Opinião

O desafio do século

A cada dia, se faz mais urgente a diminuição das emissões de gás carbônico

Por Vittorio Medioli

Publicado em 12 de novembro de 2023 | 03:00

 
 
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Colunista de Opinião
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Segundo o Global Carbon Project (GCP), o total de emissões no planeta em 2022 chegou a 37,8 GtCO2 (bilhões de toneladas de gás carbônico). China, com 11,4 GtCO2, EUA, com 5,1 GtCO2, Índia, com 2,9 GtCO2, Europa, com 2,8 GtCO2, e o resto do planeta, com 15,4 GtCO2, completam o assustador cenário que provoca o aquecimento global.

A cada dia, se faz mais urgente a diminuição das emissões, e é necessário adotar métodos de absorção, como é o plantio de árvores. Se os combustíveis fósseis, petróleo, carvão mineral, são os principais culpados, também o desmate de florestas e a criação de gado chegam hoje a representar uma significativa fatia do problema.

Um estudo recente da consultoria McKinsey, que assessora governos e corporações privadas em cerca de 60 países, traçou um quadro geral e destaca o Brasil como um ator importante nos desafios.

Chamado de “Net Zero Pathway Brazil”, o relatório aponta o Brasil como o sexto maior emissor de Gases de Efeito Estufa (GEEs) do mundo. Revela, ainda, ser o desmatamento, grande parte ilegal, a principal “contribuição” para essas emissões.

De acordo com a consultoria, nosso país tem uma vantagem na corrida rumo ao net zero (emissões líquidas zero) até 2050 sobre outros países, cuja poluição vem de setores produtivos imprescindíveis, como transporte, energia e indústria, já que as soluções para os problemas locais brasileiros são bem conhecidas e localizadas. Com isso, as medidas do governo se tornam mais fáceis e imediatas.

No relatório, a consultoria descreve cenários possíveis e mostra que, sem medidas para descarbonizar, a estimativa é que o Brasil dobre as emissões atuais, elevando-as para 2,1 GtCO2 em 2050. Em um cenário chamado “net zero”, o país precisa tomar uma série de decisões – quanto mais rápidas, melhores – para manter o nível 1 GtCO2, representativo de 2,7% das emissões globais. 

Não faltam fontes renováveis, como biodiesel, etanol e gás natural, além do potencial quase ilimitado de produção de hidrogênio verde, aproveitando energia eólica e solar.

Entretanto, de palpável não existe nada além de evidente omissão e defesa de interesses que se chocam com a sustentabilidade e a economia nacional. 

A incompetência e a conspiração geradas pelos tentáculos da burocracia mais cara e obsoleta do planeta inviabilizam a realização daquilo que desponta como e representa o melhor para a nação.

O desmatamento ilegal, via de regra por invasões de reservas naturais, é responsável hoje por 40% do desafio brasileiro. O Brasil, diz o estudo, poderá chegar ao net zero até 2030 se o desmatamento ilegal diminuir 97% no período.

Mas, acrescento pessoalmente, incentivar o plantio de florestas é a forma mais direta para fixar o carbono e gerar energia renovável. Existem estudos que comprovam haver fixação de uma tonelada em algumas espécies de árvores plantadas nos projetos de reflorestamento nacionais, que equivalem, num ciclo de sete anos, a um sequestro de 45 toneladas por hectare por ano. Ou seja, em um quilômetro quadrado (cem hectares) de solo brasileiro, adotando-se técnicas corretas, sequestram-se 4.500 toneladas por ano.

Se o Brasil incentivasse a expansão das florestas plantadas em 222.000 km², ou seja, 2,6% da expansão territorial do Brasil, já estaríamos sequestrando tudo aquilo que o país emite de CO2. Seríamos o país de emissão líquida zero.

A McKinsey sugere ações como a adoção de práticas agrícolas e de pecuária mais sustentáveis, o uso de produtos biológicos no lugar de defensivos químicos e a ampliação em 40 milhões de hectares da área coberta por agricultura regenerativa, abatendo, somente com esse tópico, 0,4 GtCO2 por ano até 2050.

Soluções rápidas e sustentáveis, para mostrar ao mundo a nossa participação no grande desafio deste século, existem no Brasil, mais que em qualquer outro país. Contudo, faltam competência, dedicação e interesse pela causa. O nosso ambientalismo se restringe a uma apologia da burocracia e da exploração cartorial.