ANÁLISE

Master

Quem deveria dar um basta à ciranda de Daniel Vorcaro sempre foi o Banco Central. Não fez nada

Por Vittorio Medioli


Publicado em 23 de novembro de 2025 | 14:25
 
 
A sede do Banco Master fica no bairro Vila Olímpia, em São Paulo

O rombo do Banco Master, até agora avaliado em R$ 12 bilhões, vinha crescendo vertiginosamente, assim como as notícias de operações temerárias no mercado financeiro.

Quem deveria dar um basta à ciranda de Daniel Vorcaro sempre foi o Banco Central. Não fez nada, mesmo que a maior propaganda para atrair pequenos e médios investidores fosse o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), mantido por um consórcio de instituições bancárias nacionais, que garante aplicações até o limite de R$ 250 mil por investidor.

O Master, típica raposa dentro do galinheiro, fazia questão de divulgar que estava acobertado pela garantia do controlador – decorrente de depósitos de R$ 160 bilhões aportados por dezenas de bancos. Na formação dessa montanha de dinheiro, o Master teve participação insignificante, entretanto, calcula-se que pelo menos R$ 40 bilhões serão o rombo que o FGC poderá pagar pelas fraudes do Master.

A omissão do BC era comentada desde 2023, quando a saúde do Master já era insustentável. Paralelamente, cresciam os gastos com contratações de banca de advogados.

Em 2024 Vorcaro comprou no Lago Sul, em Brasília, uma mansão de R$ 36 milhões, com 4.300 m²,  salões e dependências assinados por arquitetos famosos, que serviam para receber autoridades e ministros e para encantar, bem ao estilo brasiliense, a elite política nacional.

A raposa, até se empanturrar de aves, foi deixada livre e solta. A audácia predatória contou até com um senador, amigo de Daniel Vorcaro, que tentou (sem sucesso) dar mais raio de manobra ao Master, com aumento do limite das garantias de R$ 250 mil para R$ 1 milhão.  

O Master contabilizou em balanço R$ 500 milhões anuais em honorários para remunerar escritórios de advocacia, entre os quais aparecem parentes de ministros do STF e outros poderosos. Serviram para quê?

Está certo que o custo da imunidade que o protegia nos últimos anos não deveria ser de pouca conta. Os balanços fantasiosos do banco não poderiam passar sem reação das autoridades controladoras. Nisso Daniel Vorcaro não estava sozinho. Suas ligações com os fundos Reag, que foram dissolvidos no bojo da operação Carbono Oculto, que investiga o PCC, são várias.

Em dezembro de 2023, foi editada a Medida Provisória  1.200/2023, que liberou crédito extraordinário de R$ 93,1 bilhões para quitar dívidas de precatórios acumuladas na gestão anterior.

A medida foi possível após o STF autorizar o pagamento e o governo federal cumprir a decisão para retomar a quitação do estoque acumulado. O governo também efetuou o pagamento de precatórios do INSS, com injeção de mais de R$ 20 bilhões.
Nessa operação insistentemente se falou que o Banco Master tinha comprado, facilitado por informações, dezenas de precatórios com deságio significante, em seguida liquidados integralmente por via judicial. Passou sem esclarecimentos.

Circulou também que o banqueiro teria comprado nessa época uma mansão na Flórida, avaliada em cerca de R$ 180 milhões; outra em Trancoso, de R$ 80 milhões; três jatos, dois Falcons e um Gulfstream, por R$ 400 milhões. Joias, obras de arte, eventos em Londres que reuniram vários ministros do STF, o ex-chanceler britânico Tony Blair, com a nata do Judiciário e da política. E, ainda, festas de arromba, dentro e fora do Brasil, faziam parte da rotina deslumbrante, sem contar a transformação de Vorcaro em magnata do futebol, dono de clínicas médicas, bancos digitais, mineradoras e muito mais.

Para quem se transformou de corretor de imóveis em banqueiro em 2018, evoluir a esse ponto em tão pouco tempo esconde uma fórmula não convencional de sucesso em setores tradicionais.

O escândalo do Master, até o momento, tem apenas definido seu centro. Os limites e tamanho da circunferência podem ser muito maiores do que o imaginado. Os valores do rombo podem rivalizar com os maiores que o Brasil já registrou em sua assombrosa memória.