O determinismo é uma teoria que aparentemente conflita com outra: a do livre-arbítrio.
O destino não é coisa que o ser humano possa mudar substancialmente; dele é peça infinitesimal de um plano imensamente maior. Segundo Espinosa, filósofo nascido na Holanda em pleno século XVII, qualquer ação de um ser humano não é uma ação isolada. Ela é resultado de ações anteriores dele mesmo, e estas provocam outras, numa espiral sem fim até a sua morte. Causas que se transformam em efeitos, e vice-versa, num encadeamento rizomático, entrelaçado a incontáveis outras externas.
Para Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do século XIX, haveria uma força criativa universal que movimenta toda a vida. Ele chamou essa força de “vontade de poder”, e ela seria a motriz e causa de tudo. Uma espécie de correnteza, de caos organizado por regras universais muito acima da compreensão comum.
Contudo, podemos entender que, quanto maior é o estado de consciência e o estado de conhecimento de si mesmo e do mundo circunstante, realiza-se no ser humano um despertar de todos os sentidos. Neles a intuição e a capacidade de elaborar sínteses, além da ampliação da memória, dotam a individualidade humana de instrumentos capazes de se situar e enfrentar o determinismo.
Não se contenta de ser uma simples folha no meio da tempestade, mas um veículo com capacidade de direcionar sua viagem.
O determinismo pode indicar um conjunto quase infinito de causas e efeitos, de ações, de omissões contidos no reservatório da personalidade, dita de “self” ou “eu superior”. O Vedanta identifica como “corpo causal” aquele que reencarna quantas vezes forem necessárias para atingir a superação dos limites ancestrais humanos e dar acesso a hierarquias superiores ou angelicais. Na doutrina cristã, exotericamente (para as multidões incultas), existe apenas o “espírito”, que segue para o inferno, purgatório ou paraíso, quando não fica detido num limbo, por não ter méritos nem pecados.
Levantando o olhar para o Universo, surge a questão: “Que sentido teria numa única vida uma chance com tudo a ganhar ou perder?”. Nisso se depara que a teoria da reencarnação dá profundidade ao passado de inúmeras existências e horizonte ao futuro do ser humano numa missão universal. Enfim, a trajetória humana é apenas perceptível entre dois infinitos, um anterior e outro posterior, que os ocultistas definem como “um eterno e contínuo presente”.
Lavoisier, iluminado químico francês do século XVIII, em 1777 enunciou o princípio da conservação de massas: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Em pleno século XXI, a frase continua sem um arranhão e reverenciada, pois há prova de que não existem perdas no cosmo em contínua expansão. O que era tinha sua utilidade e continua, sob outras formas e funções, atendendo a um sistema e um plano que lhe foram confiados no Universo. A natureza comprova, em todas as suas espécies, ser dotada de um poder de se perpetuar, de espalhar sementes, atendendo a um desejo que não é dela, mas de quem a comanda.
Existem teorias de determinismo: científico, geográfico, religioso e, ainda, filosófico. Entretanto, deve-se aproveitar todas elas e tirar, sem sectarismo, o que a observação dos eventos naturais, dos fatos em si, sugere. TUDO, apesar de aparentemente separado, é um TODO. Um corpo orgânico, um sistema de incrível complexidade e eficiência para ocupar a imensidão com trilhões de galáxias.
Apenas vegetar, sem ter noção do que brilha no céu e ferve em cada célula, deixa evidentemente o ser, apesar de humano, perdido como tábua no oceano. Com isso deverá se render apenas ao determinismo geográfico, social, cultural, genético, um pouco de cada aspecto da maré e dos ventos. Refém dos instintos de sobrevivência e dos antagonismos primordiais.
O homem, rei deste planeta, capaz de domar a matéria e com “respeito” deixá-la submissa às suas necessidades, desejos e vontades, tem várias missões que excedem o mero gozo dos sentidos.
Segundo Espinosa, as ondas emocionais acorrentam ao determinismo, não permitem ao livre-arbítrio exercer seu potencial ilimitado. Onde as paixões se acumulam, a mente e o corpo têm seu poder de agir reduzido, perde seu poder e liberdade de agir.
Também não se registra progresso sem esforço, sem autocontrole, sem purificação, sem verdade, apenas sobrarão os problemas semeados, as lutas bestiais, mais que humanas, de quem faz de sua existência uma perda de oportunidade ou, pior, um inferno aqui na terra.