pessoas estão sendo evangelizadas, e, de repente, há novas conversões e mais gente aceitando Jesus. Esse crescimento [de evangélicos] no Brasil está sendo exponencial em função dessa transição da igreja tradicional, em que o pastor faz tudo, para a nova, em célula”.

Vivências distintas

O personal trainer Wanderson Braga, de 30 anos, corrobora o resultado do Censo 2022. De família católica, ele passou a frequentar igrejas evangélicas em um período em que foi casado, acompanhando a esposa. Após a separação, ele se afastou da religião em razão da rotina de trabalho e da falta do veículo, que, segundo Braga, vivia na oficina. “Fiz uma promessa: se meu carro não quebrasse mais, eu voltaria pra igreja. E assim foi. Depois disso, tive só melhorias na minha vida”, afirma. “O catolicismo é muito da tradição, do feijão com arroz. A igreja evangélica nos direciona mais a palavra, faz a gente abrir a bíblia e interpretar o Evangelho”, diz Braga.

Já a auxiliar administrativo Grah Gonçalves, de 33 anos, sempre foi segura da sua escolha de seguir no catolicismo, religião que a acompanha desde o nascimento. “Hoje, ser católica é a base da minha fé. Estar com Jesus, participar e cantar nas missas sustenta a minha vida, me refaz”, diz. “Essa é a religião em que cresci, na qual eu acredito, que estudo e pela qual me torno mais apaixonada a cada dia”.

Intolerância religiosa pode mascarar resultados

De matriz africana, a umbanda e o candomblé também aparecem no levantamento do IBGE. Em Betim, 1.371 (0,38%) pessoas declararam ser dessas religiões. Para a mãe de santo Sarah Campos, zeladora de um templo de umbanda no Chácara, a intolerância religiosa, a desaprovação familiar e a resistência do próprio declarante podem interferir no resultado.

“Geralmente, mesmo sendo da umbanda ou do candomblé, a pessoa fala que é espírita, por exemplo, por entender que será menos julgada, já que o espiritismo é uma religião aceita pela sociedade”, avalia. “Mas, quanto mais embasamento tivermos sobre nossa ética, nossa história e nossos antepassados, mais armados estaremos na luta pelo reconhecimento ímpar do trabalho que nós, que somos do axé, podemos trazer para a sociedade”, completa.