SAÚDE E BEM-ESTAR

Cansados de estar cansados

O novo mal-estar no pós-pandemia

Por Ana Maria Reimer


Publicado em 03 de novembro de 2025 | 17:24
 
 
Cansaço mental tem atingido cada vez mais pessoas

Nos consultórios e nas ruas, o cansaço ganhou novas faces. Não é mais apenas o resultado de uma noite mal dormida, mas um estado de alma. Gente que acorda exausta, mesmo dormindo bem. Jovens com energia física, mas sem vontade. Profissionais bem-sucedidos que dizem: “Parece que vivo no modo economia de energia”.

Os exames vêm normais. O corpo está bem — mas a mente, não. Chamamos de burnout, ansiedade, fadiga crônica. Talvez seja tudo isso junto, somado ao peso de viver num mundo que nunca desacelera.

A pandemia não acabou em 2022. Ela apenas mudou de forma. Ficaram cicatrizes invisíveis: o medo, a solidão, a pressa em recuperar o tempo “perdido”. Voltamos a correr antes de reaprender a respirar e a desacelerar.

O corpo, porém, não esquece. E o resultado é uma geração em estado de alerta contínuo. Cortisol alto, sono leve, músculos tensos, coração acelerado. O cérebro, saturado de estímulos, perdeu o silêncio necessário para se recompor.

Hoje, somos produtivos, mas não presentes. Conectados, mas solitários. Dormimos, mas não descansamos. É o paradoxo do tempo moderno: quanto mais tentamos “dar conta de tudo”, menos energia temos para o essencial.

A medicina começa a reconhecer esse novo mal-estar. O estresse crônico desregula hormônios, altera a imunidade e prejudica até a digestão. Vivemos em permanente resposta de sobrevivência — como se o perigo fosse constante. Mas o perigo agora é o e-mail, os grupos de WhatsApp, o cronômetro que não para.

Desacelerar virou um ato de coragem.

Descansar é fisiológico , não é preguiça.

Precisamos recuperar o direito de pausar, de sentir tédio, de estar presentes.

O remédio, às vezes, não está na farmácia, mas na rotina: sono regular, alimentação simples, movimento, respiração, vínculos reais. Coisas pequenas, mas profundamente terapêuticas.

No fim, o maior luxo de 2025 talvez seja este: ter energia — e paz — para viver o inegociável na sua totalidade.


Dra Ana Maria Reimer

CRM MG 48892

RQE 36289