RESGATE DE MEMÓRIAS

Alunos da escola Newton Amaral levam educação patrimonial ao Núcleo Histórico Dois de Julho

Atividade faz parte da 10ª Jornada do Patrimônio Cultural de Minas e propõe reflexões críticas sobre a paisagem cultural do assentamento

Por Marcio Antunes

Publicado em 13 de setembro de 2025 | 10:47

 
 
Programação do projeto conta com reuniões como essa realizada em março com alunos da escola que moram no assentamento Programação do projeto conta com reuniões como essa realizada em março com alunos da escola que moram no assentamento Foto: Arquivo pessoal

Entre os dias 15 e 19 de setembro, estudantes da Escola Estadual Newton Amaral, no bairro Cachoeira, vão participar de atividades educativas no Núcleo Histórico do Assentamento Dois de Julho, bem tombado como patrimônio cultural de Betim desde 2011. A ação integra a programação da 10ª Jornada do Patrimônio Cultural de Minas Gerais, promovida pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), que neste ano traz o tema Paisagem Cultural e Patrimônio Toponímico.

As atividades serão realizadas por meio dos Círculos Populares de Cultura, metodologia inspirada no educador Paulo Freire. Segundo a professora e historiadora Adriana Lisboa, proponente da iniciativa e pesquisadora de mestrado na área, a proposta é aproximar a escola da comunidade e promover reflexões coletivas sobre o patrimônio material e imaterial do assentamento.

No primeiro momento, haverá uma roda de conversa com alunos e moradores sobre a história e a preservação do Núcleo. Depois, os estudantes vão produzir registros fotográficos a partir do conceito de paisagem cultural, com olhar crítico e autoral. Na etapa seguinte, será a vez de discutir os modos de fazer e a organização social da comunidade, em diálogo com os produtores agroflorestais do assentamento. “Queremos construir reflexões coletivas sobre o patrimônio sociocomunitário local e valorizar o conhecimento de quem vive essa realidade”, explica Adriana Lisboa.

Na semana seguinte, um novo encontro será realizado dentro da escola, quando os estudantes apresentarão as fotografias em rodas de conversa e relatarão as experiências vividas no campo. O material servirá de base para um relatório flexível, construído a partir da perspectiva dos próprios alunos.

Segundo Adriana, a iniciativa começou em dezembro do ano passado, quando foi apresentada aos alunos do ensino médio. “O projeto começou e aí vieram as férias escolares, mas, desde então, sigo envolvida. Dentro da linha de Paulo Freire, é importante conhecer primeiro a realidade da comunidade para depois, a partir daí, ir para a prática pedagógica. O projeto envolve a comunidade e a escola, pois o tema da pesquisa é: Patrimônio e Educação, uma abordagem nos contextos comunitário e escolar”, explicou.

De janeiro até agora, a professora tem participado das rotinas e vivências no Núcleo. "Nesse período de imersão, estão inseridos os alunos que moram lá, hoje cinco estudantes, já que outros acabaram evadindo da escola por motivos como sobrevivência, gravidez na adolescência, entre outros”, relatou.

A fase atual marca o encontro entre a experiência vivida no território e o trabalho pedagógico. “Agora é o momento da pesquisa em que as experiências que eu tive com os processos formativos da comunidade se encontram com o ambiente escolar. Nesta etapa, estão envolvidos cerca de 80 alunos”, acrescentou.

A ação, inédita no local desde o tombamento, terá participação de professores, alunos do ensino médio integral e moradores da comunidade, e será realizada em período de aula. Durante as manhãs dos dias 17 e 19 de setembro, haverá viistas técnicas dos alunos ao Núcleo Dois de Julho. 

Realidade dos moradores

Para o universitário Cauã de Souza, morador do assentamento e estudante de Educação do Campo na UFMG, a atividade representa uma oportunidade de resgate da memória coletiva: “Essa visita traz de volta a educação patrimonial, que é fundamental não só para o assentamento, mas para toda Betim. É um resgate histórico que fortalece a preservação e valoriza nossa memória”, destacou o ex-aluno da escola que está participando como voluntário da ação, e receberá os estudantes durante as visitas ao Núcleo Dois de Julho.

Para Souza, a visita dos estudantes é, além de importante para o resgate da educação patrimonial, é também um reencontro com a escola. “Estudei no Newton Amaral só até o primeiro mês do ensino médio. Depois me transferi para o Rio Grande do Sul, no Instituto de Educação Josué de Castro, uma escola do Movimento Sem Terra”, contou o universitário.