Numa segunda-feira, ao final de palestra para jovens estagiários na faixa de 16 a 18 anos, recebi cerca de 30 perguntas escritas em papéis tirados de cadernos, algumas sem assinatura, outras com endereço e telefone.
O tema mais recorrente foi o emprego, encarado como pesadelo, depois dele a violência onipresente, mas havia outras interrogações sobre drogas, sexo, religião, política, segredos do sucesso. Apesar da grande variedade de assuntos, todos vertiam a solução para dificuldades.
Lendo as mensagens que me chegavam da plateia, em certo momento me deu um nó na garganta nem tanto pela saudade dos meus 16 anos ou pelo frio que me gelou a espinha ao lembrar as angústias de adolescente. Os meus, em comparação aos atuais, foram tempos felizes, com poucos carros em circulação, quase sem drogas, sem computadores, sem fome, sem poluição. Os vizinhos eram conhecidos, o gari que varria a rua era sempre o mesmo, o médico atendia a gente em casa. Havia muito mais verde, águas transparentes, passarinhos e cigarras. Ao final dos estudos, todos encontravam emprego, e não trabalhava só quem não queria.
O nó que me apertou a garganta era por pena deles, sentados à minha frente, condenados a uma vida que perdeu o romantismo, ganhou competitividade, banalizou violência e sexo. No mundo dos meus 16 anos o emprego sobrava, as ruas eram tranquilas, sem assaltos, traficantes ou tiroteios. Todos se conheciam e se respeitavam. Uma saia pouco acima do joelho acelerava o coração. A minha foi uma geração sem engarrafamento, sem pedágio, sem sequestro.
Diferente é para eles, que vivem na incerteza globalizada, no estresse precoce, na realidade tão superficial, que provoca competições malucas em pichações, na quantidade de piercing perfurando o corpo, na tatuagem que ofende a beleza natural, na música eletrônica que espanca os ouvidos e faz tremer as vísceras. O jovem contemporâneo sofre o complexo de autoflagelação, de masoquismo, de tortura, como se a vida fosse apenas para sofrer sem trégua. Como se as agressões externas não bastassem para infelicitar a própria vida e precisassem de mais lenha para arder.
O que dizer a eles? Pedir perdão é pouco. Não compreenderiam a vastidão de quanto teriam que perdoar. Melhor é explicar-lhes que o que se toca com as mãos ou se vê com os olhos não é tudo. Que em cada ser humano tem bondade, mesmo que adormecida. Que tem razão quem disse: “Amai-vos uns aos outros”.
Que o corpo deve ser respeitado. Que não precisa ter pressa com o sexo, que ele é bom e maravilhoso quando praticado com maturidade, com o parceiro que se ama. Que é ainda possível, apesar de o mundo dos adultos conspirar contra, elevar os sentimentos e encontrar um anjo. Que esse inferno não é capaz de resistir ao amor.