DE VOLTA AO TEMPO

Ronco nostálgico: resgate da juventude pelos carros

Segundo episódio da série apresenta colecionadores de veículos antigos; paixões são reveladas nos carros que marcaram épocas

Por Brunna da Matta Amorim

Publicado em 28 de setembro de 2025 | 09:00

 
 
Victor Hugo, Borginho, Toninho Lara e Márcio Augusto são quatro colecionadores de carros antigos em Betim Victor Hugo, Borginho, Toninho Lara e Márcio Augusto são quatro colecionadores de carros antigos em Betim Foto: Arquivo Pessoal/Brandon Santos

O segundo episódio da série De volta ao TEMPO, que conta histórias de betinenses apaixonados por itens retrôs, apresenta os colecionadores de veículos antigos. Paixões são reveladas nos carros que marcaram épocas.

Paixão que atravessa o oceano

Crescido em uma loja de autopeças, o médico Victor Hugo Rodrigues resgata, em sua coleção de carros antigos, as lembranças de sua juventude. Aos 56 anos, ele conta que foi naquele ambiente comercial que nasceu a paixão pelos automóveis.

O primeiro veículo de Victor foi um Santana 1989, azul, que ele teve durante o curso de medicina. O carro não está mais com ele, mas é lembrado por uma réplica: o Santana 2.000 GLS, também de 1989, desta vez na cor prata. Entre os veículos mais antigos da coleção, destaca-se o Opala SS 1978 laranja boreal, que está com o médico há 13 anos e é o carro mais longevo do acervo.

Mas o favorito dele é outro: o Opala SS 1979 amarelo candeia. “É quase uma réplica do que meu pai teve, um exemplar do mesmo modelo e da mesma cor. Ele leva o apelido que meus familiares deram ao meu pai: Zeca”, conta.

O médico, que morou na cidade por 19 anos, hoje divide a rotina entre Leiria, em Portugal, onde vive com a família há um ano, e Betim, que visita mensalmente para o trabalho. Pra conservar os carros, Victor revela o segredo: “É usar esses veículos ao máximo! Utilizo em revezamento no meu dia a dia. Como acontece com o corpo humano, eles precisam estar em atividade para não dar defeito”, explica o médico.

Tradição que segue viva pelas gerações da família

Nascido e criado na oficina do pai lanterneiro, o empresário Anderson Borges, de 60 anos, lembra que começou a lidar com carros antigos com apenas 7 anos. Conhecido como Borginho, ele conta que foi no trabalho do pai que nasceu a paixão pelos clássicos, a qual mantém até hoje e já transmite aos filhos e netos.

O carro mais antigo da coleção de Borginho, com o maior tempo de fabricação, é uma Caravan 1976, mas o veículo do coração é o Opala, do qual ele diz ser suspeito para falar, afinal o carro também já é o preferido do neto. O modelo foi, inclusive, sua primeira máquina adquirida aos 18 anos.

“Dei bobeira, coloquei preço, e o cara levou”, relembra. Hoje, ele possui outro 3800, na mesma cor vinho, apenas com um motor diferente, que simboliza o início de muita história: “É uma paixão, vai ficar na família para sempre”, afirma o empresário, que mora em Betim há 50 anos.

Clássicos estão presentes na rotina

Antônio Eugênio Lara, de 64 anos, começou a colecionar carros há oito. Conhecido com Toninho, o serventuário da Justiça mora em Betim desde que nasceu e conta que foi influenciado para esse universo antigo pelo cunhado.

O seu primeiro carro foi um Cadillac Eldorado Conversível 1971, que mantém com ele. Toninho conta que o carro foi totalmente desmontado e restaurado pelo mecânico especialista em carros antigos Márcio Augusto Neves.

Mas o dia a dia é marcado pelo Opala 1980. O carro está presente na rotina de Toninho, que revela o motivo da escolha. “Pelo conforto e pela facilidade, apesar de ter o apelido ‘Teimoso’”, brinca.

Um hobby que virou profissão

Responsável por muitos carros do Brasil, o mecânico de veículos antigos Márcio Augusto Neves, de 53 anos, atua na profissão há 25. Morador de Betim há uma década, tem em seu portfólio, os modelos americanos em maioria, mas os brasileiros e os europeus também estão presentes.

Atendendo clientes por todas as regiões do país, o mecânico revela que o mais prazeroso é ver os carros andando. “Há também a oportunidade de conhecer lugares e pessoas diferentes”, conta Márcio Augusto.

Apaixonado por automóveis desde a infância, uma herança do pai, que tinha uma oficina, Márcio chegou a se afastar dos carros para trabalhar em uma empresa de montagem industrial após o falecimento do pai. Mas problemas de saúde — um infarto e um derrame — o impediram de continuar no emprego, e ele transformou o hobby, um sonho de infância, em profissão.

Ao ser perguntado sobre qual foi o carro mais especial com o qual já trabalhou e que marcou a oficina, o mecânico afirma: “cada carro é um filho e possui sua particularidade”. Mas ele revela o veículo antigo com que ainda sonha trabalhar: uma Lamborghini Countach.

Vintage Motors Club carrega histórias

O Vintage Motors Club de Betim é uma entidade sem fins lucrativos formada por entusiastas de carros clássicos e motos, e hoje conta com 15 sócios. Foi fundado em 2015 pelo médico Victor Hugo, atual vice-presidente, junto com o empresário Anderson Borges, presidente do clube.

Um dos destaques da entidade é a causa social, presente principalmente na exposição anual de veículos antigos em Betim, quando se arrecadam fraldas – neste ano, foram obtidas 5.000 unidades. Outra ação do Vintage é a disponibilização do espaço do clube para a realização de eventos cuja arrecadação é destinada para a compra de materiais hospitalares, que são doados para pessoas que necessitam de ajuda. Com essa iniciativa, diversas instituições e moradores são apoiados pelo clube.

Quanto aos valores das relíquias, os sócios do clube afirmam que ao carro antigo não se pode dar preço. “É o valor que você escolhe para a paixão, não existe uma tabela. O veículo vai variar conforme o estado de conversação e o amor pelos carros”, diz o sócio e diretor de marketing da entidade, Fabrício Freire.

O clube é vinculado à federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), organização que se dedica à proteção, à preservação e à promoção de veículos históricos e da cultura automotiva. É a federação que verifica a originalidade dos veículos, certificando os carros com a placa de patrimônio histórico, conhecida também por placa preta.

Reconhecimento como carro de colecionador

A maioria dos veículos antigos possui a placa de patrimônio histórico, a desejada placa preta. Para um veículo estar apto a ser considerado como de coleção, o carro precisa ter, no mínimo, 30 anos e passa por uma vistoria, que identifica se ele tem, pelo menos, 82% de originalidade, além de estar em bom estado de conservação. Alguns itens trocados, como o motor e o banco, levam à desclassificação.

A placa preta possui validade de cinco anos e é nominal, o que garante a conservação do veículo. Em caso de venda, é necessário fazer a transferência também do Certificado de Veículo de Coleção.

Os integrantes do Vintage Motors Club contam que a valorização do veículo antigo aumenta com a certificação, mas a placa precisa ser homologada pela Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA).

Pra se ter o carro reconhecido, é necessário procurar o clube, responsável por providenciar a documentação e a vistoria. Todas as informações são enviadas para a federação, que faz a conferência e, se tudo estiver certo, a aprovação.

Após isso, o responsável pelo veículo vai até o Detran para a homologação e o emplacamento. O processo, com a certificação, tem um custo que varia entre R$ 700 e R$ 800 e confere uma valorização ao maior ao veículo.