Após o governo do Estado não aceitar o traçado do Rodoanel Metropolitano proposto pelas prefeituras de Betim e Contagem há cerca de três anos, o qual, segundo os respectivos chefes dos Executivos dessas cidades, seria mais viável financeiramente e com menos impactos à população, equipes da prefeitura iniciaram diversos estudos para executar a supervia dentro dos limites do município. Nesta quinta (26), o prefeito Vittorio Medioli (sem partido) apresentou o projeto a empresários e anunciou a licitação da obra, que deve ocorrer em novembro próximo. Já a execução dela, segundo ele, tem previsão de início em 2025 e de conclusão em 2027.
De acordo com o chefe do Executivo betinense, a supervia terá 28,4 km e será dividida em quatro trechos. O primeiro, com 6,1 km, vai da divisa com Sarzedo até a BR–381, próximo ao trevo de acesso à MG–155. O trecho 2 terá 4,85 km, entre a BR–381 e a BR–262, passando pelo Parque Industrial de Betim, onde 1,7 km já foi executada. O terceiro trecho compreende 12,1 km, da BR–262 até a interseção com a Via Icaivera. Por fim, o trecho 4 coincide com a própria Via Icaivera e terá 5,3 km, sendo que 4,2 km estão em execução e outros 1,1 km já foi concluído.
“Esse traçado vem para resolver problemas gravíssimos de mobilidade que temos no município com a travessia de trânsito pesado. Já o traçado do Estado não resolve o nosso problema. Aliás, o agrava e interrompe a mobilidade interna. Ele não é indutor de desenvolvimento, de empreendimentos comerciais, habitacionais e industriais. Pelo contrário, vem atrapalhar ou extinguir alguns”, frisou o prefeito.
Segundo Vittorio, a proposta apresentada pelo município reduziria em 40% o trânsito no Anel Rodoviário, via que representa um gargalo para Belo Horizonte e cidades do entorno. “Portanto, o Rodoanel Municipal não apenas soluciona o problema de Betim, mas da região metropolitana como um todo”, concluiu.
Para a superintendente de projetos públicos da Secretaria Municipal de Ordenamento Territorial e Habitação (Sorteh), Bárbara Gomes, a execução da supervia é necessária e urgente. “Nossa briga é pelo atendimento à população. Por isso, a gente frisa tanto a importância desse traçado. Hoje \[quinta-feira\], o senhor Vittorio apresentou a todos a solução para essa questão dentro do município de Betim”, ressaltou a superintendente.
Embora o governo de Minas tenha anunciado que o início das obras do Rodoanel Metropolitano esteja previsto para o fim deste ano, o traçado final da supervia segue sendo rechaçado pelas prefeituras das cidades que serão afetadas. O imbróglio começou há cerca de três anos, com Betim e Contagem liderando uma luta contra o Estado pelo traçado alternativo que propuseram, o qual atenderia às demandas das administrações municipais, além de ser mais viável financeira e ambientalmente.
Os principais questionamentos das cidades são em relação aos impactos sociais da obra do Estado, já que a construção passaria por áreas densamente povoadas nos dois municípios, além de cortar a área de preservação ambiental da Bacia de Várzea das Flores. Sem conseguirem um acordo, Vittorio e Marília Campos (PT), prefeita de Contagem, chegaram a acionar a Justiça contra o Estado.
Procurado nessa quinta, o Executivo contagense reiterou, em nota, que discorda do traçado do Rodoanel do Estado por ele cortar a Bacia de Várzea das Flores e segregar parte de seu território.
Vittorio Medioli frisou que o traçado de Betim resolverá também o problema de Contagem. “Nossa proposta tira 70% do trânsito pesado de Betim e alivia em cerca de 40% o trânsito pesado do Anel Rodoviário”, concluiu, ressaltando que o município é soberano: “O Estado não pode fazer nada na cidade sem a autorização do povo de Betim”.
O traçado do Rodoanel Municipal, apresentado pela Prefeitura de Betim nessa quinta-feira (26), receberá um investimento da ordem de R$ 380 milhões. Desse montante, R$ 100 milhões serão advindos de contrapartida, e os outros R$ 280 milhões, de financiamentos. Contrapondo-se à proposta apresentada pelo governo de Minas, o projeto betinense não afetará áreas densamente urbanizadas, resultando em menos desapropriações e, consequentemente, em uma economia de R$ 2,2 bilhões, conforme foi apontado pelos estudos realizados pelo município para a definição de um traçado próprio.
“O Estado já determinou a área de interesse e de desapropriação. Ela interfere em três grandes conjuntos habitacionais populares: o Celso Pedrosa, que seria desapropriado por inteiro; o José Gomes de Castro, no PTB, que perderia mais de 50% da sua área; e o Vila Verde, que tem cerca de 60 prédios com 20 apartamentos cada, impactando aproximadamente 1.200 famílias. Além disso, o traçado do Estado afetaria grandes empresas – a exemplo da japonesa Denso, que produz radiadores para o Brasil inteiro, e da Amazon – e centenas de pequenos negócios, que precisariam ser retirados. A loja da Leory Merlin, que nem foi inaugurada, teria que ser suspensa. Só a indenização desses empreendimentos é bilionária porque, se você retira do lugar uma empresa que é produtiva – ou seja, que gera receita e renda –, é obrigado a indenizá-la em todos os aspectos, não apenas no de edifício, de território, mas no do impacto econômico causado a todas as atividades dela”, destacou o prefeito Vittorio Medioli (sem partido) durante a apresentação do projeto para a cidade. “Pela proposta do Estado, o Rodoanel Metropolitano cortaria até parte do porto seco da Usifast. Com tanto terreno no município, eles têm que fazer isso?”, questionou.
Segundo a prefeitura, para se chegar a uma alternativa favorável ao município, visando à preservação ambiental e à manutenção das empresas instaladas no entorno da cidade, foram realizadas análises técnicas, de topografia, de transposição de barreiras físicas e naturais, como linhas férreas e cursos d’água, de indenizações por desapropriações e também de licenciamentos ambientais. “Ao contrário do traçado proposto pelo Estado, o nosso realmente faz um anel no município, margeando as vias sem tanta intervenção em empresas, escolas, na parte social e de infraestrutura dentro do município”, ressalta a superintendente de projetos públicos da Secretaria Municipal de Ordenamento Territorial e Habitação (Sorteh), Bárbara Gomes.
Além de preservar áreas ambientais, empresas e indústrias, o Rodoanel Municipal coincide parcialmente com a Via Icaivera, já em fase de execução, simplificando os processos de licenciamento e de estudos de impactos. A obra conecta importantes regiões da cidade até então isoladas e com acesso apenas por estrada de terra. Quando concluída, a Via Icaivera possibilitará que o trajeto hoje percorrido em 50 minutos seja feito em 15.