Abstinência na paixão

Outro dia, li que um ex-namorado, inconformado com o término do relacionamento, querendo se passar por herói, contratou dois jovens para assaltar a ex

Por Laura Medioli

Publicado em 24 de junho de 2023 | 03:00

 
 
Ilustração-Laura-Medioli Ilustração-Laura-Medioli Foto: Hélvio
Laura Medioli
Colunista de Opinião
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É cada uma, que a gente nem acredita...

Outro dia, li que um ex-namorado, inconformado com o término do relacionamento, querendo se passar por herói, contratou dois jovens para assaltar a ex. Tudo planejado dentro dos conformes. Com uma faca na mão, os jovens tomaram a bolsa da garota e outros pertences. Pouco tempo depois, adivinhem quem surgiu do nada para socorrê-la e recuperar os objetos roubados??? Ele, o destemido “herói”, protetor de sua indefesa amada.

Encontrou-a no caminho chorando e se prontificou a correr atrás dos “bandidos”. O que ele não esperava é que, na história, além dele e dos “assaltantes”, iria aparecer também a polícia (acionada por testemunhas), que, chegando ao local, o flagrou vasculhando a bolsa da ex, juntamente com os ladrões. Complicado mesmo foi explicar essa história. Os garotos relataram que foram contratados para assaltar e, depois, serem rendidos pelo namorado herói. Obviamente uma ideia dessas não daria certo. A ex, que já não estava lá muito interessada, passou a detestá-lo.

E foi assim que voou para o espaço o plano de reconquistá-la. Além de extinguir de vez a possibilidade de um reatamento, acabou preso, como o que ocorreu com aquele outro apaixonado, que pulou o muro da escola da pretendente com um violão e uma rosa na mão para lhe declarar amor eterno. Confundido com um ladrão, foi se explicar na delegacia.

Tratando-se de paixão, tudo é possível, até porque, quando se está apaixonado, o que menos funciona é a razão. E é justamente nesses momentos que as maiores besteiras acontecem.

Amiga minha, quando jovem, chegou ao ponto de “contratar” o amigo bonitão para fazer ciúmes no ex. O amigo encenou tão bem a farsa que ela, com aquilo tudo à disposição, não teve como: apaixonou-se. Pelo amigo. E o ex, inflado de ciúmes, correu atrás, mas já era tarde, enquanto o outro, requisitadíssimo na praça, deixou bem claro a ela que eram apenas... amigos. Ficou sozinha.

Outra, após inúmeras taças de vinho na cabeça, resolveu ligar para o pretendente às três horas da manhã.

– Te acordei?

E ele, com voz de quem voltou do além, respondeu:

– Acordou.

E “tum” na sua cara, mandando pra estratosfera qualquer possibilidade de um futuro relacionamento.

É o que eu digo: se estiver apaixonado, não beba! As besteiras da dupla são inevitáveis.

Outro dia, ri muito com uma amiga, relembrando velhos casos, como aquele em que ela, há vários Carnavais, passou o dia se arrumando para a sua paquera: escova, hidratação, unhas vermelhas, seu melhor perfume, roupa minuciosamente escolhida e aquelas sandálias altíssimas.

Vestida para arrasar, aguardava ansiosa por ele na festa. E nada, nada dele chegar. O tempo foi passando. Decepcionada, começou a beber tudo que era líquido que passava à sua frente.

– Vai devagar, menina! Não mistura as coisas, que vai te fazer mal... – diziam as companheiras solidárias. E ela lá, se esbaldando de vinho, vodca e outros. Até que, lá pelas tantas, alguém entra no salão e comunica: “O fulano chegou!”

Nessas alturas, tonta, descabelada e com a maquiagem borrada, minha amiga saiu eufórica. Desequilibrada no seu salto 15, não deu outra. Gritou por ele para, em seguida, despencar da escada e, literalmente, cair aos seus pés.

A confusão foi tamanha que ela, que planejara terminar a noite nos braços do amado, terminou no hospital com os braços enfaixados. E ele, no lugar de encantado, horrorizado. Rimos demais, afinal, histórias assim não dá pra esquecer.

É o que eu sempre digo: se se apaixonar, não beba! Os dois não dão casamento!