TRATAMENTO CONTRA A OBESIDADE

O perigo silencioso das canetas emagrecedoras falsificadas

À medida que a procura por esses produtos aumentou, surgiu um mercado paralelo extremamente perigoso; saiba como se proteger

Por Ana Maria Reimer


Publicado em 17 de novembro de 2025 | 20:00
 
 
Até o momento, as patentes de Ozempic, Wegovy e Mounjaro não caíram; portanto, não há versão genérica, “similar”, manipulada ou legalmente paralela dessas medicações

Nos últimos anos, as chamadas “canetas emagrecedoras” tornaram-se protagonistas de uma revolução no tratamento da obesidade. Medicamentos como Ozempic, Wegovy (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida) mostraram resultados inéditos em perda de peso e controle metabólico. No entanto, à medida que a procura aumentou, surgiu também um mercado paralelo extremamente perigoso: as canetas falsificadas, fabricadas e distribuídas sem qualquer controle sanitário.

E aqui começa o alerta:

Até o presente momento, as patentes de Ozempic, Wegovy (semaglutida) e Mounjaro (tizerpatida) não caíram. Isso significa que não existe versão genérica, “similar”, manipulada ou legalmente paralela dessas medicações. O que se compra fora das farmácias regulares é, por definição, ilegítimo.

O que está dentro de uma caneta falsificada?

A resposta é simples e curta: ninguém sabe. A Anvisa e outras agências internacionais já encontraram, dentro desses dispositivos falsos, o seguinte:

- água com corante;

- substâncias desconhecidas;

- insulina;

- doses incorretas (muito acima ou muito abaixo).

Em alguns casos, as canetas falsificadas nem sequer contêm semaglutida ou tirzepatida, mas, sim, compostos baratos que causam desidratação ou náuseas, simulando uma falsa “perda de peso”.

Quais os riscos reais para a saúde?

Os efeitos vão muito além da frustração. Veja alguns deles:

 • Choque anafilático por substâncias adulteradas;
 • Infecções graves por contaminação bacteriana;
 • Pancreatite e desidratação severa por doses erradas;
 • Hipoglicemia, mesmo em não diabéticos;
 • Falência renal por vômitos incoercíveis;
 • Sequelas neurológicas em casos de compostos tóxicos e contaminados.

Na prática, quem usa uma caneta falsificada coloca o corpo em uma roleta russa química.

Por que agora proliferam tantos anúncios falsos?

O fenômeno tem algumas explicações. Vamos a elas:

 1. Altíssima demanda e falta de disponibilidade oficial;
 2. Lucro fácil: uma caneta falsa custa centavos para produzir e é vendida a preços próximos dos da original;
 3. Desinformação digital, que facilita golpes com perfis falsos, supostos “revendedores autorizados” e sites clandestinos.


Nenhuma dessas empresas — Novo Nordisk ou Eli Lilly — autoriza venda por WhatsApp, Instagram, perfis pessoais ou clínicas sem farmácia licenciada.

Manipulados não são permitidos.

Como as patentes continuam vigentes, nenhuma farmácia de manipulação pode legalmente produzir semaglutida ou tirzepatida.
Produtos “manipulados” vendidos como tais são irregulares, não testados e potencialmente perigosos.

Como se proteger?

💊Compre somente em farmácias regulamentadas;
💊 Só utilize o produto com prescrição médica e sendo acompanhado por esse médico;
💊Verifique lote, nota fiscal e número de registro da Anvisa;
💊Desconfie de preços muito abaixo dos oficiais;
💊Procure orientação com médicos habilitados, não com vendedores, blogueiros e influenciadores.

E qual o recado para quem realmente precisa perder peso?

O tratamento da obesidade deve ser individualizado, seguro e acompanhado. As canetas originais são ferramentas importantes — mas não são soluções mágicas, nem devem ser usadas fora do contexto clínico adequado. Só devem ser utilizadas se prescritas e acompanhadas por um médico que tenha domínio do tratamento contra a obesidade.

Sonho com patentes quebradas, para que existam muitos laboratórios fabricando os produtos e, com isso, maiores concorrências e preços mais acessíveis para a população que tanto precisa, mas tudo deve ser feito com segurança e fiscalização devidas.

Em saúde, o barato sempre sai caro. E, quando o assunto é medicamento injetável falsificado, o barato pode custar a sua vida.

Ana Maria Reimer
CRMMG 48892/RQE 36289