Entre os trabalhos, dois foram feitos em Luanda, capital de Angola, durante residência artística realizada em 2024. Da esquerda para direita: Osram, que significa "proteção", e Eban, que significa "resiliência e força"
Foto: Arquivo pessoal
Entre os trabalhos, dois foram feitos em Luanda, capital de Angola, durante residência artística realizada em 2024. Da esquerda para direita: Osram, que significa "proteção", e Eban, que significa "resiliência e força"
Foto: Arquivo pessoal
A artista betinense Dri Sant'ana está com o trabalho 'Nkenda', em exposição na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop). As obras de pintura reúnem elementos do Brasil e da África, com inspiração nas tradições afro-mineiras.
Ela explica que a palavra Nkenda tem origem kikongo, língua bantu falada pelo povo Kongo na República Democrática do Congo, Gabão e Angola, e significa "caminho", ou ainda, "caminho para dentro de si".
As obras remontam a trajetória da própria artista, que cresceu nas redondezas da Capela de Nossa Senhora do Rosário, em Betim, e participa do Reinado na cidade de Cláudio (leia mais ao fim da matéria). É uma forma de retornar às origens e trazer à tona a própria ancestralidade. Segundo ela, "mais que uma tradução, Nkenda é um gesto de retorno, uma travessia interior que ecoa as memórias de um continente que habita o corpo, a fé e o fazer artístico".
"A escolha desse nome não é acaso: é herança. Em Minas Gerais, o som do kikongo e do kimbundo permanece vivo nas canções e rituais do Reinado e do Congado, tradições afro-mineiras que guardam a força espiritual e a resistência de um povo", destaca Dri, no texto curatorial do trabalho.
No total são 14 obras, incluindo duas feitas durante residência artística que ela realizou em Luanda, capital de Angola, no ano passado. Um deles se chama Osram, que significa proteção; e o outro, Eban, que significa resiliência e força.
"Essa é minha primeira exposição individual, e em uma cidade muito representativa para a cultura afro, que é Ouro Preto. Foi onde nasceu Antônio Francisco Lisboa (conhecido como Aleijadinho, ele foi um dos maiores escultores do período colonial), uma referência que abriu caminhos para outros artistas. É muito simbólico para mim", destacou.
A visitação é gratuita e pode ser feita até 24 de janeiro de 2026, na Galeria de Arte Nello Nuno – Sala III. O espaço funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h, e aos sábados de 9h às 13h. A Faop fica na rua Getúlio Vargas, 185, no bairro Rosário, em Ouro Preto.
Dri é formada em artes visuais. Atualmente, mora em Cláudio, na região Oeste de Minas, mas nasceu em Betim, tendo crescido no bairro Angola.
No ano passado ela participou do programa de residência artística “Angola Air”, em Luanda, com o projeto “Angola Air: Encontros e Consonâncias com a Herança Afro Mineira”, que foi aprovado pela Lei Paulo Gustavo.
Na ocasião, ela pintou dois murais e pôde trocar experiências com artistas angolanos que também participaram do trabalho, como Oksanna Dias e Zbi.
Dri também é ativa nas celebrações de Congado, cultura sobre a qual sempre teve contato no bairro em que cresceu, mas que se aprofundou no período da faculdade. Desde 2015, ela participa do Terno de Nossa Senhora do Rosário da Comunidade do Corumbá, que pertence a um distrito de Cláudio. A partir de 2019, começou a fazer pinturas em aquarela e acrílica que retratam a movimentação do Congado e, ao lado do companheiro, o também artista Saulo Pico, realizou alguns murais na cidade mineira.