Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. Estudou Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

Yoga

Como crisálidas, estamos destinados a sair da casca e voar? Todas as religiões comungam desse destino do ser humano

Por Vittorio Medioli
Publicado em 19 de março de 2023 | 06:00
 
 

O caminho para a perfeição, ou senda crística, é aquele que Jesus percorreu. Antes dele, Krishna, Buda e outros passaram pelas árduas etapas da evolução espiritual até se tornarem “homem perfeito”, ou seja, Cristo, para ascender ao nível supra-humano.

Se você não acredita nesse lado espiritual de sua essência, pode parar por aqui a leitura. O que se espera a seguir é aparentemente complexo para quem vive de futebol e dinheiro.

Jesus de Nazaré não nasceu Cristo, Cristo ele se tornou no fim de uma trajetória que passou por muitas vidas, aprendizados, experiências, sofrimentos e uma crucificação. Não teria sentido imaginar que uma única existência de algumas dezenas de anos proporcionasse a possibilidade de descortinar “o reino de Deus que está em vós”. 

Como crisálidas, estamos destinados a sair da casca e voar? Todas as religiões comungam desse destino do ser humano, e para isso se adotam símbolos convergentes. 

São muitas as estações e diferentes os caminhos que podem levar à perfeição do homem e daí seguir adiante para esferas superiores. Dizem os sábios do yoga: “O corpo é perecível, o espírito é eterno e guarda em si todos os esforços, méritos e pecados”. A eternidade lhe concede a possibilidade de errar centenas de vezes, perder até a esperança, o rumo, para retornar ao ponto de recomeçar, fortalecido, contudo, pelas quedas e acertos. 

Essa peregrinação é cósmica, imensurável como o próprio universo. Fica entre dois infinitos, um passado e outro futuro. Os iluminados reconhecem o tempo como uma ilusão, apenas uma dimensão/sensação humana (na esfera ilusória de Maya, um palco de representação humana). O tempo foi desmistificado pela relatividade de Einstein, e ainda tem muito para se descobrir. Mas não se preocupe, precisa ser mesmo iluminado para entender. 

Seria, a priori, essa sensação a “forma” direta de estimular, como esporas para o cavalo manso, o homem a tomar iniciativas, a fortalecer a vontade,  pois sem ação (inércia) não se consegue o progresso.

O dono, para domesticar o cavalo, usa de vários expedientes que treinam a criatura e até a incomodam. Porém, uma vez preparado, ele se presta para nobres finalidades, até se transformar em grande companheiro. Dizem os sábios que a prática do yoga (“união”, traduzido do sânscrito) serve para tomada de consciência daquilo que somos de verdade: uma potencialidade infinita e divina à disposição da evolução. 

O corpo físico no yoga (que é uma ciência, e não uma religião) deve ser submisso, em seus desejos e paixões, à vontade firme de atingir as qualidades de limpeza, força, flexibilidade, resistência, consistência e inteligência. O corpo é um instrumento que deve ser preparado para ajudar, e não atrapalhar. 

Dessa forma, as posições e  contorções do yoga, que chamam a atenção do neófito, fazem parte da submissão da matéria à mente superior, que, assim educada, com controle de seus desejos, vícios e tendências egoísticas, ficará a serviço de nobres finalidades evolucionárias. Por isso terá que desenvolver vontade, devoção, equilíbrio, paz, sabedoria para deixar o espírito livre para se elevar a Deus (samadhi).

Se temos um corpo com desejos e tendências egoístas, é, sem dúvida, para algo importante que estimule a individualização da vontade na árdua escalada do Everest espiritual. 

Os grandes mestres ensinam que a via do yoga se apresenta estreita, acessível sem riscos para os poucos que se  preparam.

O prêmio, afinal, é divino. Em todas as religiões os bem-sucedidos são representados com uma auréola de luz dourada em volta da cabeça (sede dos três chakras superiores), representando o estado de iluminação. Até os próprios caciques das tribos indígenas se adornam de fantásticos cocares de cores resplandecentes. Segundo os cristãos, essa luz é emanação do próprio Espírito Santo, que desce no santuário que se preparou.

No momento de iluminação (despertar de kundalini) o ser humano toma conhecimento de seu passado e destino supranatural. Explode nele a beatitude, o êxtase experimentado por santa Teresa, pelos mártires nas arenas, pelo iogues em samadhi, no meio de geleiras do Himalaia, e pelos  devotos merecedores.

Nesse momento se dá uma inversão no ser humano: da lei da forma, que consiste em tomar para si, muda-se para a lei da vida, que é dar para os outros. Com isso o que acontece abaixo desse nível, bem e mal, passam a ser as consequências, como o calor e o frio, de um processo “necessário”.

Quem quer experimentar esse caminho do yoga não pode ter pressa, tem que estar disposto a renunciar aos vícios, se dedicar com persistência firme e devoção inabalável, o resto acontecerá na caminhada. Está escrito, ainda na literatura Vedanta, que todos, um dia, da imensurável eternidade, tomarão essa decisão.

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