OPINIÃO

Perda de inteligência 

Não importa apenas “saber”, precisa dominar o aproveitamento do saber. Isso está se tornando mais difícil

Por Vittorio Medioli

Publicado em 06 de abril de 2025 | 11:16

 
 
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Imagem ilustrativa Foto: Arquivo/EBC
Vittorio Medioli
Colunista de Opinião
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Os jovens desta última geração, que vivem conectados e dependentes de redes sociais, estão perdendo habilidades que a humanidade conquistou nos últimos 5.000 anos de civilização. A essa conclusão chegou um grupo de estudos na Noruega. Culpa principal dessa queda: a tendência de se comunicar com frases curtas nas redes sociais. Isso acabou afetando a grafia dos alunos e provocando a perda da capacidade, na geração Z, de se expressar de forma gramaticalmente correta e, pior, de desenvolver narrativas mais elaboradas, precisas e complexas.

A inteligência humana está em queda. Aquela que pode ser reconhecida na capacidade de elaborar conexões e sínteses. Não importa apenas “saber”, precisa dominar o aproveitamento do saber. Isso está se tornando mais difícil.

Os jovens passaram a substituir o papel por dispositivos tecnológicos em detrimento do domínio da escrita, da expressão vocal e corporal.

O avanço da tecnologia e o uso constante das mídias sociais estão impactando a habilidade de escrever nos mais recentes, nascidos na era digital. Hoje, por falta de exercício de escrever à mão, não conseguem manter uma caligrafia legível e construir textos mais concatenados. 

Para cientistas sociais, que mergulharam nas análises da nova geração, a mudança está ligada ao uso crescente de teclados e monitores desde a primeira idade, inutilizando a escrita manual, a não ser nas salas de aulas.

A Universidade de Stavanger, na Noruega, apontou que deixar de escrever manualmente por um ano impacta especialmente o jovem, diminui e altera abruptamente a fluência caligráfica e sua qualidade. No estudo se evidencia que 40% dos alunos pesquisados já mostram uma forma de escrita de difícil leitura, até pelo mesmo autor. Relatam, ainda, a fadiga de usar caneta e papel. Até bolhas nos dedos foram notadas em alguns alunos submetidos a horas de escrita.

Características de desabilidade mostraram que a escrita dos estudantes analisados inclina-se para baixo ou para cima na página, sem conseguir paralelismo. 

Os jovens enfrentam problemas na construção de textos e na comunicação oral fluente e correta. Segundo as conclusões, o fenômeno resulta da prática de interagir com frases curtas nas redes sociais, e isso afetou a capacidade de estruturar parágrafos e desenvolver argumentos mais amplos. Isto dá os sinais de uma “pobreza” funcional, que limita a capacidade de compreensão e elaboração de pensamento.  

O fenômeno começa a contaminar os professores e deixar em risco a formação dos futuros dessa fundamental profissão. Deixa mais árido o ensinamento a adoção de testes de múltipla escolha, que levam os alunos a pontuar sem justificar a escolhas.

Muitos estudantes chegam às aulas sem canetas e fazem tudo pelo teclado. Isso faz parte de um fenômeno maior sobre como a tecnologia está remodelando a linguagem escrita.

A caligrafia ficou comprometida e incorreta, provocando não apenas um problema estético, chegou a dificultar a alfabetização nas escolas no muno inteiro. O professor e filósofo brasileiro Robson Ribeiro aponta suas preocupações: 

“Desde o primeiro sistema de escrita, o cuneiforme – criado há cerca de 5.500 anos –, o processo evoluiu como um instrumento de transmissão e preservação do conhecimento, desenvolvendo a capacidade de expressão criativa, que vem se perdendo e poderá ser um sério problema num futuro recente”.

Vivemos um momento de transição entre gerações formadas por estímulos tradicionais nos últimos séculos, que vêm se perdendo. Gerações que nem poderiam imaginar um smartphone e um tablet, entretanto chegaram provavelmente ao ápice de um desenvolvimento intelectual, que entrou em declínio.

Contudo, pode-se antever a preocupação em se discutir os métodos pedagógicos para o futuro e IA surgindo como ameaça assombrosa dentro das escolas. Os mais pessimistas citam um perigo à preservação da espécie humana, ameaçada de perder faculdades mais elevadas de inteligência e pensamento.