MUDANÇAS DO MERCADO

A ironia do destino: da rejeição da Blockbuster ao monopólio da HBO

Aquisição da Warner Bros. Discovery pela Netflix é mais do que um case de negócios, é uma lição poderosa sobre visão de futuro; leia e se proponha um desafio

Por Inovação e marketing

Publicado em 16 de dezembro de 2025 | 16:31

 
 
Agora, em 2025, a Netflix não é mais a 'zebra', é o tubarão no topo da cadeia alimentar; ela não apenas sobreviveu, reescreveu as regras do jogo e, agora, é a dona do tabuleiro Agora, em 2025, a Netflix não é mais a 'zebra', é o tubarão no topo da cadeia alimentar; ela não apenas sobreviveu, reescreveu as regras do jogo e, agora, é a dona do tabuleiro Foto: Chat GPT
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A recente notícia da aquisição da Warner Bros. Discovery pela Netflix por US$ 82,7 bilhões marcou o capítulo final de uma saga de três décadas que redefine a indústria do entretenimento. O que começou como uma pequena empresa de aluguel de DVDs pelo correio, ridicularizada pelos gigantes da época, transformou-se no colosso que agora engole um dos estúdios mais prestigiados de Hollywood. Esse case de negócios é uma lição poderosa sobre visão de futuro, disrupção e, acima de tudo, a ironia de como os subestimados se tornam os dominantes.

O ponto de virada: a zombaria da Blockbuster

O momento mais emblemático da história da Netflix ocorreu no ano 2000. Reed Hastings e Marc Randolph, fundadores da então jovem Netflix, voaram até Dallas para se encontrarem com John Antioco, CEO da Blockbuster na época. A proposta era simples: vender 49% da Netflix para a Blockbuster por apenas US$ 50 milhões e formar uma parceria em que a Netflix gerenciasse o serviço online da gigante do varejo. A resposta de Antioco foi uma risada. Ele e sua equipe acharam a ideia de streaming e DVDs pelo correio um "nicho de mercado" sem futuro. A Blockbuster, com milhares de lojas físicas e um modelo de negócios baseado em multas por atraso, estava confiante em sua supremacia. A história provou o contrário. Enquanto a Blockbuster falia em 2010, a Netflix usou sua visão pra pivotar do DVD para o streaming, tornando-se a gigante que conhecemos hoje.

"Se incomodar, a gente compra"

A arrogância não era exclusividade da Blockbuster. Anos depois, quando a Netflix começou sua expansão global e ameaçava as redes de TV por assinatura estabelecidas, a resposta dos incumbentes foi igualmente desdenhosa. Em 2010, o magnata Rupert Murdoch, cuja News Corp controlava a Sky no Reino Unido e em outros mercados, minimizou a ameaça. Comentários da época, atribuídos a executivos de alto escalão da Sky/News Corp, sugeriam que a Netflix era uma "nuvem passageira" e que, se a empresa de Reed Hastings "começasse a incomodar de verdade", eles simplesmente a comprariam. Essa fala ilustra perfeitamente como os gigantes da mídia tradicional não entenderam a escala nem a agilidade do modelo de negócios digital da Netflix. Hoje, a Netflix é quem está fazendo as compras hostis, e não o contrário.

A consagração: engolindo a HBO

Agora, em 2025, a Netflix não é mais a "zebra". É o tubarão no topo da cadeia alimentar. A aquisição da Warner Bros. Discovery — trazendo para seu guarda-chuva marcas icônicas como HBO, DC Comics, Cartoon Network e o vasto catálogo de cinema da Warner — é a consolidação desse poder. A empresa que um dia foi rejeitada por US$ 50 milhões agora desembolsa quase US$ 83 bilhões para integrar o conteúdo mais aclamado da TV ("Game of Thrones", "Succession", "The Last of Us") à sua plataforma. A ironia é palpável: a empresa que os gigantes disseram que iriam comprar ou ignoraram por ser muito pequena tornou-se grande demais para ser contida. O mercado de streaming, que já foi um campo de batalha competitivo, agora se inclina perigosamente para um monopólio liderado pela empresa que escreveu o manual da disrupção. A Netflix não apenas sobreviveu; ela reescreveu as regras do jogo e, agora, é a dona do tabuleiro.

Antes de virar uma Blockbuster, pergunte isso para o seu negócio

A história da Netflix com a Blockbuster não fala só sobre entretenimento. Ela escancara um padrão que se repete todos os dias nos pequenos negócios. O problema nunca foi tamanho. Sempre foi movimento.

A Blockbuster não quebrou no dia em que a Netflix apareceu. Ela quebrou no dia em que ignorou o comportamento do cliente. O cliente mudou, o mercado mudou, a tecnologia avançou, mas o modelo ficou parado. E, quando a dor chegou, já era tarde demais.

Hoje, isso acontece em escala menor, mas com a mesma lógica. O pequeno negócio que não está no digital acredita que o cliente sempre vai passar na porta, acredita que indicação resolve tudo, a credita que, para seu tipo de negócio, isso não funciona. É exatamente esse pensamento que transforma um comércio ativo em um negócio esquecido.

Não estar no online, ou não estar se movimentando para isso, deixou de ser uma escolha. É um risco. O cliente já está no digital. Ele pesquisa antes de comprar, compara antes de sair de casa, escolhe antes de entrar na loja. Se você não aparece nessa etapa, você simplesmente não entra na decisão.

Não importa se é farmácia, padaria, açougue, oficina, loja de bairro, empresa de motor ou prestação de serviço. Hoje, quem não aparece não é lembrado. E quem não é lembrado não vende.

O digital não é sobre virar influenciador. É sobre existir. É sobre deixar claro o que você vende, como compra, onde encontra e como paga. Porque, no fim do dia, o que movimenta qualquer negócio é venda. E venda, hoje, passa pelo digital.

O mercado não avisa quando vai mudar. Ele muda. Quem se mexe antes ganha espaço. Quem espera confirmação vira exemplo do que não funcionou.

Desafio para você

Antes de encerrar um dia de trabalho, responda com sinceridade:

 1. Hoje, se alguém procurar o que eu vendo no Google ou no Instagram, me encontra?
 2. Em poucos segundos, fica claro o que eu vendo e como comprar?
 3. Existe alguma forma de vender sem o cliente estar fisicamente na loja?

Se alguma resposta for "não", ligue o alerta.

Dica: se você não gosta de aparecer, comece sem aparecer.

Mostre o produto.
Mostre o bastidor.
Mostre o antes e o depois.
Mostre o processo.

E sempre deixe claro como a pessoa pode comprar.

Movimento simples, feito com constância, vale mais do que perfeição que nunca sai do papel. O digital não premia quem espera. Premia quem começa.