
A publicação da portaria que reconhece o Centro de Memória da Hanseníase Luiz Verganin como Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT Municipal) inaugura um novo ciclo para a histórica região da Colônia Santa Isabel. A medida, publicada no Órgão Oficial do Município na segunda-feira (10 de novembro), é prevista no Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, e cria condições reais para que o território avance em pesquisa, preservação patrimonial, projetos culturais e ações tecnológicas que dialoguem com sua história singular.
Segundo ativistas, esse reconhecimento é inédito no Brasil quando aplicado a um centro de memória ligado à hanseníase e ao patrimônio histórico. Para Inhana Olga, diretora do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, (Morhan Betim), trata-se de uma virada institucional que coloca a Colônia Santa Izabel em um mapa nacional de inovação. “Essa é a primeira iniciativa no país que transforma um centro destinado à memória da hanseníase em um Instituto de Ciência e Tecnologia. Isso abre portas para pesquisas, convênios universitários, projetos de extensão e captação de recursos fora do eixo tradicional da cultura”, afirma.
Com a nova classificação, o Centro passa a ter autorização formal para atuar como instituição de pesquisa e inovação. Na prática, isso abre novas possibilidades. Entre elas, está a chance de firmar convênios com universidades federais, estaduais e privadas, permitindo que estudantes e pesquisadores desenvolvam trabalhos diretamente na Colônia Santa Izabel.
O reconhecimento também permite que o espaço desenvolva projetos de investigação voltados ao patrimônio histórico e às ruínas da Colônia — uma demanda antiga de quem atua na preservação do território. Além disso, o Centro pode agora participar de editais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e disputar recursos do Ministério Público e de fundos destinados a direitos difusos e coletivos, ampliando fortemente sua capacidade de captação.
Outro avanço está na possibilidade de oferecer interatividades tecnológicas e novos produtos educativos voltados tanto a visitantes quanto a pesquisadores, aproximando o público do acervo e da memória da hanseníase com ferramentas contemporâneas. “O Centro de Memória da Hanseníase Luiz Verganin sai do hall restrito da cultura e passa a disputar recursos e projetos na esfera científica e tecnológica. Isso muda tudo: permite trazer pesquisadores, desenvolver projetos de conservação e criar soluções inovadoras para preservar e contar essa história”, afirma Inhana.
O reconhecimento também fortalece o projeto do Museu Vivo, iniciativa que pretende transformar a Colônia Santa Isabel em um grande laboratório de memória, patrimônio e inovação. “O ICT permitirá que as universidades entrem na Colônia para fazer pesquisa e extensão. Os resultados dessas pesquisas serão revertidos em políticas públicas e em conteúdos para o Museu Vivo, que busca ser referência nacional na preservação e interpretação da história da hanseníase”, explica a diretora do Morhan.
Além da conservação física das ruínas, a tecnologia deverá ser usada para criar experiências interativas, ferramentas digitais e soluções inovadoras voltadas à educação patrimonial. “A inovação tecnológica vem para ajudar a conservar o que já existe e criar novas possibilidades de interação. Estamos falando de estudos sobre ruínas, projetos de restauração, soluções digitais e produtos que conectem a população com essa história de forma viva”, completa.