Pode até ter acontecido antes, mas sinceramente não me lembro de ter visto, em um mês de dezembro, a aprovação popular de um governo federal diminuir. Dezembro, mês de festas e de 13º salário, e janeiro, mês de férias e de recesso dos Parlamentos, sempre jogaram a favor do governo e levantaram sua moral frente aos eleitores.
O momento de festividade coincide com as viagens e o esvaziamento de Brasília, dos centros de poder. O mundo inteiro dirige suas atenções às famílias, aos presentes natalinos e às circunstâncias agradáveis.
A pauta política para nos plenários fechados, as denúncias recuam e se silenciam. Quem tem chumbo para gastar o economiza para a volta do recesso, e as ogivas nucleares para depois do Carnaval – data que sela o retorno à “normalidade” conflitual do mundo político.
Nitidamente é um momento favorável, de boas ondas para surfar. Os meses de dezembro e janeiro são importantes para recuperar o fôlego, colocar a casa em ordem, preparar-se para o ano vindouro e dominar a cena e a pauta.
A aceitação – ou aprovação – de um governo costuma se levantar entre distrações, comemorações, repouso e viagens regadas pelo 13º, que permite satisfazer sonhos acalentados durante o ano todo.
O recesso apaga as CPIs, as comissões, os pronunciamentos bombásticos, as convocações de ministros, as buscas e apreensões e toda aquela atividade que alguns observadores sagazes classificam como “gerar dificuldades para vender facilidades”. São os meses mais favoráveis aos governantes.
É um clima propício para trabalhar sem muitas pressões ou aquelas “dificuldades” que tomam tempo e desgastam.
Também é um mês de chuvas, de obras paradas, de silêncio e paz.
Pois bem, em dezembro de 2024 e em todo o mês de janeiro de 2025, um lapso de cerca de 60 dias, historicamente favorável aos humores, exatamente aqueles que determinam o julgamento da população em relação ao governo, o presidente Lula conseguiu a proeza de cavar uma diminuição de aprovação de 3 pontos e um aumento da desaprovação de 7 pontos. Empurrou, numa exígua fração de tempo, 7%, cerca de 11 milhões de indivíduos, na já constante parcela daqueles que desaprovam sua gestão.
Ter mexido com o Pix deu um terremoto, quase como o confisco determinado por Fernando Collor. E também o fato de aumentar impostos, num país asfixiado pelos tributos e que já aprendeu que não são esses aumentos que melhoram a economia nacional nem a vida da população. Fatores adversos, como a eleição de Donald Trump, desafeto declarado do presidente Lula, acenderam a luz de alerta. A negativa da permissão para a viagem de Bolsonaro, pai do Pix, à posse de Trump ocorreu em pleno ataque ao Pix, desastrosamente conduzido pela equipe de governo e pelo próprio Lula, que se convenceu de mudar de postura apenas quando as sondagens rotineiras realizadas pelo Planalto mostraram-lhe o efeito devastador. A medida era interpretada como invasão e taxação daquele meio “adorado”, que descomplicou e barateou a vida da população, libertando-a da tortura da fila no banco.
Não bastassem os desastres, Lula perdeu o controle do Senado, já que seu governo não conseguiu formar uma maioria.
Neste momento, com os fatores que determinam os equilíbrios políticos, no começo de fevereiro, marcado pelo aumento de combustíveis e de impostos, pela elevação da Selic e pelo avanço dos adversários, o quadro se apresenta desfavorável e hostil para o governo Lula.
Os parlamentares começam agora a planejar de verdade as reeleições, retornando das suas bases, depois de meio mandato já consumido, sentindo que a maior parte da população desaprova o governo.
O Senado promete um embate duro com o STF.
A situação parece ser o resultado da ausência de sensibilidade e de coordenação política. Isso pode custar caro.
O vice Geraldo Alckmin, em relação ao presidente Lula, não demonstra as características de Itamar Franco, em 1991, em relação a Fernando Collor, porém pode ser colocado em situação análoga.
O ano político começa agora, numa situação conturbada e preocupante. Os desacertos de cima se refletem embaixo, e a conta é paga pelos inocentes.