OPINIÃO

Educação e justiça social

A cada ano se destinam mais verbas para setores como saúde e educação. Isso é louvável, mas ainda faltam inteligência e parâmetros de aplicação

Por Vittorio Medioli

Publicado em 26 de março de 2023 | 06:00

 
 
Vittorio Medioli
Colunista de Opinião
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Entre os tantos problemas que deixam o Brasil “injusto”, poderíamos colocar em primeiro lugar a baixa qualidade dos governantes e políticos que ocupam os mais importantes cargos. 

Baixíssima produtividade, custos estratosféricos, prazos longos, burocracia tacanha e uma gincana de “cuidados” que pouco servem para conter corrupção, desmando, incapacidade e outros tantos vícios e pecados capitais. 

A cada ano se destinam mais e mais verbas para setores como saúde e educação. Isso é louvável, mas ainda faltam inteligência e parâmetros de aplicação. Os setores são “historicamente” sujeitos à corrosão da corrupção. 

Não ocorrem discussões sobre a qualidade do ensino, o combate ao analfabetismo. Do jeito que está, parece que está muito bom ler que, no ranking de desempenho das primeiras 70 nações mais estruturadas do planeta, o Brasil está entre as dez piores. 

Isso é um dado alarmante, e não precisa de gênio para concluir que a falta de educação está na base dos nossos males nacionais. Pessoas mal preparadas para a vida acabam marginalizadas, dependentes de ajudas basilares. Tudo isso ainda sairia “barato”, mas a educação escassa provoca desemprego, miséria, doenças frequentes e dependência absoluta da ajuda externa. Os quase 40 milhões de brasileiros que se afogam na miséria o comprovam. 

Ainda não conseguem se inserir no ambiente produtivo, no aumento do desenvolvimento, da geração de oportunidade e do PIB. Apenas pessoas de bom preparo encontram seu destino e participação social. 

Choca ter que manter uma população carcerária de 700 mil indivíduos, retidos em presídios que são reconhecidamente intensificadores de criminalidade; sem redimir o “pecador”, o devolvem mais capacitado para a delinquência. 

Investir na educação pode representar o despovoamento do sistema prisional e fechar cerca de 90% de suas vagas, já que deve ser dito, e repetido: 95% dos detentos pertencem a essa triste categoria que abastece e engrossa a criminalidade. Sem analfabetismo não haveria mais de 600 mil detentos. Tanto é verdade que, desses indivíduos descontando penas, passando por sistema alternativo de detenção (Apac), que alfabetiza, profissionaliza e socializa, 85% acabam por se inserir de novo, proveitosamente, na sociedade, ao contrário daqueles que saem do sistema tradicional: 87% retornam à prisão por motivos mais graves. 

Ontem, às 14h, no bairro Petrovale, em Betim, inauguramos o 12º centro de educação pré-escolar municipal, com capacidade de atender entre 386 e 580 crianças de 0 a 5 anos. Outros dez centros do mesmo padrão se encontram em construção avançada. 

Fazem parte de um plano de universalização de atendimento de excelência. Pais, mães, professoras, público em geral, na primeira visita a essas unidades, são quase unânimes em expressar: “Nunca sonhei algo parecido”. 

A qualidade, a amplitude, os detalhes espelham a dedicação e o amor para uma causa de extrema importância de todos aqueles que se dedicaram. 

Em Betim o plano para melhoria da educação é ousado. Até 2024 pretende-se dotar o município de 22 unidades pré-escolares, que em conjunto poderão atender de 12 mil a 15 mil crianças, sem deixar fora ninguém. Isso já vem acontecendo. Os resultados onde já existem em funcionamento unidades dessa envergadura são fantásticos. Parece que não apenas os alunos, mas as famílias inteiras passam a ter benefícios pela interação com agentes sociais das creches. A missão não é apenas tratar das crianças, mas atenuar ou eliminar as causas de desajustes familiares. 

Isso, felizmente, vem ocorrendo, e ainda se dará com mais intensidade com o enriquecimento da experiência dos agentes envolvidos. 

Para os 45 mil alunos de 6 a 14 anos, estão em construção oito unidades de escolas de ensino fundamental projetadas para atender com qualidade e inovação o ensino, com novas tecnologias e mudanças comportamentais. Além de alfabetizar, precisam se preparar para oferecer abordagens científicas, artísticas, esportivas. Cada unidade atenderá até 2.000 alunos, com salas de sobra para ministrar aulas de reforço e não deixar para trás os atrasados. 

Malgrado o plano esteja no meio do caminho, a partir deste ano, em todas as salas de aulas, foram instalados computadores e telões de 65 polegadas para potencializar o ensino dos professores com recursos audiovisuais. Ainda há amplas bibliotecas (120 mil livros), salas de informática (5.000 computadores) para os alunos terem quatro horas semanais de exercícios com recursos digitais. Até laboratórios de robótica já começam a brotar. 

Foram produzidos, pelos próprios professores da rede, cadernos muito interessantes de exercícios de reforços. E as escolas renovaram integralmente carteiras e equipamentos, reformaram ambientes. 

A inauguração da unidade Petrovale, como as demais já entregues, atende locais de Índice de Desenvolvimento Humano preocupante. Pretende-se, assim, deixar para trás épocas tenebrosas e iniciar um ciclo radiante. 

A meta é zerar o analfabetismo funcional, elevar o Ideb para 7,5 em todo o município. Por isso foram instalados sistemas e aplicativos que monitoram os alunos com reconhecimento facial na entrada e saída das unidades e colocam as escolas em contato direto com as famílias para envolvê-las no esforço educacional. 

É bom lembrar que planos dessa envergadura podem elevar, em 20 anos, o Brasil a uma potência social, econômica, descriminalizada, e aumentar a renda per capita, com uma população preparada. 

Resta ver se uma população soberana interessa a quem a explora atualmente, pois demagogos e aproveitadores seriam identificados com maior facilidade do que infelizmente ocorre hoje, com pessoas de pouca bagagem intelectual. 

Diga-se, também, que a recorrente ocorrência de governantes desonestos e incompetentes seria naturalmente reduzida, talvez varrida. 

Reconhecer quem conspira contra o país e sua população não é difícil; apesar de muito raro, com um esforço dá para identificar.