Nesta semana, devemos chegar a mais de 5.500 notificações de dengue em Betim, com cerca de 750 casos confirmados, sendo que um deles já evoluiu para óbito. Outras três mortes estão ainda sendo investigadas pelo mesmo motivo. A doença se repete ano após ano, e, apesar de esforços governamentais, a maior responsabilidade recai sobre a consciência coletiva.
Das dez regiões administrativas que Betim possui, já participei de mutirões de limpeza em sete. Em todos os lugares pelos quais passei, a cena é a mesma. Casas, lotes vagos e comércios lotados de recipientes que acumulam água e muito descaso com a higiene e o senso de responsabilidade com a própria vida e com a vida de outros.
Em pouco mais de dias à frente da Secretaria de Saúde, além das prioridades que estabeleci junto ao prefeito Vittorio Medioli, o dever que mais me causa angústia é, sem dúvida, o combate a essa endemia. Fizemos até agora o que quase nenhuma prefeitura fez em todo o país.
Logo na primeira semana que tomei pé dos números alarmantes que a dengue apresentava, pedi o decreto de emergência, quase simultaneamente à decisão do Estado, que é, proporcionalmente, a segunda unidade da Federação com mais casos.
Com o decreto, demos início a um processo de compras enorme para garantir, nos meses de alta da dengue, insumos, medicamentos e equipamentos necessários ao atendimento das vítimas. Também providenciamos reforços em todas as unidades de saúde e criamos, para ser inaugurado na próxima semana, um centro de hidratação, que será capaz de desafogar um pouco os postos médicos.
Outra ação importante foi contratar a empresa que irá realizar o processo seletivo de 229 agentes de saúde e endemias. Não menos importante, estamos providenciando a reativação de um aplicativo de monitoramento que será capaz de identificar, em tempo real, as “zonas quentes” de infestação e a estruturação de equipes de fiscalização que terão a árdua tarefa de também multar, quando for o caso, proprietários que mantêm seus imóveis sujos.
Juntamente com outras secretarias e órgãos da prefeitura, em um esforço multissetorial hercúleo, estamos limpando terrenos públicos e retirando lixo acumulado de unidades municipais, que, por um motivo ou outro, estão ou estavam desocupados. Há de se fazer a “mea-culpa” sobre os pontos de acúmulos de água e lixo, sim, mas não tem como aliviar para a ignorância e a falta de cidadania que persiste no meio de nós.
Como estudos do Ministério da Saúde revelam, cerca de 80% dos criatórios de mosquitos estão dentro de nossas casas, não havendo separação por classe social ou região de moradia. Em várias ocasiões, juntamente com agentes de saúde, entrei em residências de ricos e de pobres, no centro ou na periferia, lotadas de larvas, e as respostas que mais ouvi foram repletas de conformismo e apatia.
O Brasil registrou, até 15 de fevereiro, mais de 520 mil casos prováveis da doença, com 75 deles evoluindo para a morte. Pela primeira vez, a OMS fez um alerta mundial e já projeta para este ano o número recorde de 500 milhões de casos de dengue dentro dos limites nacionais.
A conscientização é um trabalho de enxugar gelo, mas, enquanto a vacina não chega para toda a população, somente por meio dela (a conscientização), conseguiremos não evoluir para contornos ainda mais trágicos dessa doença.