Vittorio Medioli

Drama brasileiro

Se no mundo, sedento de fórmulas ambientalmente corretas, despejam-se incentivos e apoios à descarbonização do planeta, o Brasil, paradoxalmente destrói o que tem de melhor para preservar a qualidade ambiental do globo terrestre

Por Vittorio Medioli

Publicado em 22 de outubro de 2023 | 03:00

 
 
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Colunista de Opinião
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O mercado de etanol sofreu, nos últimos anos, diversas modificações relacionadas a tributações, que foram tão bem dimensionadas a favor dos combustíveis fósseis, gasolina e diesel, ao ponto de levar à queda da participação do biocombustível no mercado nacional.

Se no mundo, sedento de fórmulas ambientalmente corretas, despejam-se incentivos e apoios à descarbonização do planeta, o Brasil, paradoxalmente (ou espertamente, para quem ganha com o ambientalmente incorreto), destrói o que tem de melhor para preservar a qualidade ambiental do globo terrestre.

A sanha tributária e outras inconfessáveis, que encontram no petrolão e na Lava Jato material de sobra para defini-las, impedem ao Brasil o aproveitamento de todo o seu potencial imenso de desenvolvimento sustentável.

A indústria da pobreza nacional (e do enriquecimento de uma minoria predatória) é alimentada pela conspiração suprapartidária e perversa, acima de ideologias e divergências aparentemente contrastantes e insanáveis. Crescem e prosperam a especulação, a ganância e a corrupção.

Quem paga a conta é sempre o povo, que infelizmente não se apercebe disso, em decorrência da péssima educação a ele dispensada (que limitou suas capacidades cognitivas) e do mecanismo perverso que domina e empobrece o Brasil.

O etanol, em queda de participação no consumo de combustíveis, está sendo comercializado por R$ 3,40 o litro, ou seja, 0,63 euro por litro, enquanto na Europa se vende a gasolina por 1,90 euro, exatamente com valor 300% maior. Lá não existe etanol carburante nem possibilidade de produção em larga escala.

Entretanto, países que possuem potencial estão apostando em aumento significativo de produção e de incentivos para o setor. Etanol é o carburante mais limpo que se conhece; quer dizer que, para salvar o planeta e descarbonizá-lo, ele cai como uma luva.

E já que o Brasil possui essa incrível vantagem, deveria ser um impulsionador dessa “graça divina” que caiu no seu quintal. Ainda em consideração à realidade: etanol é o melhor combustível primário para células de hidrogênio. Isso faz com que no Brasil, e lá onde existe etanol, a fórmula para manter o planeta limpo é, na prática, a melhor fórmula à disposição. A humanidade, nas próximas duas décadas, tem isso à disposição.

Contudo, é inexplicável a isenção de imposto sobre carros elétricos importados, enquanto etanol e todo o seu ambiente no Brasil não têm praticamente qualquer incentivo e apoio.

Os Estados Unidos, na década de 1990, eram pequenos produtores de etanol, mas já em 2002, com 8 bilhões de litros produzidos, ultrapassaram os 5,6 bilhões que o Brasil comercializou. Passados 20 anos, o Brasil multiplicou por 5 a produção de 2002, e neste ano o consumo interno deverá passar de 28 bilhões de litros. Entretanto, os Estados Unidos fecharam o ano com 136 bilhões de litros de etanol. Isso quer dizer que aumentou em 17 vezes seu potencial produtivo em 20 anos.

Se o Brasil tivesse acompanhado o ritmo de crescimento dos EUA, estaria hoje produzindo 95,6 bilhões de litros, e não 28 bilhões.

O efeito sobre o acréscimo de divisas para o país seria na casa de US$ 40 bilhões, com a geração de 2,5 milhões de empregos. Ou seja, o Brasil seria bem diferente.

Mas por que, com tudo à disposição para aproveitar um momento de conversão energética reclamado pela humanidade, necessário para a preservação do planeta, o Brasil é tão cego e surdo às evidências?

Sem querer ofender ninguém e sem citar nomes (pois a lista seria infindável), podemos apontar o dedo para a forma abominável e primitiva de uma sociedade adormecida, alienada e injusta escolher seus representantes.