Em Crotona, no extremo sul da Itália, no sexto século antes de Cristo, depois de ter percorrido a Índia e o Egito, o grego Pitágoras abriu uma escola de ensinamentos filosóficos. Em volta dele formou-se uma comunidade de 300 alunos, atraídos pelos ideais de respeito e justiça em harmonia com a natureza.
Ensinavam-se a reencarnação, o aperfeiçoamento do homem, a astronomia, as virtudes e a obrigação com os deveres sociais. O mestre cobrava uma disciplina austera, acreditando que o mal que atrasa a evolução do indivíduo tem origem nos abusos, nos vícios e, por consequência, no descontrole emocional.
A disciplina vegetariana, a libertação dos desejos grosseiros e da ganância, o controle do egoísmo e do medo, a capacidade de perdoar as ofensas, segundo o pensamento pitagórico, fortalecem o caráter, mudam a visão curta da vingança para aquela mais longa do perdão, que encerra a dolorosa corrente de “olho por olho”.
Afinal, não é do sofrimento proporcionado a semelhantes que a humanidade progride; para Pitágoras, “cada homem é para si mesmo, em absoluto, o caminho, a verdade, a vida” – uma antecipação do “Reino de Deus está em vós” ou “Procurai em vós a solução sem cobrá-la dos outros”.
Feliz é quem se satisfaz controlando vaidades e ambições mundanas. Feliz é quem pensa na eternidade que o espera e traz para si a felicidade e o êxtase da presença de Deus em seu íntimo.
A comunidade pitagórica de Crotona, inofensiva por natureza e voltada para a busca da paz, durou pouco. Sua fama despertou o interesse da juventude, de pessoas mais sensíveis, mas também o temor dos déspotas que governavam com mão de ferro os territórios vizinhos.
A comunidade foi cercada, incendiada; discípulos morreram. Pitágoras conseguiu escapar e peregrinou pela Itália por mais duas décadas, transmitindo seus ensinamentos. Morreu com quase 100 anos, uma idade fantástica para aquela época – fruto da dieta, da meditação e do autocontrole.
Apesar de ser iniciador da filosofia ocidental, passou à história como grande matemático, pois ensinava que o universo se sustenta no equilíbrio dos números, e apenas esse lado do seu pensamento não incomodou ninguém. O restante de sua obra foi sistematicamente destruído como ameaça aos detentores do poder e da riqueza material. E não podia ser para menos: Pitágoras sustentava que “o Estado existe para o benefício do governado”, uma verdadeira heresia para a maioria dos governantes que agem até hoje usando o Estado em benefício próprio.