LAURA MEDIOLI

Coisas de menina

Na minha época, eu só usava batom vermelho e sandália alta para parecer mais velha e poder entrar no cinema

Por Laura Medioli

Publicado em 28 de abril de 2025 | 10:25

 
 
Só fui cair na real quando, com 15 anos, após uma aula de balé, resolvi acender meu Hollywood Só fui cair na real quando, com 15 anos, após uma aula de balé, resolvi acender meu Hollywood Foto: Hélvio
Laura Medioli
Colunista de Opinião
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Mal despontamos no mundo, e já nos vestem de cor-de-rosa. Mães, cheias de caprichos, ainda na maternidade pedem para furar nossas orelhas, enfeitando-as com minúsculas bolinhas douradas. Dizem que a cartilagem é fininha e, por isso, não dói. Hum... sei. E quem é que garante?

Minhas filhas fizeram como eu, só furaram quando bem entenderam e por vontade própria. Uma delas teve tanta vontade que furou seis buracos de uma vez, três em cada orelha.

– Filha, você está maluca? Desse jeito a orelha cai!

– Que isso, mãe!

Felizmente, no lugar de penduricalhos, colocou bolinhas e algumas coisinhas miúdas como as de bebês. Confesso que gostei, embora não tenha aprovado de todo.

– Filha, não se fura orelha à revelia. Esse é um lugar onde existem pontos energéticos. Se furar no lugar errado, pode te complicar a vida, sabia? Ao menos vá a um acupunturista para que ele te mostre os locais certos.

– Que isso, mãe!

A outra, ainda menina e influenciada pelas amigas, cismou de fazer tatuagem.

– Não, não e NÃO! – fui radical. – Quando for mais velha e estiver ciente de que realmente é isso o que quer, faça, mas não agora.

E, claro, ela fez. Com 18 anos passou a carregar um símbolo do infinito no corpo. E eu, para bem dizer a verdade, adorei. Discreta, pequena, charmosa... a cara dela!

Hoje, diferentemente do meu tempo de adolescente, muitas garotas andam produzidíssimas: maquiadas, cabelão na cintura, óculos escuros cobrindo metade do rosto, sandálias altas, luzes nos cabelos e caras de adultas. E me pergunto: pra que isso tudo?

Na minha época, eu só usava batom vermelho e sandália alta para parecer mais velha e poder entrar no cinema. Também para não ser chamada de “pirralha” pelo menino que normalmente não me dava a mínima. Para piorar, ainda enfiava um Hollywood na boca e saía com o maço despontando no bolso. Só fui cair na real quando, com 15 anos, após uma aula de balé, resolvi acender meu Hollywood. A primeira a ver a cena foi a professora, escandalizada.

Laura, você fuma??? – dali a pouco se juntaram outras e mais outras ao meu redor.

– Menina, quantos anos você tem?

E eu, com a vozinha mais sumida do mundo:

– Quinze!

E uma delas, para acabar de me acabar, saiu-se com esta:

– Oh! Pensei que você tivesse uns nove!

Depois disso, entendi que não seria o cigarro nem o batom vermelho que me fariam entrar no cinema ou ser olhada pelo bonitão do terceiro ano. Na minha época, fumar era bacana, agora é feio. Ponto para os jovens de hoje, que ganharão saúde e mais alguns anos de vida pela frente.

Há muito deixei de fumar e de usar sandálias que me derrubam. Nada como buscar a simplicidade e o conforto no dia a dia. Procuro mostrar isso às minhas filhas, que, felizmente, de frescura e modismos bobos não têm nada. Tanto faz se a camiseta é da Forum ou da C&A. Marca da etiqueta, para nós, está longe de ser essencial.