Adoooooro Carnaval! Principalmente quando estou longe da muvuca.
Nada como quatro dias à toa na vida, com tempo livre para ler bons livros, curtir a família, Netflix com pipoca, brigadeiro na colher...
Caminhando na areia molhada, sob um sol que me queima a pele e me atiça os sentidos, penso que estar ali é uma bênção.
O bom da ocasião é que a galera da confusão acorda tarde, deixando a praia quase deserta e convidativa.
Mais tarde a coisa muda, a turma começa a descer e, de repente, o espaço é ocupado. Me divirto com o tilelê natureba, vendedor de bijuterias, com o cara que faz tranças e aquele do queijo torrado na lata. Comunicativos, com a peculiar alegria do baiano, são uma atração à parte. Incrível mesmo é o vendedor de chapéus, que há mais de oito anos me chama de “senadora”. Engordo, emagreço, tinjo o cabelo, ponho e tiro franjas, e o sujeito não me esquece:
– Ôôôô senadora! Vai um chapéu novo hoje?
Até que um dia, curiosa, perguntei o porquê desse tratamento.
– Por que senadora? – quero saber, afinal, somente eu era chamada assim.
– Senadora Gleisi Hoffmann, ué! Ninguém nunca te falou que você é a cara dela? – O riso foi geral. Depois dessa perdeu a cliente, falo brincando com os amigos.
A casa onde estamos é uma confusão de gente, quatro netos já são o suficiente para enchê-la de vida e alegria, além dos dois cachorros para completar a festa. Difícil é fazer a de 2 anos entender que a ração na vasilha não é biscoito e os cachorros saberem que os brinquedos, espalhados no tapete, não são mastigáveis e muito menos comíveis.
À noite, em vez dos grilos e sapos da mata ao lado, escuto uma música eletrônica, que só Deus sabe de onde vem. Certa vez, uma amiga evangélica me disse que Carnaval é a festa da carne. Então, se o Carnaval é a festa da carne, essa tal de rave é a festa do capeta, penso, indignada com o bate-estaca que vem de longe.
Como que uma pessoa em sã consciência consegue se manter acordada das 22h às sete da manhã, ouvindo o que parece ser uma única música de uma batida só?
Também já fui jovem, já fiz besteiras, principalmente nos Carnavais regados a gim-tônica e cuba libre, cigarro Hollywood e inocentes lança-perfumes. Enquanto nos dias de hoje, em determinados eventos, o negócio é mais pesado... Beeeem mais pesado! Preocupante e assustador. Mas isso é outra história.
E a encrenca do barulho (me recuso a chamar aquilo de música) segue madrugada adentro. Em pleno Carnaval??? Eu achando que iria escutar uma batucada ou um jurássico “Cabeleira do Zezé”, sou obrigada a ouvir isso.
Paciência! É Carnaval! Meu Rivotril é estar bem comigo mesma, num lugar tranquilo junto aos meus, sob um céu estrelado, com o pensamento elevado a Deus enquanto agradeço, agradeço e agradeço, mesmo que do outro lado o “capeta” insista em nos tirar o sono.