SAÚDE E BEM-ESTAR

Lipedema: quando o acúmulo de gordura é uma doença, não estética

Diferente do ganho de peso comum, o lipedema não melhora com dieta ou exercícios, o que muitas vezes gera frustração baixa autoestima e até dor

Por Ana Maria Reimer


Publicado em 20 de outubro de 2025 | 16:43
 
 
Ainda não existe cura definitiva para lipedema, mas há formas eficazes de controlar os sintomas e evitar a progressão, afirma médica

O lipedema é uma condição médica ainda pouco reconhecida, mas que afeta milhões de mulheres em todo o mundo. Trata-se de um distúrbio crônico e progressivo da distribuição de gordura, que ocorre de forma simétrica, principalmente nos membros inferiores e, em alguns casos, também nos braços. Diferente do ganho de peso comum, o lipedema não melhora com dieta ou exercícios, o que muitas vezes gera frustração, baixa autoestima e até dor física nas pacientes. 

Apesar de muitas vezes ser confundido com obesidade ou linfedema, o lipedema tem características próprias. A gordura acumulada é dolorosa ao toque, há tendência a hematomas espontâneos, sensação de peso nas pernas, e o pé costuma permanecer fino, mesmo quando as pernas estão bastante aumentadas. 

Estágios do Lipedema 

A doença evolui gradualmente e é dividida em quatro graus, de acordo com as alterações da pele e do tecido subcutâneo: 

• Grau 1: Pele lisa, com acúmulo de gordura e pequenos nódulos palpáveis, mas sem irregularidades visíveis. 

Grau 2: Pele com aspecto irregular e presença de nódulos maiores, semelhantes à celulite acentuada. 

Grau 3: A pele torna-se mais espessada, com grandes acúmulos de gordura e deformidades visíveis nas pernas e braços. 

Grau 4: O lipedema associa-se ao linfedema (inchaço por acúmulo de linfa), formando o chamado lipo-linfedema. 


Tratamentos Atuais 

Ainda não existe cura definitiva, mas há formas eficazes de controlar os sintomas e evitar a progressão.O tratamento é multidisciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos. 

As principais abordagens incluem: 

• Terapia conservadora: envolve uso de meias de compressão ou calças compressivas, drenagem linfática manual, atividade física regular de baixo impacto (como hidroginástica e caminhada, alimentação anti-inflamatória acompanhada por um bom nutricionista, com redução de ultraprocessados e açúcares simples. 

• Evite (ou pratique com cuidado): corridas intensas, saltos, treinos de alto impacto (como crossfit ou HIIT pesado).Essas modalidades aumentam o trauma mecânico e podem piorar o processo inflamatório do tecido adiposo do lipedema, gerando mais dor e hematomas. 

• Acompanhamento psicológico: são fundamentais para melhorar a qualidade de vida e lidar com o impacto emocional da doença. 

• Tratamento cirúrgico: em casos selecionados, pode-se indicar a lipoaspiração específica para lipedema, feita com técnicas que preservam os vasos linfáticos. Essa abordagem ajuda a reduzir o volume das pernas e a dor, melhorando significativamente o bem-estar. 

O diagnóstico precoce é o primeiro passo para o controle eficaz da doença. Por isso, se você percebe aumento desproporcional das pernas, sensibilidade, dor , dificuldade de emagrecer nessa região, hematomas sem explicação, procure um profissional de saúde com experiência no tema. 


Um chamado à consciência 

Como médica, defendo que o primeiro passo no tratamento do lipedema é o reconhecimento. Quando damos nome à dor, abrimos caminho para o cuidado. 

É hora de abandonar a narrativa da culpa e enxergar o lipedema como o que ele é: uma doença crônica, multifatorial e que exige atenção, não julgamento. 

O corpo fala — e no lipedema, ele grita por acolhimento. Que possamos ouvir. 

 


Drª Ana Maria Reimer CRMMG 48892 RQE 36289