O espaço cultural Cia Grupatum, no bairro Ingá, recebe na próxima quinta-feira (4/9), às 19h, a exibição do documentário “Carta de Linhares: a tortura revelada”, dirigido pelo jornalista Marcelo Passos. Após a sessão, haverá um bate-papo com o diretor e dois entrevistados centrais do filme: Jorge Nahas e Marco Antônio Meyer, signatários da carta.
Com 41 minutos de duração, o documentário resgata a história da chamada Carta de Linhares, escrita em 1969 por militantes do grupo guerrilheiro COLINA (Comando de Libertação Nacional) presos e torturados pela ditadura militar. O manuscrito, de 28 páginas, denunciou os métodos de tortura aplicados pelo regime, citou nomes de torturadores e revelou a morte do militante João Lucas Alves.
Produzido em Belo Horizonte e Juiz de Fora entre fevereiro e abril de 2024, o filme conquistou o 2ª lugar na categoria Documentário do 41° Prêmio Nacional Direitos Humanos de Jornalismo, promovido pela OAB-RS e pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos. A obra também destaca a trajetória de jovens mineiros que se tornaram figuras de relevância nacional, como Dilma Rousseff e Fernando Pimentel.
O evento faz parte de ações culturais de difusão da memória democrática e reflexão sobre os impactos da ditadura na vida dos militantes. A realização é da Casa Marx-Engels, Morhan e CDDHN Betim, com apoio do PCB, PT, Betim Cor Brazil, Coletivo Juntos, Cinestratégico e Cia Grupatum.
Antes de detalhar sua experiência com o documentário, o diretor falou sobre o significado da Carta de Linhares para a memória histórica: “A Carta de Linhares foi o primeiro documento público de denúncia da prática da tortura pelo regime militar. A ousadia dos jovens presos políticos da Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora, desnudou o caráter violento da ditadura e marcou a resistência democrática que se fazia naquele momento. Ao revelar a verdadeira face do regime, a Carta de Linhares contribui para afastar as ilusões antidemocráticas que ainda se apresentam no cenário político atual”, disse.
O documentário combina imagens de arquivo, fotografias e trechos de jornais da época para contextualizar os relatos. Essa abordagem permite que o público compreenda o período histórico, sem depender apenas das memórias dos entrevistados.
Passos também comentou sobre o processo de produção do filme e o cuidado ao lidar com os relatos: “O relato detalhado das torturas está contido no manuscrito de 28 páginas: métodos, dores e experiências pessoais. Tratar dessas lembranças com os entrevistados precisou ser feito com muito cuidado, preparação prévia e no ritmo de cada um, sem pressa ou constrangimentos. Notei que, após as conversas, a emoção das tristes lembranças tocava a todos. Igualmente a certeza da luta necessária trazia também a certeza de que nada foi em vão. Tentamos tirar dos relatos a expressão mais natural possível dentro dos limites da memória e emoção de cada um. A narrativa audiovisual se baseou nos relatos profundos e sinceros dos personagens retratados no documentário. O contexto político foi ilustrado por filmes e recortes de jornais da época, além de fotografias dos acervos particulares. As expressões, os silêncios e mesmo alguns fatos pessoais inusitados ajudaram na construção do complexo perfil humano a que nos propusemos apresentar. No fim, temos a impressão que a luta política sempre vale a pena mesmo com a dor e sofrimento diante das injustiças de toda e qualquer ditadura”, afirmou.
Entre os depoimentos, os organizadores destacam que a sessão contará com uma introdução do documentário e contextualização histórica, permitindo que o público compreenda os acontecimentos relatados na Carta de Linhares. Também será apresentado material complementar, como fotos, recortes de jornais e imagens de arquivos de arquivos de Belo Horizonte e Juiz de Fora, reforçando o contexto histórico da obra.
Ruan Debian comentou sobre a relevância do documentário para o público jovem e a democracia: “Nosso objetivo com o documentário ‘Carta de Linhares: a tortura escancarada’, principalmente neste momento decisivo para nossa democracia, é demonstrar para as novas gerações os horrores de um mórbido passado recente da história brasileira. Com o lema: ‘Ditadura Nunca Mais!’, esperamos que inúmeras pessoas compareçam e prestigiem este momento que será único em nosso município, pois receberemos em Betim figuras importantíssimas que dedicaram/dedicam suas vidas em prol da democracia”, afirmou.
O bate-papo deve abordar ainda o impacto da ditadura na vida dos militantes e o papel da memória na preservação da democracia, incentivando o debate entre o público presente e os realizadores do filme.
A programação é aberta ao púlbico, não há necessidade de retirada de ingressos e a entrada é gratuita.