Os poderosos de antigamente mantinham ao seu lado, além de ministros, banqueiros e generais, grupos ecléticos de artistas, cientistas, arquitetos, filósofos, às vezes magos com chapéu pontudo. Montavam grandes bibliotecas e valorizavam pessoas de saber.
As cortes eram os principais centros de cultura e arte, fato que, pelo menos em parte, compensava as falhas democráticas do sistema feudal, conquistado na marra, invariavelmente com o apoio de um Maquiavel.
Os Médicis, senhores de Florença, interpretaram o rolo dos monarcas mecenas melhor do que qualquer outro interessado de sua época. Os gênios que cresceram à sombra dos Médicis ditaram o estilo e os costumes de Roma, Londres, Paris, Viena, Praga, Moscou, do mundo inteiro.
Os tempos mudaram. Ao contrário dos senhores de Florença, os governantes da atualidade, produtos bastardos das democracias, cultuam por excelência e exclusividade o populismo e a demagogia. Sabem conviver com banqueiros, empreiteiros, economistas cinzentos, às vezes com fraudadores e figuras que, dos antigos esplendores dos Médicis, não lembram nada. Nada mesmo.
Até os assessores destinados a comparecer em público costumam despejar pouco brilho e quase nenhuma admiração. Comunicam-se com linguagem arrastada e fria, adotada em relatórios que servem para Bolsa de Valores e são ininteligíveis às massas.
Poucos deles sabem soletrar o nome de uma meia dúzia de filósofos, de pensadores humanistas; suas culturas parecem fabricadas numa linha de montagem de caminhões.
O sistema favorece, nas proximidades do poder, apenas os astutos e quem demonstra capacidade de sobreviver à competitividade bestial. Em suma: quem se orienta num arcabouço labiríntico que deveria servir ao povo, mas que dele suga ou que sempre sugou, favorecido pela ignorância e incapacidade do próprio povo de decifrar o melhor.
Platão julgava que os mais ignorantes não teriam capacidade para escolher o melhor para eles, assim como as crianças não têm capacidade para se autogovernar.
Cosmo de Médici, que foi bastante amado pelos seus súditos, se cercava de figuras como Marsílio Ficino, que escreveu “O Modo de Capturar a Vida das Estrelas” (De vitae coelibus comparanda), obviamente para pô-las a serviço de um bom governo. Algo de fantástico, comovente, que hoje não cabe no apertado modo de viver e de ser mal governado.