Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. Estudou Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

Sem medo

Sem medo.

Por Vittorio Medioli
Publicado em 10 de setembro de 2023 | 06:00
 
 

Quando aparece um feriado, agradeço a Deus a possibilidade de me retirar para cuidar de mim, de um descanso, de uma leitura, de uma meditação. Nesses momentos, bons para esfriar as emoções e refletir de forma mais amena, acaba-se por entender situações que fugiam à compreensão.

Leio no portal O Tempo sobre o falecimento, aos 85 anos, do sociólogo italiano Domenico De Masi, criador da expressão “ócio criativo”. 

A tese do ócio criativo, ou do ócio inspirador, é uma realidade. Permite realizar análises de si mesmo e das circunstâncias que o frenesi e o barulho dos dias de trabalho nos negam. Provavelmente, como sustentou De Masi, evoluímos mais nos últimos cem anos do que nos milhões que nos antecederam, e, em ritmo acelerado, nos últimos dez anos se realizaram mais mudanças do que nos 50 anteriores. A humanidade enfrenta um momento novo e surpreendente rumo ao desconhecido, à quebra de limites e paradigmas que pareciam inquebrantáveis.

Os valores estão se realinhando e deixando em segundo plano os recursos materiais; o que mais emerge são os valores relacionados à inteligência artificial. Até as moedas lastreadas em metais e matérias-primas estão perdendo o passo para moedas digitais e virtuais.

Apesar de mergulhados no egoísmo e no medo que obscurece a compreensão, vivemos uma virada de página; surge a humanidade, que era apenas uma ficção, com consciência de seu envolvimento cósmico, que enxerga além do planeta Terra e cada vez mais para o alto e para o infinito.

Estão ruindo os velhos sistemas com o aparecimento da verdade, a quebra dos dogmas, a revelação de fatos que faziam parte apenas de um imaginário distante. Quebram-se tabus, descortinam-se revelações, perdem-se medos, geram-se sentimentos de responsabilidades além da família, do bairro, da cidade ou da nação.

Os desafios ambientais e a preservação do sistema e do equilíbrio global despertam atenções para a responsabilidade com o ambiente. Hoje compreende-se aquele ditado estranho do monge zen: “Uma folha que cai na floresta da Malásia altera até a realidade da América”.

A interligação planetária reforça os elos humanitários, que nunca se fizeram sentir no milênio passado. Despertou-se em todos os continentes a relevância das escolhas e dos métodos em qualquer ponto do globo. Todos, enfim, estamos a bordo do mesmo “navio”, e qualquer furo no casco coloca em risco de naufrágio todos os ocupantes, mesmo aqueles que viajam na cabine de luxo. E sobretudo deles se exige responsabilidade.

Isso despertará e sensibilizará ainda mais as novas gerações, que como nunca são abastecidas de uma avalanche de informações e levadas a níveis de compreensão eclética até então inimagináveis. Amplia-se a consciência, e ela será preponderante no futuro como nunca foi no passado.

Nas profecias a nova época, que está apenas no começo, seja ela citada como Era do Ouro, ou de Aquário, ou da Sexta Raça, representa o retorno a um estado espiritual mais elevado, de valores imateriais.

Para quem visitou Auroville, no sul da Índia, lá está o Matrimandir plantado no meio da representação estilizada da galáxia, sistema pelo qual se ordena não apenas o macrocosmo, como também o microcosmo e as células que aos bilhões formam nosso corpo.

O que valeu até o limiar do novo milênio está destinado a ser superado, o que parecia sólido, como era uma Kodak, pode ser tragado em poucos anos, e novas descobertas deixarão obsoletos setores como o petrolífero, o energético e outros que ditaram lei nos últimos cem anos.

Cabe ao homem descobrir seu potencial ilimitado, além da matéria. Feito à semelhança de Deus, na realidade é ele um deus para o qual não tem limite. Como escreveu há mais de 140 anos H.P. Blavatsky, o infinito é o nosso destino. “Não temas! Sob o hálito do medo enferruja a chave da evolução, e a chave enferrujada já não pode abrir... Quanto mais avançares, mais e mais serão os perigos que cercarão os teus passos. O caminho que segue para adiante é iluminado por uma chama, a luz da audácia ardendo no coração. Quanto mais ousares, mais conseguirás. Quanto mais temeres, mais a luz esmorecerá – e só ela pode te guiar”.

Isso que acontece hoje é para o bem, e o bem atingirá quem não tiver medo das mudanças.

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