ADOÇÃO

Sepa busca combater preconceito e incentiva adoção de pit-bulls

Docilidade é característica natural da raça; segundo veterinário, agressividade é resultado da criação

Por Vitor Hugo da Rocha

Publicado em 14 de agosto de 2025 | 17:17

 
 
Cinco machos e quatro fêmeas da raça pit-bull ou mestiços aguardam por um lar na sede da Sepa Cinco machos e quatro fêmeas da raça pit-bull ou mestiços aguardam por um lar na sede da Sepa Foto: Brandon Santos

Eles têm fama de maus e são alvos frequentes de preconceito. No entanto, as características naturais dos pit-bulls são justamente a docilidade e a lealdade. Na Secretaria Adjunta de Proteção Animal (Sepa), nove cães da raça estão disponíveis para adoção atualmente (cinco fêmeas e quatro machos). O objetivo do órgão é mostrar que eles podem ser criados em casa e conviver com pessoas e outros animais. O veterinário comportamental Thiago Campos, inclusive, ressalta que a agressividade dos cães, independentemente da raça, está relacionada à criação ou a problemas de saúde. “Nosso trabalho com pit-bulls é igual ao de qualquer outra raça: avaliamos saúde e comportamento e, se houver agressividade, identificamos a causa para tratar. O objetivo é mostrar o comportamento que queremos do cachorro. Com orientação e adaptação, a adoção é segura”, afirma o especialista na área.


Crimes recorrentes

Os pit-bulls e outros animais chegam à Sepa por diferentes motivos, mas principalmente após denúncias de maus-tratos, que podem ser feitas pelo WhatsApp (31) 98253-9153, com garantia de sigilo. Nesses casos, uma equipe formada por veterinária, auxiliar e guardas municipais vai até o local indicado para verificar a situação. O resgate só é realizado se o animal estiver doente ou em perigo. Quando o cão é vítima de maus-tratos, recebe tratamento veterinário e acompanhamento antes de ser colocado para adoção. Durante o processo, o tutor é informado sobre a possibilidade de a Justiça solicitar a devolução do animal se necessário. 

Hoje, a Sepa mantém cerca de 150 animais permanentes, sendo 110 cães e 40 gatos. Além disso, aproximadamente cem animais estão em tratamento, e outros 200 aguardam adoção. Quem adota um animal no local tem direito a assistência veterinária. Pra adotar, é preciso ser maior de idade, apresentar identidade, CPF e comprovante de endereço, além de passar por uma entrevista. Após a adoção, a equipe acompanha o tutor e o animal para verificar a adaptação. Além disso, durante toda a vida do pet, ele terá direito a atendimento veterinário gratuito. 

Evento de adoção exclusivo para eles


Para incentivar a adoção e combater o preconceito contra a raça, a Sepa vai promover, no dia 6 de setembro, das 9h às 13h, um evento exclusivo com os nove pit-bulls que estão abrigados na sede do órgão (rua do Rosário, 1.840, bairro Angola). Mas quem quiser adotar antes disso, é só ir até a Sepa de segunda a sexta. Contato: (31) 3531-3660. 

Lei Sansão endureceu penalidade

Em 2020, a pena para quem maltrata cães e gatos foi endurecida no Brasil. A mudança na legislação foi motivada por um pit-bull que ganhou notoriedade nacional depois de ter sido vítima de uma crueldade: Sansão teve as patas traseiras decepadas em Confins, na região metropolitana, naquele mesmo ano. A Lei 14.064, conhecida como Lei Sansão – originária de um projeto de lei do deputado Fred Costa (PRD) – estabelece reclusão de dois a cinco anos, além de multa e proibição de guarda a quem abusa, maltrata, fere ou mutila animais de estimação. 

Cruzamento de terrier e buldogue deu origem à raça

Os pit-bulls ou, oficialmente, american pit-bulls terrier, são resultado de um experimento feito por criadores da Inglaterra, da Irlanda e da Escócia para unir a esportividade do terrier ao atletismo do buldogue. A nova raça foi levada para os Estados Unidos e chamou a atenção de fazendeiros e rancheiros por conta da resistência, da coragem e da gentileza. Logo, os animais passaram a ser utilizados para proteção, na captura do gado semisselvagem e de porcos, como ajudantes nas caçadas, cães- pastores e companhia para as famílias, segundo a Confederação Brasileira de Cinofilia.

Apesar do estigma que carrega, a raça não é agressiva por natureza, conforme confirmou uma pesquisa estadunidense de 2022. O estudo apontou que o comportamento do animal depende de quem o cria e sugeriu um olhar mais atento aos antigos estereótipos e preconceitos.