VITTORIO MEDIOLI

O peso das palavras

Aquilo que poderia fazer do X um local proveitoso é tomado por sensacionalismo, patrulhamento ideológico, intervenções esquálidas, sem proveito algum para quem quer que seja

Por Vittorio Medioli

Publicado em 07 de janeiro de 2024 | 10:05

 
 
Vittorio Medioli
Colunista de Opinião
Colunista de Opinião
Vittorio Medioli Vittorio Medioli
aspas
normal

A menos que se coloque, sem temores, o elemento da dúvida nas concepções diárias se poderá obter mudanças e avanços nos conhecimentos adquiridos. Nega-se, assim, de certa forma, a possibilidade de melhorar o potencial intelectivo, ainda de mudar imperfeições e lacunas que diminuam nosso desempenho.

Conservaremos intacto nosso status, pequeno ou grande, certo ou errado. Mesmo o homem mais inteligente do planeta tem ainda muito a aprender, quanto mais um ser aparentemente destacado em capacidade mental ou perseguidor de um Prêmio Nobel.

Esse pensamento me agrediu ao abrir nos últimos tempos mensagens do X, antigo Twitter, uma rede social que, apesar de nunca ter me atraído, se insinua na tela do meu celular. Pode ser que nesse canal se escondam coisas inteligentes, contudo o que recebo é o “fim da picada”.

Comentários e conversas provocativas, ofensivas, depreciativas, toscamente autopromocionais, sem utilidade coletiva, que comungam, em geral, ostentação de pequenez intelectual, quando não de miserável ignorância.

Na caminhada da vida, dificilmente se encontrará uma asserção que não tenha sido violentamente combatida por asserções contrárias.
 
Entristece, entretanto, ver uma guilhotina montada em praça pública. Aquilo que poderia fazer do X um local proveitoso é tomado por sensacionalismo, patrulhamento ideológico, intervenções esquálidas, sem proveito algum para quem quer que seja. Parece um jogo miserável, ou um vício torpe, de gente quase sempre escravizada intelectualmente; pior, desinteressada em provar uma conduta respeitável.

As palavras que encerram significado ambíguo ou falso deveriam ser rigorosamente corrigidas ou suprimidas, não apenas no X, como em qualquer oportunidade. Uma manifestação não deve deixar dúvidas. Dúvidas atrasam, enganam.

A pessoa que procura a evolução, e não a involução da própria personalidade, aquele que quer chegar longe, e se possível à sabedoria, deve realizar de antemão uma assepsia e um aperfeiçoamento de seu vocabulário, pois o significado equivocado – não real – não só confunde quem o recebe, mas contamina quem o formula. Como um cirurgião que tem o dever de salvar o paciente e usa instrumentos sujos não apenas o condenará a uma infecção letal, como ele mesmo se afunda em situação condenável.

A conduta errada representa um esforço para fortalecer as forças do atraso.

As palavras que não encerram significado real e compreensivo não fazem a diferença em hipótese alguma, a não ser pelo tempo que apreendem sem proveito.

O tempo, afinal, é o elemento mais precioso que o homem possui. Acaba-se de compreender seu inestimável  valor com o passar dos anos, com a exaustão da existência humana. Perdê-lo sem proveito para o mundo e para si vai fazer falta quando mais se compreenderem as regras da vida. O homem mais rico do mundo terá o direito de recomprar qualquer coisa, mas não o tempo perdido.

Não há como selecionar comportamentos, seremos sempre merecedores das consequências do bem e do mal deixados. O ambiente deve ser sempre livre de erros, especialmente o proposital e voluntário, mas isso não nos exime de tudo que nossa ignorância ou conduta displicente e omissa provoca. As palavras são poderosas, e seria preciso afundar na infinitesimal física quântica para chegar àquele mundo tão real que elas criam e determinam.

Ainda, o falastrão demonstra, inequivocamente, a inconfiabilidade, um elemento do mal que serve para produzir tristezas e desastres. O homem ambíguo, que pensa fugir dos bumerangues que lança, acaba por ser falso, trai quem está à sua volta e autoriza a ser traído com a mesma arma destrutiva.

A evolução se estabelece e abre o caminho pela verdade. É preciso eliminar aquilo que não é, ou a inverdade. O poderoso veneno, que com poucas gotas deixa mortífero o cálice inteiro de água pura.

A evolução não atinge quem se perde na ignorância gregária e menospreza a humildade, também a intelectual.

Sócrates, uma mente livre para voar nos cumes da inteligência e da sabedoria, respondeu a um aluno: “Só sei que nada sei”. Não sofria de submissão, arrogância, nem tirania ideológica.