OPINIÃO

Sentimento de mãe

Nenhuma mãe de nenhuma espécie animal nega, mesmo frente ao maior perigo, a defesa do filho. O instinto, o poderoso sentimento materno, desconhece circunstâncias que o façam recuar.

Por Vittorio Medioli

Publicado em 14 de maio de 2023 | 06:00

 
 
Vittorio Medioli
Colunista de Opinião
Colunista de Opinião
Vittorio Medioli Vittorio Medioli
aspas
normal

Para uma mãe, o filho é mais do que uma parcela dela mesma. A maior dor que se conhece é a perda de um filho pela mãe, e, quando não existe outro filho para receber a sua preocupação ou o seu sentimento maternal, ela perde, muitas vezes, a razão de existir. Pode sobreviver, mas em seu coração a chama vital sofre um abalo. 

Tenho presenciado esse fenômeno na minha família e em outras. Tenho visto uma mãe ir todos os dias do resto de sua vida levar ao túmulo ao menos uma flor e lá versar lágrimas como se a perda tivesse acontecido no dia anterior. 

A vida dessa mãe se transformou num tributo à memória do querido filho; praticamente deixou de ter vida, felicidade e atividade que pudesse acalmar o sofrimento.  
Não tem palavras que possam descrever, em sua essência, a relação sentimental entre mãe e filho. Apenas é compreensível na imaginação, nos exemplos vividos.

Não existe para uma mãe filho ruim, perverso ou criminoso. A imagem é e sempre será a do menino que saiu de seu corpo, tomou o leite de seu peito, deu os primeiros passos incertos, precisou de seus cuidados para sobreviver e lançar raízes nesta terra. 

Na Bíblia lemos o episódio de Abraão, testado a cumprir o sacrifício do filho Isaac. O braço dele, entretanto, foi barrado por Deus na hora da execução de Isaac. Episódio em que se acena ao sacrifício de um filho nunca, que eu lembre, envolve uma mãe, pois seria inconcebível uma mãe contrariar sua natureza, mesmo frente à força divina. 
Mãe não subiria a montanha, como fez Abraão, já daria a sua própria vida no lugar daquela do filho. 
 
Mãe seria capaz de absolver um monstro sanguinário, um exterminador ao qual ela deu origem. Sua defesa do filho passa por qualquer circunstância, e a razão será: “Ele é meu filho”.  

Se ele “é meu filho”, parece dizer a mãe: “Por ele darei tudo, perdoarei qualquer pecado, darei minha vida”. 

Nenhuma mãe de nenhuma espécie animal nega, mesmo frente ao maior perigo, a defesa do filho. O instinto, o poderoso sentimento materno, desconhece circunstâncias que o façam recuar. Até uma gazela se coloca na frente do filhote e tenta chifrar o predador. 
 
Roma, cidade eterna e berço da civilização ocidental, nasceu por força do sentimento materno de uma loba que salvou e amamentou Rômulo e Remo, abandonados às margens do rio Tibre. 

Na literatura russa, um conto descreve uma loba solitária que encontra na sua toca os filhotes mortos pelas mãos de um homem. Tomada pela dor e com o peito carregado de leite, ela segue o rastro dos algozes até encontrá-los numa pobre casa de madeira.

Ao deparar-se com um berço guardando uma criancinha, a loba, assim, num gesto desesperado, rapta a recém-nascida. Longe de se vingar e sacrificá-la, como o homem fez com seus filhotes, passa a amamentá-la em sua toca e a criá-la como fosse sua. Apenas para atender a seu instinto de mãe frustrada. 

O laço maternal resiste a qualquer prova. A mãe, por natureza, é a depositária do dever de perpetuação de sua espécie, e, bem por isso, esse poderoso sentimento resiste apenas por se confundir com um amor descomunal, indissolúvel, o maior e melhor que o ser humano já conseguiu expressar. 

Parabéns às mães por todo o amor que distribuem em abundância e qualidade inigualável.