Laura Medioli

Laura Medioli

Laura Medioli é escritora e presidente da Sempre Editora, responsável pela publicação dos jornais Super, O TEMPO e O Tempo Betim, além da rádio FM O TEMPO e do portal O TEMPO. Formada em estudos sociais, Laura já atuou como professora e se dedica de forma intensa hoje à causa da proteção animal.

LAURA MEDIOLI

Uma festa sem noção

Uma festa sem noção. Leia mais na coluna de Laura Medioli

Por Laura Medioli
Publicado em 04 de março de 2023 | 03:00
 
 

Adoooooro Carnaval! Principalmente quando estou longe da muvuca.

Nada como quatro dias à toa na vida, com tempo livre para ler bons livros, curtir a família, Netflix com pipoca, brigadeiro na colher...

Caminhando na areia molhada, sob um sol que me queima a pele e me atiça os sentidos, penso que estar ali é uma bênção.

O bom da ocasião é que a galera da confusão acorda tarde, deixando a praia quase deserta e convidativa.

Mais tarde a coisa muda, a turma começa a descer e, de repente, o espaço é ocupado. Me divirto com o tilelê natureba, vendedor de bijuterias, com o cara que faz tranças e aquele do queijo torrado na lata. Comunicativos, com a peculiar alegria do baiano, são uma atração à parte. Incrível mesmo é o vendedor de chapéus, que há mais de oito anos me chama de “senadora”. Engordo, emagreço, tinjo o cabelo, ponho e tiro franjas, e o sujeito não me esquece:

– Ôôôô senadora! Vai um chapéu novo hoje?

Até que um dia, curiosa, perguntei o porquê desse tratamento.

– Por que senadora? – quero saber, afinal, somente eu era chamada assim.

– Senadora Gleisi Hoffmann, ué! Ninguém nunca te falou que você é a cara dela? – O riso foi geral. Depois dessa perdeu a cliente, falo brincando com os amigos.

A casa onde estamos é uma confusão de gente, quatro netos já são o suficiente para enchê-la de vida e alegria, além dos dois cachorros para completar a festa. Difícil é fazer a de 2 anos entender que a ração na vasilha não é biscoito e os cachorros saberem que os brinquedos, espalhados no tapete, não são mastigáveis e muito menos comíveis.

À noite, em vez dos grilos e sapos da mata ao lado, escuto uma música eletrônica, que só Deus sabe de onde vem. Certa vez, uma amiga evangélica me disse que Carnaval é a festa da carne. Então, se o Carnaval é a festa da carne, essa tal de rave é a festa do capeta, penso, indignada com o bate-estaca que vem de longe.

Como que uma pessoa em sã consciência consegue se manter acordada das 22h às sete da manhã, ouvindo o que parece ser uma única música de uma batida só?

Também já fui jovem, já fiz besteiras, principalmente nos Carnavais regados a gim-tônica e cuba libre, cigarro Hollywood e inocentes lança-perfumes. Enquanto nos dias de hoje, em determinados eventos, o negócio é mais pesado... Beeeem mais pesado! Preocupante e assustador. Mas isso é outra história.

E a encrenca do barulho (me recuso a chamar aquilo de música) segue madrugada adentro. Em pleno Carnaval??? Eu achando que iria escutar uma batucada ou um jurássico “Cabeleira do Zezé”, sou obrigada a ouvir isso.

Paciência! É Carnaval! Meu Rivotril é estar bem comigo mesma, num lugar tranquilo junto aos meus, sob um céu estrelado, com o pensamento elevado a Deus enquanto agradeço, agradeço e agradeço, mesmo que do outro lado o “capeta” insista em nos tirar o sono.

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