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Mulher vítima de violência tem proteção especial da PM em Betim

Companhia realiza, desde fevereiro, o acompanhamento dos casos após o registro da ocorrência, fazendo visitas domiciliares semanais às mulheres e aos autores das agressões

Publicado em 03 de dezembro de 2020 | 20:30

 
 
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Ao longo dos 14 anos de casamento, a salgadeira Rosângela Cristina, 40, foi refém dos maltratos do ex-marido, que a violentava constantemente de forma psicológica, moral e sexual. Nos últimos cinco anos, contudo, ele também passou a agredi-la fisicamente. Para tentar fugir da rotina de dor e sofrimento, a betinense chegou a fazer cinco denúncias contra o ex na polícia e possuía, inclusive, uma medida protetiva contra ele. No entanto, acreditando que ela ainda estava vulnerável mesmo após fazer as ocorrências, o homem voltava, e o ciclo de violência era retomado. A quebra só aconteceu quando a salgadeira descobriu que, em Betim, a Polícia Militar conta com um serviço de acompanhamento das mulheres que sofrem violência doméstica ou tentativa de feminicídio e que, somente entre janeiro e outubro deste ano, esses crimes fizeram 2.473 vítimas na cidade, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais. 

Em funcionamento desde fevereiro deste ano, a 2ª Companhia Independente de Prevenção à Violência Doméstica oferece um atendimento personalizado e humanizado a essas mulheres, acompanhando o caso após o registro de ocorrência, ao realizar visitas domiciliares semanais a elas e também aos autores das agressões. De lá para cá, já foram 5.275 patrulhamentos feitos, 590 vítimas atendidas e 18 prisões dos que descumpriram as medidas protetivas. 

“Uma equipe faz a triagem dos casos que precisam ser acompanhados e passa a realizar as visitas semanais às vítimas e aos autores da agressão. Priorizamos as situações em que elas sofrem violência de forma reincidente e em ocorrências mais graves. A guarnição vai até a casa dela, orienta sobre a Lei Maria da Penha e os tipos de violência que ela sofre e apresenta uma rede de apoio de diversos órgãos públicos, como o Ministério e a Defensoria Pública, o Tribunal de Justiça e a prefeitura. Já para o autor é esclarecido que, caso ele se aproxime ou volte a agredir a companheira, será punido. Esse acompanhamento só é encerrado quando a polícia percebe que houve a quebra do ciclo da violência e que a mulher não corre mais risco”, explicou a tenente-coronel Fabíola Gonçalves, comandante da 2ª Cia.

No caso de Rosângela Cristina, foi esse trabalho especial feito pela Polícia Militar que mudou a vida dela. “Com eles próximos, sei que a medida protetiva vai funcionar. Desde o dia em que passei a receber a visita dos militares, nunca mais meu ex me perturbou”, afirmou a salgadeira, que, além das agressões, chegou a ser ameaçada de morte pelo ex. “Ele me chamava de ‘prostituta’, ‘vagabunda’. Me dava socos, tapas e me obrigava a fazer sexo com ele. Uma vez, ele chegou a dizer que, se me visse saindo na rua, passaria com o carro por cima de mim. Fiz várias denúncias, e nunca resolveu nada. Tinha até perdido as esperanças. Agora, minha vida mudou”, desabafou. 

Acolhimento

Além desse serviço de acompanhamento da PM, em Betim, a prefeitura oferece, por meio do Centro de Referência de Atendimento à Mulher Janice Rosa de Oliveira (Cream), um trabalho de acolhimento, acompanhamento psicossocial e orientação jurídica às mulheres em situação de violência doméstica e familiar, que pode ser sexual, patrimonial, moral, física ou ainda psicológica. 

Localizada na rua Carandaí, 87, no bairro Chácara, a unidade, coordenada pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), também possui assistência às mulheres que sofrem assédio sexual, assédio moral ou foram vítimas de tráfico.

Já na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher em Betim, as vítimas de violência doméstica e tentativa de feminicídio recebem suporte psicológico, sendo acolhidas por uma assistente social ou por uma psicóloga, que avaliam se há necessidade de elas serem inseridas nos programas do Cream.

“A vítima é ouvida e, então, é instaurado o inquérito policial para a apuração dos fatos. Por isso, é importante que elas indiquem testemunhas ou forneçam outros elementos de prova, como exame de corpo de delito, mensagens, prints, fotos, áudios e filmagens das agressões sofridas”, disse a delegada Ariadne Coelho.