INSEGURANÇA

Aparições de escorpiões deixam moradores de Betim em alerta

População diz se sentir desamparada e pede ações mais efetivas do poder público

Por Lisley Alvarenga do Nascimento e Daniele Marzano

Publicado em 05 de setembro de 2025 | 01:38

 
 
Wesley pereira diz que já encontrou escorpiões até debaixo do berço de uma das filhas Wesley pereira diz que já encontrou escorpiões até debaixo do berço de uma das filhas Foto: Carolina Miranda

Moradores de diversos bairros de Betim têm observado uma presença constante de escorpiões em quintais, garagens e até dentro de residências. Os casos, registrados em localidades como Icaivera, Guarujá, Alterosas, Duque de Caxias, Jardim Petrópolis e Arquipélago Verde, levantam a preocupação sobre o risco de acidentes e a falta de controle desses animais, especialmente com a proximidade do período mais quente do ano — quando a incidência deles costuma aumentar.

Um dos casos mais impressionantes registrados pela reportagem ocorreu no Guarujá, onde uma moradora encontrou cinco escorpiões de uma vez na sala de televisão. “Como estavam juntos, penso que podiam ser a mãe e os filhotes”, diz. Ela acionou uma empresa especializada em dedetização para se livrar dos animais. A moradora conta que os escorpiões sempre aparecem logo depois que a escola que fica próximo faz capina. “Tenho pavor quando escuto barulho de roçadeira. Sei que eles podem aparecer”, afirma ela, revelando que passou a arrastar os sofás diariamente, por medo de picadas, sobretudo por ter netos pequenos. 

No Arquipélago Verde, onde há área de preservação ambiental e muitos lotes vagos, moradores estão apavorados com o surgimento dos escorpiões. Em 15 dias, o casal Wagner Dias Rezende e Cláudia Marise Melo encontrou dois dentro de casa. “O primeiro, de tamanho pequeno, achei na lavanderia, e ele até se fingiu de morto. Fiquei bem preocupada por ser filhote. Uns 15 dias depois, achei outro, enorme, na garagem”, conta Cláudia, que procurou o Centro de Controle de Zoonoses e Endemias e foi informada de que a função do órgão é a de orientar a população quanto a medidas preventivas. 

Na mesma rua, Paola Lanzalotta Marcelino encontrou dois escorpiões na residência. O primeiro apareceu morto no quintal e o segundo estava vivo, próximo à porta de entrada. “Está muito perigoso”, diz. 

Lídia Bonifácil Gonçalves, moradora da rua Agapanto, no Alterosas 2ª Seção, também relata episódios preocupantes: “Meu genro foi limpar a frente da minha casa e encontrou um escorpião. Eu mesma achei um na varanda. Minha vizinha disse que já achou mais de sete”.

Situação semelhante vive Joseane Rodrigues, que mora na mesma rua. “A rede de esgoto entupiu, e, desde então, começaram a aparecer muitos. Só na minha casa, foram mais de dez. Foi um desespero, tenho filhos pequenos. Uma picada pode ser fatal”, relata. Ela também buscou orientação da Zoonoses, mas disse ter se sentido desamparada quanto às medidas práticas. “A única coisa que falaram é para despejar água sanitária”, relata. 

Alexandra Garcia, moradora de um apartamento no Jardim Petrópolis, diz que decidiu agir de forma preventiva. “Dedetizamos por conta própria quando percebemos o aumento de casos. Sabemos que eles se alimentam de baratas e gostam de locais com entulho e lixo. Desde que cuidamos do quintal e fizemos a dedetização, não tivemos problemas”, afirma a moradora. 

O casal Wesley Pereira e Karen Lorrany Rodrigues de Oliveira, que vive no Icaivera, conta que já encontrou escorpiões até debaixo do berço de uma das filhas: “Nossa região tem muitos. Por isso, dedetizamos a casa com frequência”. 

Stela Rodrigues Souza, do Duque de Caxias, também viveu um susto: “Encontrei um na porta do banheiro quando eu e as crianças íamos escovar os dentes. Meu marido o matou no desespero. Depois disso, decidimos dedetizar, mesmo sem a recomendação da Zoonoses”, diz Stela. 

Lixo favorece

O aumento da presença desses animais está ligado à urbanização desordenada, ao crescimento de áreas com acúmulo de lixo e à baixa infraestrutura urbana, afirma o aracnólogo Adalberto Santos. “Não há estudos específicos que expliquem com precisão o aumento dos casos, mas sabemos que ambientes urbanos malcuidados favorecem a proliferação dos escorpiões”, diz. 

Quanto à eficácia da dedetização, o especialista alerta que pesticidas não têm eficácia duradoura contra os escorpiões. “Eles detectam a presença do veneno e se abrigam, podendo ficar semanas sem se alimentar. O método mais eficaz ainda é a prevenção: manter os ambientes limpos, vedar ralos, revisar roupas e calçados antes de usar, eliminar entulhos”, enfatiza. 

Soros

Em Betim, o Hospital Regional oferta quatro tipos de soros para tratar pessoas que são picadas por animais peçonhentos: antiaracnídico (para envenenamento por escorpião e aranhas marrom e armadeira); antibotrópico (para picadas de serpentes); anticrotálico (para envenenamento por cascavel); e antiescorpiônico (para picadas de escorpiões amarelo, marrom e preto).

Procurada pela reportagem para falar sobre medidas preventivas, a prefeitura não se manifestou.