Nesta semana, fui abordado, num restaurante de Betim, por uma pessoa, grata pelos ensinamentos e oportunidades, que ela bem soube aproveitar, durante meus dois mandatos de prefeito, quando se dedicou a tarefas importantes.
Este ano acabou sendo selecionada por outra prefeitura de Minas e contratada. Aliás, são muitos os colaboradores que cresceram ao meu lado e que agora preenchem cargos de responsabilidade pública mundo afora.
Nisso a conversa correu solta:
“Como é diferente trabalhar com outro chefe...”.
“Deve ser menos duro... eu cobro bastante...”.
“Mas você explica e orienta, tem metas claras... e sempre insiste em princípios e compromissos com a verdade e a honestidade. Sabíamos que qualquer resultado, até um erro, seria compreendido se déssemos o melhor de nós...”.
A conversa se estendeu alguns minutos pelas diferenças entre formas de administrar a coisa pública: aquela mais comum no Brasil, praticada pelos agentes públicos que exploram o cargo para fins pessoais, e outra, em extinção, a de priorizar exclusivamente o interesse da população.
O termo “política”, como era na origem grega, identificava a arte de governar a cidade para o bem comum de seus cidadãos.
Os governantes não recebiam salários: eram escolhidos e aceitavam pela honra de servir e, muitas vezes, gastavam não apenas seu tempo, mas suas fortunas, nessa missão. Júlio César financiou, com o patrimônio da sua família, a conquista da Gália (atual França).
De lá pra cá, as formas de governar se alteraram, passando pelos interesses mais rasteiros, mas o cerne de um mandato público deveria continuar intocado. O cargo era e deveria continuar a serviço exclusivo do bem comum. Entretanto, hoje os cargos eletivos e de nomeação se transformaram, infelizmente, em oportunidades de explorar o erário e a população, adotando as fórmulas mais perversas e criminosas. O eleito se atribui salários, verbas, privilégios e prerrogativas indecentes. Em Belo Horizonte o custo anual suportado pela população para cada vereador defender o interesse público chega a R$ 12 milhões, ou a R$ 492 milhões anuais. Meio bilhão parece excessivo?
Considerando ainda que o salário legal do vereador chega perto de R$ 25 mil, resulta que R$ 975 mil por mês são gastos em derivados e penduricalhos para cada um dos 41 vereadores. Tem algum deles que acha errado?
Antigamente, o cargo público conquistado numa eleição era visto como uma missão, como uma honra, como um sacerdócio. Os ideais mais elevados, e não as ideologias, moviam as pessoas, as escolhas. A recompensa era a honra do dever heroico cumprido, transcendia os valores materiais.
Com o decorrer do tempo, o sacerdócio deu lugar ao negócio, ao proveito, ao enriquecimento indecente, sabendo-se que esse assalto realizado contra as contas públicas, por cálculos mesquinhos e corrupção, deixa no rastro sofrimentos, fome, desserviços e até mortes.
Durante a última semana, para escancarar o lado mais sórdido da política, apareceu o advogado Nelson William na CPMI do INSS. Nos imóveis dele foram aprendidos pela PF mais de R$ 50 milhões em joias, obras de arte e carros de luxo, entre eles um Rolls Royce de R$ 11 milhões. Teria chegado à sua garagem vitimando milhares de idosos e pessoas com deficiência, que deixaram de comprar medicamentos, comida, bens essenciais para enfrentar situações de sobrevivência. Tudo isso encoberto pela ação de políticos do mais alto escalão que se declaram a serviço do povo.
Como explicou Dilma Rousseff, numa erupção de clareza e sinceridade, em 4 de março de 2013, durante um evento em João Pessoa, na Paraíba, acenando aos seus amigos: “Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. O diabo é o contrário da verdade, do bem, da forma correta de agir, talvez por isso o mundo político apodreça, sem freios morais, sem sensibilidade humana, por interesse mesquinho, destruindo tudo pelo caminho.
É o fim.