
Nos últimos anos, a palavra disbiose deixou de ser exclusiva dos consultórios médicos e passou a aparecer em conversas do dia a dia. Mas afinal, o que ela significa — e por que tem sido associada a tantos problemas de saúde?
Chamamos de disbiose intestinal o desequilíbrio da microbiota, o conjunto de trilhões de bactérias, vírus e fungos que habitam nosso intestino. Quando essas bactérias “boas” estão em harmonia, elas auxiliam na digestão, na produção de vitaminas, no fortalecimento do sistema imunológico e até no controle do humor. O problema começa quando esse equilíbrio se perde.
Na prática clínica, a disbiose raramente aparece sozinha. Ela se manifesta através de sintomas aparentemente comuns: gases excessivos, distensão abdominal, constipação ou diarreia, sensação de inchaço, cansaço persistente, dificuldade para emagrecer, alterações de humor, queda de imunidade e até problemas de pele. O intestino, que deveria funcionar como uma barreira protetora, passa a permitir a passagem de substâncias inflamatórias para a corrente sanguínea, fenômeno conhecido como aumento da permeabilidade intestinal.
As causas são, em grande parte, reflexo do estilo de vida moderno. Dieta rica em ultraprocessados, excesso de açúcar, baixo consumo de fibras, uso frequente de antibióticos, anti-inflamatórios e inibidores de acidez gástrica, além do estresse crônico e do sono de má qualidade, formam o cenário perfeito para a instalação da disbiose.
É importante destacar que disbiose não é “falta de probiótico” apenas. O tratamento vai muito além de cápsulas ou sachês. Envolve mudança alimentar, priorizando comida de verdade, fibras, frutas, legumes, verduras e proteínas de boa qualidade, além da redução de ultraprocessados e álcool. Em alguns casos, é necessário investigar intolerâncias alimentares, super crescimento bacteriano ou doenças associadas.
A medicina moderna já reconhece que o intestino não cuida apenas da digestão. Ele conversa diretamente com o cérebro, com o sistema imunológico e com o metabolismo. Ignorar sinais intestinais persistentes é perder uma oportunidade precoce de prevenir doenças maiores no futuro.
Cuidar do intestino é cuidar do corpo inteiro. E talvez esse seja um dos maiores aprendizados da medicina atual: saúde começa, muitas vezes, pelo equilíbrio invisível que acontece dentro de nós.
E lembre-se: quem entra muito no sacolão, pisa pouco na farmácia.
Ana Maria Reimer
CRM 48892/RQE 36289