Após longa preparação, propostas, confrontos e projetos, o término da casa quando, enfim, concretizaram-se as vontades, os sonhos e os jardins.
A singular construção, com o estritamente necessário para viver, ou melhor, sobreviver, como gostava de dizer frente ao espelho, moldado pelo tempo, corroído pela história, como se fosse um armazenador de imagens.
Imagens da menina e da mulher que fora, compactadas num único objeto.
E ela hoje se pergunta: existe alguém mais feliz? Sozinha em seu recanto, uma varanda com samambaias, um gato se espichando no tapete, o sol que se esconde na montanha, o silêncio... O estar bem consigo mesma, à espera do que um dia, inevitavelmente, virá.
E morrerá tranquila, com a sensação de quem cumpriu em vida tudo aquilo que lhe fora concedido. Tão simples, tão claro. E eles quase não a deixaram... “Mudar-se pra quê? Sair do conforto do apartamento no centro, próximo de tudo: da farmácia, do médico, do laboratório onde, eventualmente, faz seus exames?”
Ela, querendo fugir disso, e eles, ao contrário, insistindo – na praticidade, na rápida solução de eventuais necessidades. Pra quê?
Por que desassossegar o espírito com efervescentes e restritivos pensamentos, levando-a a crer na efemeridade de sua existência como a da flor que se extingue no mesmo dia em que se abre? E, se assim for, que seja do seu jeito, em seu recanto, naturalmente, como devem ser as partidas no inexorável apagar da vida.
Estar de volta às origens, numa casa pequena em meio a um jardim de magnólias – algumas rosas – para que na primavera abra as janelas e respire a vida. Vida que lhe escapole, mas que hoje, em seu recôndito, faz dela (dentre todas) a mais feliz!
E caminha atrás de seu sonho, já que a idade não lhe permite mais correr.